Quando disse ao meu pai que queria ser jornalista, ele revirou os olhos, levou as mãos à cabeça e baixou o rosto. “Tens a certeza?”, perguntou-me com a voz a falhar. Respondi-lhe que sim, mesmo não tendo certeza de nada. Ele continuou a olhar para o chão, claramente desiludido. Toda a minha vida o ouvi dizer que os jornalistas eram uns pulhas, uns mentirosos, uns interesseiros. Agora, a filha mais nova queria seguir exatamente o mesmo caminho. Mais valia ter-lhe dito que ia roubar um banco — teria ficado menos desiludido.
Apesar de o meu pai nunca ter superado a dor de ver a “pequenina” virar jornalista, e de ter inclusivamente ligado para o meu primeiro local de trabalho a dizer que os jornalistas daquela revista eram todos uns pulhas (se lerem esta crónica, desculpem; sim, era o meu pai), ele aprendeu a conviver com isso. Acima de tudo, aprendeu porque percebeu rapidamente que eu era feliz.
Só que está cada vez mais difícil fazer jornalismo — a competição está cada vez intensa, os jornalistas estão cada vez mais rivais. Tudo isto até poderia ser bom se não houvesse uma crise generalizada na área de que ninguém quer falar. Temos as redações reduzidas a níveis históricos, e uma classe a receber uma média de 600€. Em vez de nos unirmos, criticamo-nos mutuamente. Esticamos o pescoço para fora do computador assim que ouvimos falar mal de outro meio, criticámos à boca cheia as gralhas dos outros e regozijamo-nos com todas as fofocas — mesmo que venham de marcas e agências de comunicação que, como tão bem sabemos, têm interesses bem diferentes dos nossos.
Não são todos assim. Felizmente, um comentário negativo pode rapidamente tornar-se numa conversa magnífica, onde percebemos que do outro lado está alguém com as mesmas dúvidas, anseios e problemas que nós. Só que essas são as exceções e não a maioria. E isso é triste.
Mas não é por aqui que quero ir. Todas as áreas têm os seus problemas, e não quero aproveitar este espaço de opinião para divagar. Mas nós, jornalistas, temos de facto desafios, muitos desafios. E um deles é, sem dúvida, encontrar um equilíbrio entre quem somos e quem é o leitor.
A MAGG nasceu da vontade de mostrar que as mulheres não gostam só de shoppings de sapatos e de saber o que é que a Rita Pereira comeu ao almoço. Algumas também gostam, é verdade, mas gostam de muitas outras coisas. No fundo, elas leem as mesmas coisas que os homens, só que numa ordem diferente. Da entrevista ao ex-ministro da Educação saltam para o tal shopping de sapatos, mas logo a seguir têm todo o interesse em saber as últimas frases disparatadas do Bolsonaro ou de recordar a incrível história de Snu. Não somos umas tontas que só consomem “lixo”.
A nossa redação é composta maioritariamente por mulheres, todas muito diferentes umas das outras. Há quem saiba as últimas fofocas do social na ponta da língua e quem não seja capaz de identificar uma única celebridade. Há quem ame desporto e quem esteja a pagar uma mensalidade no ginásio para nunca lá pôr os pés — e ainda tenha o desplante de comer batatas fritas pelo menos três vezes por semana (está bem Fabíola, não são três vezes por semana. Mas não me faças falar da Coca-Cola).
Temos mulheres que amam artes, exposições, cinema, séries, da mesma forma que temos mulheres que passam o fim de semana nas compras ou que choram quando o Benfica perde. Umas são mães, outras têm 30 anos e parecem adolescentes. Somos todas diferentes, mas somos todas o exemplo da mulher moderna que acreditamos que está aí do outro lado — e que não poderia ser mais diferente do que a imprensa nacional tinha para lhe oferecer.
Esta é a nossa identidade. A MAGG tem tudo, tudo o que uma mulher quer ler. E a mulher não é a idiota que acredita que vai perder cinco quilos nunca semana só a comer bananas, ou que precisa de comprar aquele par de botas para conquistar um homem no primeiro encontro. A mulher quer informação relevante, fundamentada e fidedigna. Mas também quer saber de que forma a banana pode ou não ajudar na sua dieta e que botas giras andam por aí.
Nos últimos dias, fomos alvos de várias críticas. Um dos temas mais discutidos foi uma notícia sobre Cristina Ferreira, em que nos apercebemos que os seguidores da apresentadora estavam a criticar o último vestido usado no programa. Na dificuldade em distinguir opinião de informação, as pessoas acharam que aquela era a posição da MAGG. Não era. Na verdade, até gostámos do vestido. Mas havia de facto uma discussão nas redes sociais sobre o raio da roupa e, mais uma vez, somos uma revista que fala de tudo sem pudor, desde política até ao social. E falámos — numa componente única e exclusivamente noticiosa, nunca opinativa.
