Um novo estudo, publicado esta segunda-feira, 21 de agosto, na revista científica JAMA Pediatrics, indica que o tempo de ecrã a que um bebé está sujeito pode ter influência nos desenvolvimentos da comunicação, motricidade, resolução de problemas e competências pessoais e sociais. Um bebé com 1 ano que tenha um tempo de ecrã compreendido entre uma a quatro horas tem maiores probabilidades de ter atrasos no desenvolvimentos dessas áreas.
A investigação foi realizada com uma amostra de 7.097 crianças. Jason Nagata, professor associado de pediatria da Universidade da Califórnia, em São Francisco, Estados Unidos, não esteve envolvido no estudo, mas considera-o bastante importante porque “tem uma dimensão de amostra muito grande de crianças que foram seguidas durante vários anos", pode ler-se na CNN Portugal.
Aponta ainda que esta nova conclusão consegue preencher “uma lacuna importante porque identifica atrasos específicos no desenvolvimento (em competências) como a comunicação e a resolução de problemas associados ao tempo de ecrã”, e que ainda não tinha existido um estudo que tivesse dados de tantos anos de acompanhamento.
Com o desenvolvimento da investigação foi possível ver que “aos 2 anos, as crianças que tinham passado até quatro horas de tempo de ecrã por dia tinham três vezes mais probabilidades de sofrer atrasos no desenvolvimento das capacidades de comunicação e de resolução de problemas”, refere a mesma publicação.
Já os que tinham passado quatro ou mais horas com ecrãs tinham 4,78 vezes mais probabilidades de ter capacidades de comunicação subdesenvolvidas, 1,74 vezes mais probabilidades de ter capacidades motoras finas inferiores, e duas vezes mais probabilidades de ter capacidades pessoais e sociais subdesenvolvidas aos 2 anos de idade. Aos 4 anos, o risco mantém-se apenas nas categorias de comunicação e resolução de problemas.
John Hutton, professor associado de pediatria geral e comunitária no Cincinnati Children's Hospital Medical Center, revela que estes atrasos no desenvolvimento das crianças podem surgir com o facto de as crianças serem privadas de motores para o desenvolvimento da linguagem.
Explica que os mais novos começam a falar porque são encorajados a fazê-lo, e se passarem muito tempo num ecrã “não têm oportunidade de praticar a fala", pois apesar de irem ouvindo muitas palavras, não estão a ter interação. "Além disso, (com) a visualização passiva de um ecrã que não tem uma componente interactiva ou física, é mais provável que as crianças sejam sedentárias e não consigam praticar as suas capacidades motoras", comentou Nagata.
Ainda assim, o estudo não tinha acesso ao que as crianças viam, nem se estas se encontravam sozinhas ou a ver o telemóvel/tablet acompanhadas dos pais, o que segundo especialistas também pode fazer a diferença e mitigar alguns dos efeitos negativos.