Antes de uma criança nascer, os receios de uma futura mãe são (praticamente) só dois: saber se está tudo bem com o bebé e como é que vai correr o parto. No entanto, depois do momento de dar à luz, muitas mulheres olham para trás e percebem que o mais complicado afinal não era o parto, mas sim os primeiros meses de vida de um recém-nascido e tudo o que isso envolve.

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Foi a pensar nisso que a terapeuta Magda Soares, especialista na Massagem do Bebé e Banho Shantala, criou o projeto Mães que apoiam Mães. "Esta é uma ideia que está na minha cabeça há muito tempo. Nos últimos tempos, quando vou a casa de pais para as massagens e contacto com recém-mães, senti que estas têm uma grande necessidade de fazer perguntas, partilhar experiências. Algumas mulheres querem apenas alguém que as oiça, querem ser escutadas", conta Magda Soares à MAGG.

Magda Soares
Magda Soares, terapeuta créditos: Instagram

O objetivo deste projeto, que a terapeuta explica estar ainda numa fase muito inicial e ter todo o potencial para "crescer de forma orgânica, conforme as necessidades e adesão das mães que fizerem parte deste espaço", é criar uma comunidade de mulheres onde estas possam esclarecer dúvidas, partilhar experiências, ter acesso a informações de especialistas através de diretos e participar em workshops sob temáticas relevantes no que diz respeito à chegada de um bebé.

"É verdade que, hoje em dia, há informação por todos os lados. Basta uma pesquisa no Google, um scroll no Instagram, e temos acesso a muita informação. Mas, por vezes, o difícil é selecionar essa mesma informação e saber qual é a mais credível", diz Magda Soares.

"Um dos objetivos do projeto é facilitar a vida às mães, dando acesso a experiências de outras mulheres na mesma situação, e a conversas com profissionais da área em determinados temas."

Mas é mais fácil recorrer a estranhos do que a amigos e família? "Aqui, as mães têm alguém que não as vai julgar"

Esta comunidade online, que arranca com um programa previsto a seis meses, tem em vista abordar vários temas relacionados com o pós-parto e os primeiros meses de vida do bebé. Entre os vários conteúdos já previstos, estão temáticas como amamentação e rede de apoio, sono do bebé ou regresso ao trabalho, entre outras, sendo que a base é fornecer, mês a mês, informação esclarecedora sobre estes desafios.

E desafio é mesmo a palavra de ordem nestes primeiros tempos na vida de uma recém-mãe, muitas vezes solitários, cheios de incertezas e até vergonha de assumir as dificuldades — algo a que Magda Soares quer pôr um fim com esta comunidade.

"Para muitas destas mães terem dicas de especialistas ou partilharem dicas, basicamente para existir um fluxo de informação, tem de existir um momento em que assumem que algo não está a correr tão bem. E muitas têm vergonha de assumir, perante amigos e família, que não estão a adorar esta fase, que estão com dificuldades, e acaba por ser muito mais fácil fazê-lo perante desconhecidos", refere a terapeuta. E tudo por causa dos julgamentos.

"Quando o fazemos com pessoas do nosso círculo próximo, há sempre alguém que julga ou que assume aquela postura de 'ah, deixa lá, isso passa', uma postura de desvalorizar. Aqui, as mães têm alguém que não as vai julgar, que vai ter um lado mais empático. Até temos os exemplos de alguns profissionais de saúde, obstetras e pediatras que nem sequer ouvem as questões destas mulheres. Aliás, quantas mulheres é que não entram em consultórios depois do bebé nascer e ouvem um 'então, mãe'? De repente já nem tens nome, és a mãe, é quase como se perdesses a tua identidade."

Com o Mães que apoiam Mães, Magda Soares quer criar um espaço para validar o que todas estas mulheres estão a sentir no período desafiante que são os primeiros meses da vida de uma criança. "Uma comunidade e um espaço de partilha sem julgamentos, acesso a informação, perceber que muitos dos desafios são perfeitamente normais."

Como é que a comunidade funciona?

Numa fase inicial do projeto, todos os meses é escolhido um tema que será o ponto de partida, e é à volta dessa mesma temática que vão realizar-se diretos via Zoom com especialistas (no mês da amamentação, janeiro, a profissional convidada é a consultora de amamentação Cristina Pincho) e com direito a um espaço final para tirar dúvidas, um workshop online sobre o mesmo tema e ainda um terceiro momento de partilha entre as mães e Magda Soares, numa ação de mediadora, numa sessão onde podem partilhar experiências, dicas e questões.

E porquê apenas um programa pensado a meio ano? "A ideia não está completamente fechada, e este projeto é algo que pode desenvolver-se com o tempo e conforme as necessidades das pessoas que se juntarem à comunidade. Resolvi lançar já e parar de esperar porque estava farta de ver nascer projetos com ideias de que até já me tinha lembrado, mas estava sempre à espera do momento perfeito", salienta Magda Soares.

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Assim, a terapeuta focou-se nos temas que considera serem os conteúdos mais relevantes para os primeiros tempos da vida de uma recém-mãe, mas já tem outros na calha. "Vamos ver como tudo se desenvolve, se faz sentido pensar num programa a um ano. Há outras temáticas que gostava de abordar, como o pré-parto, a gravidez, por exemplo."

Para juntar-se a esta comunidade, deve inscrever-se através de um formulário e existe um valor de inscrição de 20€ para um mês, 50€ para um trimestre (janeiro a março ou abril a junho), e 100€ para o semestre total, valor esse que Magda Soares considera "justo e acessível", e que vai permitir à terapeuta um investimento para futuros projetos similares.

Espreite a lista de temas.

Janeiro: Amamentação e Rede de Apoio
Fevereiro: Relação do Casal e Gestão de Expectativas
Março: Sono do Bebé e Privação do Sono
Abril: Cólicas e Banho Shantala
Maio: Choro do Bebé e Início da Dentição
Junho: Regresso ao Trabalho e Introdução Alimentar

Quanto à lógica de tudo funcionar online, Magda Soares refere que esta é uma forma de chegar a toda a gente. "Há muitas mães que não têm apoio da família direta, que estão fisicamente isoladas fora das grandes cidades e, às vezes, têm de fazer centenas de quilómetros para chegar a especialistas mais específicos. Assim, existe acesso a essa informação de uma forma simples", refere a terapeuta, que não deixa completamente de lado os eventos presenciais, se estes se justificarem.

"Se o projeto crescer e evoluir, e a comunidade assim o exigir, até posso pensar em fazer eventos anuais, em Lisboa e no Porto, para juntarmos todas as mulheres", conclui Magda Soares.