“Mas nunca deveriam ter falado”, disseram muitos. “Nunca deveriam ter dado voz a esse tipo de controvérsia”. Não digo que não. Mas fica cada vez mais difícil compreender essa linha ténue. Não fomos atrás dos números fáceis como muitos disseram — precisamos deles, claro, mas não somos obcecados por isso. No entanto, e agora falo apenas e só como jornalista, queremos ser lidos. Porque, se somos lidos, é sinal que acertámos junto do leitor. É sinal que lhe demos um conteúdo que ele tinha interesse em consumir.
“Mas ele consumiu porque lhe deram. Se só lhe derem conteúdos interessantes, ele só vai ler conteúdos interessantes”. Pois. Não tenho resposta para esse problema, da mesma forma como não sei quem é que nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. Sei que no dia dessa notícia, tivemos dois jornalistas um dia inteiro a trabalhar num único tema — algo inédito numa redação digital, acreditem. Sei que nesse dia demos conteúdos aprofundados, com entrevistas a especialistas, sobre temas pertinentes e importantes. Mas tudo o que caiu nas redes sociais da grande maioria das pessoas foi aquela notícia, porque foi ela que se tornou viral. E foi a que (quase) todos os leitores quiseram ler.
Estamos num momento de aprendizagem. Não é apenas a MAGG, é a comunicação social em geral, assim como os leitores. Como é que conseguimos perceber se falhámos por dar um conteúdo que as pessoas tiveram interesse em ler? Mas toda a gente sabe que o ser humano nem sempre tende para os melhores conteúdos. Não é o papel da comunicação social educar o leitor nesse sentido?
Ainda não chegámos a uma resposta sobre o ovo e a galinha do jornalismo, mas, da nossa parte, podem contar que havemos de chegar lá. É preciso incitar-se ao diálogo, e é esse o objetivo desta crónica. Falemos. Discutamos de forma saudável. Analisemos. Avaliemos. Ponderemos. Nós, redação da MAGG, jornalistas de todos os meios, leitores. Qual é o caminho a seguir?
Para aliviar um bocadinho o tom, peço-vos apenas que sejam um bocadinho construtivos. Tal como dizia no título desta crónica, os jornalistas são alvo de bullying constante. Alguns são engraçados, outros nem por isso. Nenhum deles ajuda neste caminho que gostaria que fosse traçado.
Ainda assim, sempre nos podemos rir todos um bocadinho. Estes foram os comentários mais engraçados que alguns jornalistas da MAGG receberam, aqui ou noutros sítios onde trabalharam. Atenção: contém (muita) linguagem ofensiva.
— “Sua porca degenerada”
— “Vai chupar um vibrador”
— “Já não consegui ler mais pois esse senhor com que falou é mais um charlatão frustrado (…) Bom trabalho para a próxima”
— “Ó sua primata ignorante (...) Antes de escrever estes disparates ofensivos para a Rainha de Inglaterra (e eu nem sou monárquico) e sobretudo PARA SI, porque mostram a sua IGNORÂNCIA, PRESUNÇÃO E IDIOTICE, ao menos pergunte a alguém com educação (e com alguma inteligência)!!!”
— “Esta senhora é uma puta que escreveu um artigo para outras putas para se sentir bem com o facto de ser uma puta”
— “Li a ‘entrevista’ que fez a Paula Bobone. É uma vergonha de falta de educação. Se não gosta dela, não a convidava”
— "Podiam ter arranjado uma jornalista mais gira"
— "Quero que tu e os teus filhos morram"
— "Tenho 43 ho filha da puta quem te mata sou eu corto te o pescoço e dou aos bichos"
Ameaças de morte e ofertas sexuais à parte, esta semana ficou marcada pela chegada de dois reality shows polémicos à SIC e TVI. Na opinião de Ricardo Martins Pereira, "Quem Quer Casar Com o Meu Filho" é uma merda — mas é uma merda perigosa. Patrícia Leandro foi analisar o caso da corrupção universitária nos Estados Unidos, que tem alguns contornos bizarros como manipulação de imagens ou falsificação de dados dos alunos.
Já Mariana Leão Costa teve uma semana em grande: depois de passar por Barcelona para conhecer a sede da Stradivarius, onde a magia acontece, ainda foi falar com Cindy Crawford em Lisboa. Já Ana Luísa Bernardino teve uma longa conversa com Marçal Grilo, ex-ministro da Educação, sobre as polémicas de género e o estado do ensino em Portugal. Catarina Ballestero olhou para a mudança de legislação em Itália, que passa a tornar a vacinação obrigatória para as crianças que querem frequentar a escola, e mostra-lhe como é que funciona em Portugal.
Mas há mais. Falámos com artistas portuguesas para perceber se existe de facto discriminação entre sexos, quisermos perceber porque é que os estudantes estão em greve e olhámos para as doenças mais raras (e estranhas) do sono no Dia Mundial do Sono.