Já lá vai mais de um mês desde que a L'Agence levou a cabo o primeiro casting do Go Top Model, o concurso desta emblemática agência de modelos portuguesa, cujo objetivo é procurar e, consequentemente, lançar novos rostos da moda em Portugal e levá-los além-fronteiras. Mas calma, porque vem aí mais um – e já não falta muito.

Depois de o primeiro se ter realizado no dia 2 de maio, o próximo está marcado para 4 de julho. Embora a data seja diferente, há coisas que não mudam. A começar pela a localização: no dia da prova, todos os caminhos vão voltar a dar ao sexto piso do El Corte Inglés, em Lisboa, das 10 às 18 horas.

Outra coisa que permanece imutável são os requisitos para participar. Podem tentar a sua sorte todos aqueles que tiverem idades compreendidas entre os 14 e 22 anos. Já a altura também deve ser tida em conta, já que a L'Agence está à procura de candidatos com, no mínimo, 1.80 metros, se estivermos a falar de rapazes, e de 1.70 metros, no caso das raparigas.

Depois de realizados os castings, serão serão selecionados dez rapazes e dez raparigas. Estes são os finalistas da competição e serão apresentados ao mercado no evento final do concurso. Depois disto, sairão dois vencedores da competição – embora, tal como referiu Elsa Gervásio em entrevista à MAGG, os restantes oito fiquem agenciados.

Já dentro da agência, é a equipa da mesma que vai gerindo a carreira dos novos rostos, que podem ter sucesso no âmbito da moda ou transitar para áreas como a publicidade ou até a representação. Afinal, a L'Agence tem departamentos dedicados a cada uma destas áreas – embora nem sempre tenha sido assim.

Em 1988, aquando do seu surgimento em Portugal, a agência de modelos focava-se maioritariamente na publicidade – só anos mais tarde é que a moda começou a ter uma maior expressão, fruto do crescimento deste segmento em Portugal. Quisemos entender o percurso feito pela agência no seio destas áreas e nada melhor do que falar com Olga Duarte para esse efeito.

A booker de modelos comerciais, que é também mãe da atriz Joana Duarte, está na L'Agence desde os primórdios da mesma. E embora tenha entrado na área por acaso, os 35 anos de carreira que leva às costas fazem dela uma das figuras incontornáveis deste negócio – e dão-lhe propriedade para falar sobre o passado, presente e futuro das áreas da publicidade e da moda em Portugal.

Leia a entrevista na íntegra.

Olga, já se passaram mais de três décadas desde que se estreou nesta área. Como é que veio aqui parar?

Comecei na área um bocado por acaso. Na altura, eu não trabalhava nada nesta área, só que entretanto a sócia da L'Agence, a minha amiga, a Isabel Castel-Branco, precisava de uma pessoa, porque a agência tinha aberto há uns meses. Ela achou que eu podia enquadrar-me no que eles pretendiam e entrei assim um bocadinho de olhos fechados, porque não conhecia nada nesta área.

Então, a Olga entrou mesmo nos primórdios da L'Agence.

Sim. A L'Agence abriu, salvo erro, em novembro de 1988 e eu entrei em setembro de 1989.

Sendo assim, acompanhou mesmo o crescimento da agência, que surgiu numa altura em que se procuravam muitos modelos para a publicidade – porque a moda em Portugal, nessa época, ainda não tinha muita expressão. Em que é sente que a L'Agence veio acrescentar ao mercado?

Na altura, havia muito poucas agências – para aí uma ou duas, talvez. Acho que a Perfil 35, salvo erro, penso que já existia. Na altura, a L'Agence tinha um bocadinho de tudo, embora mais focada, nessa altura, na publicidade, mas acabava por ter um bocadinho de tudo, uma vez que estava a iniciar o mercado das agências.

Nesse sentido, sente que ajudou um bocadinho na organização do mercado? Porque na altura ainda era muito desorganizado.

Um bocadinho. Era um trabalho muito mais direto com as produtoras e com os fotógrafos. Era tudo muito mais direto. Portanto, na altura, a L'Agence tinha todo um departamento de produção, incluindo maquilhadores, cabeleireiros. Portanto, tinha um bocadinho de tudo, era um serviço abrangente para todas as áreas.

Falando da publicidade, nessa altura, em que é que consistiam os trabalhos nessa área e o que é que a Olga fazia?

Nessa altura, a publicidade era mais para televisão e fotografia. Em relação ao trabalho, eu fazia um bocado do que faço agora. Fazia booking, só que era totalmente diferente. Para já, as coisas não eram informatizadas, portanto nós íamos com uma pasta aos clientes, mostrar as fotografias dos modelos, fazer a escolha e era totalmente diferente. Os castings eram feitos via telefone para 10, 15, 20, 30 pessoas. Era tudo muito mais trabalhoso, mais moroso. Aliás, ao longo destes anos foi evoluindo.

