Já estamos em casa há algum tempo. O confinamento parece continuar a ser uma realidade, pelo menos, durante o próximo mês e, se há quem se queixe por passar os dias sozinho, há também quem não saiba, nem de perto nem de longe, o que é ter uma casa cheia de silêncio. Se, por um lado, ter companhia é bom, por outro, há que saber gerir o tempo e espaço da melhor forma possível para que dentro dos mesmos metros quadrados todos se possam entender e continuar a fazer as rotinas diárias.
Sílvia Reis e Carlos Casal sempre sonharam ter uma família numerosa. Houve até uma altura em que ter 12 filhos fazia parte dos planos — uma opção que foi posta de lado logo após o nascimento do primeiro—, começa por contar à MAGG a mulher da casa. A verdade é que não tiveram doze, mas já vão no quarto filho, tendo o último apenas quatro meses e nascido em "tempos diferentes".
Sílvia Reis e Carlos Casal são professores. Atualmente, apenas Carlos continua a trabalhar a tempo inteiro, tendo regressado às aulas online recentemente, como a maioria dos colegas de profissão. A pandemia e a gravidez fizeram com que Sílvia deixasse por uns tempos as explicações e as traduções que passou, há uns anos, a fazer como freelancer de modo a ter mais tempo para dedicar aos filhos. Numa casa onde vivem seis pessoas e onde todos contribuem para as tarefas diárias, há horários a cumprir.
Na casa desta família, o dia começa cedo. Por volta das oito da manhã, todos se levantam para tomar o pequeno-almoço sendo que o primeiro começa a ter atividades por volta das 8:45h. "Neste momento estamos a seguir os planos que são os horários deles. Nos primeiros 15 dias de confinamento fizemos uma espécie de horário por causa de termos algumas regras em casa de acordar, de fazer exercício físico, etc. Agora, com as aulas, tivemos de nos reorganizar todos novamente de modo a conseguirmos coordenar a escola, os momentos de silêncio e o trabalho entre todos", começa por explicar Sílvia.
Nesta casa barulho e animação é coisa que não falta pois, para além de serem seis, os três filhos mais velhos, Jaime, de 18 anos, Nicolau, de 12, e Carlos, de oito, frequentam o ensino articulado de música precisando de ensaiar, cada um o seu instrumento, ao longo de diferentes alturas do dia. Segundo Sílvia, o primeiro confinamento fez com que aprendessem que, por exemplo, um espaço para cada um era essencial. "No ano passado estávamos todos na sala, mas achámos que não estava a funcionar e, portanto, este ano cada um tem o seu espaço. Arranjámos o equipamento para cada um poder estar no quarto, no fim do dia volta tudo para a sala."
Vivem num apartamento e, para que todos os filhos conseguissem ter o seu espaço, o pai passou a trabalhar na marquise. "O meu marido tem uma capacidade de trabalho muito grande, eu acho que pode cair o mundo e ele consegue estar a trabalhar à vontade", revela Sílvia entre risos.
"O meu marido não me ajuda, o meu marido faz as mesmas coisas do que eu"
As refeições são sagradas e é à hora de almoço voltam a juntar-se todos à mesa. "Por volta da uma da tarde todos acabam as atividades, portanto almoçamos todos juntos. Depois, cada um volta novamente para o seu trabalho", explica. Sílvia considera que o ano letivo está melhor organizado relativamente ao ano passado, "o que quer dizer que eles têm atividades como se estivessem na escola mantendo assim esses horários".
Depois de ajudar o filho mais novo com os trabalhos da escola, todos se voltam a reunir à hora do lanche. "A partir do lanche temos um horário mais livre em que estamos em conjunto a ver televisão, a conversar, a fazer jogos ou a ajudar nos trabalhos de casa." Relativamente às tarefas, os esforços são feitos para que todos contribuam, mas Sílvia assume que "durante a semana é mais complicado". "Na primeira parte desde confinamento, em que não tinham aulas, aí toda a gente colaborava. Agora, desde que começámos outra vez as aulas, já não lhes pedimos a cooperação tão assídua", afirma.
Ao jantar a mesa volta a estar cheia. Sílvia costuma cozinhar deixando a tarefa da loiça para o marido visto que é algo que "detesta fazer". "Cá em casa os pais partilham tarefas, eu e o meu marido já há 21 anos que partilhamos tudo", faz questão de afirmar. "O meu marido não me ajuda, o meu marido faz as mesmas coisas do que eu", explica Sílvia entre risos.
Relativamente ao primeiro confinamento, Sílvia sente que o tempo está a ser melhor aproveitado e que está também a haver um maior equilíbrio quanto às regras e rotinas, mas, no entanto, há um desgaste maior. "Sinto que os meus filhos já estão muito mais cansados de estarem fechados. Nós estamos mesmo a fazer confinamento total. Para já, nem sequer há passeios higiénicos. Vivemos num prédio, numa zona com muita densidade populacional, por isso, optámos por ficar mais fechados, pelo menos, até os números descerem."
Quanto às compras, são feitas uma vez por semana e é o pai que costuma ir ao supermercado. Sílvia refere que ajuda ter sempre uma lista feita e assume que têm recorrido muito a encomendas online. "Uma vez por semana chegam cá a casa legumes e fruta e é uma grande ajuda", remata.