As redes sociais mudaram a forma como os adultos se relacionam, mas alteraram, de forma mais preocupante, muitas das dinâmicas sociais das crianças e dos adolescentes. É cada vez mais comum encontrarmos miúdos com 8, 9 anos com canais no YouTube, páginas no Instagram, contas no Twitter ou a juntarem-se a redes sociais mais teen, como o Tik Tok. E isso tem um preço, um preço que não está definido, mas que muito provavelmente daqui a muitos anos chegará carregado de juros.

Até as coisas que achamos mais inocentes trazem, hoje, demasiados pontos de interrogação. Já é cada vez mais aceite que uma criança de 10 anos tenha o seu próprio telemóvel. São os pais, muitas vezes, que o impõem, por forma a poderem facilmente contactar com os filhos, é natural, ninguém tem o direito de o criticar ou julgar. Se o fazem é porque acreditam que é o melhor para a sua vida, e para os seus filhos. Só que não é só o ter telemóvel, é, à boleia disso, o ter WhatsApp, porque é esta rede social, ou de conversação direta, que os pais mais usam para falar com toda a gente, logo, com os filhos também. Certo, faz sentido.

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Só que será que a maioria dos pais conhece a dinâmica que existe hoje nos WhatsApp das crianças? Os grupos e sub-grupos em que os filhos estão inseridos? O tipo de conversas e material que é partilhado nesses mesmos grupos? O bullying digital que se faz entre colegas de turma, de escola, entre ciclos de amigos? Poucos pais estarão por dentro disto, acredito. Não porque não queiram saber, mas muitas vezes porque entendem que os miúdos têm direito à sua privacidade, ao seu espaço para as parvoíces da idade, e então deixam andar, e deixam andar, e acabam por passar ao lado de todo um submundo cada vez mais estranho, perigoso, desconhecido.

Rebentou esta sexta-feira a polémica relacionada com o Team Strada, uma agência que representa influenciadores sociais mais jovens, alguns menores, e que têm uma presença muito forte no Instagram, no Twitter, no YouTube ou no Tik Tok. O jornalista da MAGG Fábio Martins mostra melhor o que se passa neste artigo publicado esta sexta-feira. Sucintamente, o caso nasce de uma presença do líder e fundador do Team Strada, Hugo Strada, de 38 anos, no programa “Curto Circuíto”, na SIC Radical. As imagens captam um momento em que Hugo cumprimenta um dos influenciadores, Dumbo, com um beijo na boca. Foi o início de tudo. No Twitter, um conhecido youtuber, João Sousa, levantou uma série de suspeitas sobre o comportamento de Hugo Strada, apontando várias outras situações que considera dúbias na relação entre o agente e os influenciadores, com cenas de intimidade excessiva entre um homem de 38 anos e crianças menores. A partir daí, o caso escalou e vai acabar na Justiça.

A pergunta que não sai da cabeça de muita gente que contacta com este caso é: mas onde é que andam os pais destas crianças? Onde é que eles andam? Eles sabem o que os filhos andam a fazer? São eles próprios que alimentam esta relação na expetativa de os filhos virem a tornar-se estrelas do digital? Aceitam que os filhos se relacionem com o agente desta forma? E que essas imagens vão parar à internet? Ou não sabem de nada, porque não controlam, porque confiam? Ninguém sabe, porque ainda ninguém conseguiu ouvir os pais de algumas destas crianças, sobretudo as menores.

Mas não há qualquer resposta boa a esta pergunta. Se os pais sabem e acham isto tudo normal e aceitável, ou são ingénuos, ou confiam em demasiado nas pessoas, ou gostam de correr riscos. Até ao momento, não é conhecido nenhum crime de Hugo Strada, há apenas insinuações, denúncias tímidas, gente que começa a falar, mas só isso. É provável que nunca venha a saber-se nada de mais, e que isto morra tudo aqui, porque, até agora, o agente destes influenciadores não foi sequer acusado formalmente de nada, e pode não haver nada de o acusar. Mas um pai não precisa de saber de um crime contra o seu filho para agir. Basta-lhe uma situação que o deixe na dúvida, desconfortável, desconfiado. Mais nada. O que é que pode estar do outro lado que compense os riscos? Fama? Um dinheiro extra? O facto de o miúdo se sentir o máximo por ser uma estrela da internet e o mais popular lá do bairro? Não cabe aos miúdos decidir isso, cabe aos pais, pelo menos enquanto forem menores.

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Crescia a ouvir a frase “Enquanto estiveres debaixo deste teto, quem manda aqui somos nós”, diziam-me os meus pais e avós. Hoje, que também sou pai, percebo todo o sentido desta afirmação. Aos 15, 16, 17 anos nenhum miúdo tem a maturidade para decidir o que é melhor para si ou para a sua vida, embora não o perceba. Percebe-lo-á mais tarde, e, aí, provavelmente acontecer-lhe-á o mesmo que a mim, terá consciência de que os pais, afinal, tinham razão.

Creio que este caso Team Strada seja o princípio de algo que vai continuar a gerar polémica durante uns tempos. Que o mesmo sirva como mais um alerta para que os pais, de uma vez por todas, percebam a necessidade de não se deslumbrarem nesta coisa de os filhos serem umas estrelas do digital, e mantenham o seu papel vigilante, atento, porque é aos pais que cabe a responsabilidade de guiar o futuro dos filhos. Pelo menos enquanto eles viveram debaixo do mesmo teto que eles.

Esta semana, a jornalista Catarina Ballestero conta-nos três histórias de mulheres que foram criadas pelos avós. Foram eles que assumiram o papel de pais — pagaram estudos, ofereceram um teto e assumiram todas as responsabilidades enquanto educadores. Vale a pena ler. Já a consultora de lifestyle Fabíola Carlettis foi analisar o que dizem os estudos sobre o casamento, e descobriu 12 sinais de que a relação pode estar a caminho do fim.

Há mais. Uma leitora perguntou à psicóloga Sara Ferreira o que fazer, depois de ouvir a frase “Não estou pronto para uma relação séria”. De forma crua e direta, ela deixa-nos a sua opinião. E porque agosto está quase aí, também temos sugestões para as férias: encontrámos 25 voos para agosto com preços incríveis (começam nos 70€, ida e volta) e mostramos-lhe 14 escapadinhas de sonho para fazer este verão no Alentejo.

No campo da comida, os nossos jornalistas fartaram-se de experimentar coisas boas esta semana: a editora-executiva Marta Cerqueira esteve na Barra Japonesa do chef Kiko, que abriu dentro do Asiático, e foi conhecer o novo restaurante francês da cidade, o Tropismo. Mas temos outras sugestões, como o Frade ou o novo Fauna e Flora.

Até para a semana.