Olga Duarte
Olga Duarte Olga Duarte, booker da L'Agence. créditos: Paulo Gomes

E o que é que se procurava num modelo, nessa altura? Difere muito daquilo que se procura hoje em dia?

Era mais ou menos a mesma coisa que hoje. No fundo, as pessoas tinham que, para publicidade, ter acting, funcionar bem, serem caras novas. Portanto, desde o início que o cliente procura caras novas – há 30 anos atrás e agora, querem sempre caras novas e que sejam muito boas, que façam tudo e que ninguém as conheça. A esse nível, é mais ou menos a mesma coisa. Os produtos também são mais ou menos os mesmos. Por exemplo, agora há muitos anúncios de telecomunicações que na altura não existia, praticamente – mas é mais ou menos dentro do mesmo género. Agora há é muitos estrangeiros a virem fazer os trabalhos em Portugal, na altura era menos.

Aliás, a própria Elsa [Gervásio, diretora e sócia da L'Agence], diz que Portugal nunca foi um celeiro de modelos. Sente que isso tem mudado ao longo dos tempos? Sendo que a própria Olga diz que, atualmente, até há mais estrangeiros em Portugal.

Acho que cada vez mais vai havendo pessoas melhores. Nós também temos pessoas a trabalhar fora e isso acontece cada vez mais, até porque, hoje em dia, também os miúdos têm outra estrutura. Dá-me ideia que os miúdos antes eram mais baixos, agora são mais altos. E, lá está, com as novas tecnologias, as pessoas têm outra abertura, têm outros conhecimentos, portanto eu acho que hoje temos cada vez mais modelos bons portugueses, embora o nosso mercado seja pequeno e o estrangeiro tenha sempre muito mais oferta.

E não sente que, por sermos um mercado tão pequeno, isso acaba por nos atrasar em relação a outros países?

Acho que sim, porque com o conhecimento com a facilidade que há, de saber tudo o que se passa em todo o lado, acho que estamos igual. Não estamos de maneira nenhuma atrás dos estrangeiros. De qualquer das maneiras, podemos competir lá fora, como está a acontecer.

Entretanto, voltando atrás. Depois do foco da publicidade, dá-se aqui uma reviravolta e a moda começa a ser cada vez mais presente em Portugal. Quando é que se dá essa mudança na agência e qual é a Olga considera que é o catalisador da mesma?

Acho que é um processo natural. Entretanto, foram entrando outras pessoas para a agência – outros bookers – mais direcionadas para a moda. Portanto, a L'Agence abriu esse departamento mais em força e as coisas foram surgindo naturalmente, com a qualidade dos modelos que começaram a vir de moda. Foi avançando nessa área com as pessoas que íamos tendo e com as pessoas que vieram trabalhar cá, mais nessa área.

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E como é que foi mudar esse chip? Ou seja, de passar a estar tão focada na publicidade e passar a estar mais focada na moda? É que o mercado pede que em ambas as áreas haja perfis diferentes.

Eu sempre estive mais na área da publicidade, não tanto no departamento de moda. Mas acho que isso surgiu naturalmente, vai-se adaptando em função do mercado, do que é necessário.

Mas, ainda assim, o seu papel mudou em alguma coisa? Que retrospetiva é que faz destes 30 e poucos anos não só do seu papel, mas também da área?

É assim, no fundo, cada pessoa tem de trabalhar cada vez melhor, dar o seu melhor. A nível de características, no fundo, vão aparecendo pessoas novas, o mercado vai abrindo um leque maior. Tudo isso vai fluindo e as coisas vão acontecendo naturalmente, com trabalho, com profissionalismo.

Mas temos aqui o advento das tecnologias, que veio afetar essa naturalidade. Como é que sente que as tecnologias e as redes sociais vieram alterar a dinâmica de funcionamento da moda e da publicidade?

Sim, não tem nada a ver. Está tudo muito mais facilitado – a comunicação, a visualização, poderem escolher as pessoas mais em tempo recorde, embora antes fosse tudo muito em cima do acontecimento. Mas com as novas tecnologias é tudo muito mais rápido e mais fácil.

Em relação ao L'Agence Go Top Model, por exemplo, é um bocadinho ao contrário. Ou seja, a L'Agence não se aproveita das tecnologias, mas prefere continuar a apostar no concurso, reunindo os modelos nos castings presencialmente. Considera que continua a fazer sentido?

Sim, é uma maneira de ir vendo pessoas novas e de arranjar caras novas, embora o concurso seja mais focado na moda do que na publicidade. Mas sim, é uma maneira de arranjar pessoas novas, que é algo que o mercado também pretende sempre.

E se essa foi uma das mudanças dos últimos anos, que mudanças é que prevê para o futuro no âmbito da publicidade?

O digital está muito em força, parece-me que cada vez mais está mais forte. Acho que a tendência é sempre essa e espero que continue tudo dentro do melhor e a trabalhar na mesma, embora o digital tenha imensa força nesta área.