Com ou sem estrias, celulite, cicatrizes, sinais, marcas de nascença — todas cabem nas peças de swimwear da Misplaced. É que, como o nome indica, esta nova marca quer deslocar-se dos padrões impostos pela sociedade sobre o corpo, em particular o da mulher. Foi pensada para ser uma marca de biquínis, mas o primeiro produto a ser lançado foram as máscaras com padrões coloridos, porque a urgência de nos protegermos da pandemia assim o exigiu.

Contudo, Ana Rodrigues, 24 anos, licenciada em moda e designer de moda há cerca de quatro anos, queria mesmo chegar à marca que sempre idealizou. "A ideia da Misplaced já surgiu há alguns anos, mas na altura tinha outro nome e outro tipo de roupa. Tenho trabalhado com várias marcas de swimwear e ao longo da minha carreira profissional desenvolvi bastantes padrões. Então decidi juntar as duas coisas: swimwear e padrões", conta à MAGG.

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A COVID-19, ou melhor, o confinamento, deu-lhe o empurrão que faltava, e no início de agosto finalmente conseguiu lançar a Misplaced, tudo feito literalmente pelas próprias mãos, já que as peças de moda de banho são todas feitas por si. Mas Ana não está nisto sozinha. Carolina Galvão, 22 anos, licenciada em Audiovisual e Multimédia, é também fundadora do projeto, embora Carolina goste "de discordar e dizer o aposto", brinca Ana Rodrigues, porque para Carolina os créditos vão para a designer, embora Ana faça questão de ter a opinião da sócia em cada decisão.

Carolina Galvão ajuda na fotografia, redes sociais e "de vez enquanto faz de modelo", refere a designer de moda, acrescentando que Diana Almeida, 21 anos, também dá uma mão na fotografia e design. Ana e Carolina estão por detrás da Misplaced, e quem dá rosto e corpo à marca são amigas de ambas as fundadoras que se disponibilizam como modelos de corpos reais: "Elas têm sido uma grande ajuda para divulgar a marca e para fazer este projeto possível", diz Ana.

A Misplaced é assim um projeto feito por mulheres jovens e cheias de garra que não querem lançar só biquínis. Estes são apenas o pretexto para uma mensagem mais forte: a valorização do corpo da mulher.

"É uma marca que quer simplesmente que as mulheres se sintam bem com aquilo que estão a vestir sem sentirem que têm de seguir uma tendência específica para se 'enquadrarem na sociedade'. 'Misplaced' significa que algo está fora do contexto ou não está posicionado corretamente, mas para nós é quase como uma raridade, pois aquilo que é diferente é o que chama mais à atenção", refere Ana Rodrigues.

A fundadora admite que para uma marca de swimwear o mais apelativo seria ter modelos atléticas ou com corpos esguios, mas não é isso que quer para o seu projeto. "Nós queremos mostrar que só por termos mais barriga e não termos abdominais, ou termos ou não curvas, ou por sermos mais gordinhas ou mais magrinhas, todas podemos usar estas peças", diz.

Peça a peça, os modelos que encaixam em qualquer tipo de corpo

Antes de se lançar para o mercado a pensar em corpos reais, a Misplaced fez o próprio teste em "modelos" reais. "Todas estas peças foram experimentadas por quatro corpos de tamanho S, completamente diferentes uns dos outros: uns mais curvos, uns menos curvos, uns mais baixos e uns mais altos. Ficámos felizes com os resultados, não só pelo facto de nos apercebemos que o tamanho S serve em qualquer corpo desse mesmo tamanho, como pelo facto de nos sentirmos bem com as peças", conta Ana.

Se o objetivo da Misplaced é que os corpos do XS ao XL possam andar hoje pela praia sem preconceitos, as mulheres da antiguidade não ficam esquecidas. "Como temos todo este conceito da valorização do corpo da mulher e woman empowering, decidimos que todas as peças que criarmos terão o nome de mulheres, quer mitológicas, quer as que ficaram marcadas na história mundial", destaca a designer.

Juno, a rainha das deusas, é uma delas e está representada num fato de banho de costas abertas e alças ajustáveis. Já a Minerva, a deusa da sabedoria, patrocinadora das artes, do comércio e da estratégia, caracteriza-se pelas suas cuecas de cintura alta, é arrojada nas costas abertas, e tem ainda um top com forma rectangular. Quanto a Vénus, era a deusa da beleza e da prosperidade, tal como se deve sentir cada mulher ao vestir este biquíni com apenas uma alça no ombro direito.

Todos os modelos e padrões são, para já, feitos à mão e em casa de Ana. Contudo, o objetivo é produzir uma coleção limitada no futuro, numa fábrica cujo método de trabalho está alinhado com a sustentabilidade — outro dos conceitos da marca. É que apesar de as fundadoras da Misplaced querem produzir mais, a ideia é que a marca mantenha o cunho slow fashion.

"Queremos manter um corte simples nos modelos, alterando apenas cores e padrões de ano para ano. Queremos excluir aquela ideia de que por uma peça ser antiga já não a vamos usar mais", refere Ana.

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"No futuro não vamos querer lançar coleções com dez peças, por exemplo. No máximo quatro peças com duas cores, dois padrões e poucas quantidades", explica Ana, afirmando ainda que será uma espécie de coleção premium, o que torna os artigos quase exclusivos para um número limitado de pessoas.

Com dois conceitos fortes numa só marca, a sustentabilidade e a valorização do corpo da mulher andaram taco a taco no momento de idealizar a Misplaced, contudo, foi a mensagem sobre o corpo da mulher que nasceu primeiro. "Apesar de a sustentabilidade ser muito importante, principalmente na moda, infelizmente começar uma marca do zero 100% sustentável em termos financeiros é complicado", revela Ana Rodrigues.

Onde comprar?

Por agora a Misplaced é vendida apenas online, no site Etsy — uma plataforma de venda de produtos praticamente todos feitos à mão —, no entanto, não precisa de ter conta neste site.

Se não for dada a estas tecnologias, mas é craque no Instagram, também pode encomendar as peças sustentáveis e feitas para que todas as mulheres se sintam bem consigo próprias através desta rede social, bastando para isso mandar mensagem privada. Em breve será ainda lançado um site próprio da marca, onde já estará alojada a próxima coleção Misplaced.

Os biquínis e fatos de banho variam entre os 45€ e os 50€, sem esquecer as máscaras, com padrões iguais a alguns dos biquínis, que deram o arranque ao projeto e custam 7€.