Esta semana, a jornalista Ana Luísa Bernardino desafiou-me a contar a minha história pessoal sobre assédio moral no trabalho. Ela sabia que eu tinha muito a dizer sobre o tema, e que poderia ajudar alguém que estivesse a passar por isso. Respondi-lhe que não o iria fazer, mas fiquei a pensar sobre o assunto.
Não vou falar sobre a minha história, mas vou falar sobre o que significa ser líder. E começo com uma má novidade para quem anseia chegar aqui: seja em que profissão for, é uma chatice do caraças.
Há dias em que parece que toda a gente tem um problema diferente, um drama pessoal qualquer, uma situação por resolver. Há dias em que parece que toda a gente tem os filhos doentes, precisa de entrar mais tarde ou sair mais cedo. E há dias em que tenho de levar com as trombas de A, o mau humor de B e a má vontade de C. Há dias em que ninguém está feliz com o que está a fazer, e ninguém quer estar ali. É verdade, há esses dias.
E é nesses dias em que me apetece dizer-lhes que me estou a cagar para os seus problemas. Que parem de se queixar e entreguem os artigos — rápido, depressa, não quero desculpas. Quero lá saber se os filhos estão doentes, se precisam de entrar mais tarde ou sair mais cedo. Não há revista sem jornalistas, é para isso que lhes pagam no final do mês. E não há cá não conseguir. Têm de conseguir, ponto final. Quanto às trombas, o mau humor e a má vontade, podem enfiá-los num sítio que eu cá sei.
Há dias em que me apetece dizer-lhes tudo isto porque sei que não peço impossíveis. Porque tenho uma visão global do mercado, das metas a cumprir, dos orçamentos — custos, perdas, ganhos, tudo o que é chato. O estado “emocional” deles pode pôr em causa a produtividade daquele dia. E se a produtividade é posta em causa, os nossos resultados não vão ser os melhores. E nós precisamos de resultados, da mesma forma que uma fábrica precisa de produzir e uma marca precisa de vender.
Mas depois há os outros dias. Os dias em que não preciso de pedir mais porque eles dão tudo o que têm e o que não têm. Os dias em que me emociono com os textos deles, ou me rio às gargalhadas. Os dias em que me pergunto como é que eles foram tão rápidos, como é que descobriram aquela história ou como é que são tão incríveis. Os dias em que tenho um orgulho neles que me faz querer dizer ao mundo que eles são os melhores. E que eu os adoro, do fundo do meu coração.
Esta semana, a jornalista Ana Luísa Bernardino conta-nos a história de três mulheres que sofreram de assédio moral no trabalho. Rita era obrigada a trabalhar horas a mais, Conceição viu a sua imagem denegrida e a Luísa chegaram a pedir que limpasse as sanitas. São histórias dramáticas mas, infelizmente, comuns nos dias que correm. Há pessoas que são naturalmente más, e sobre essas não posso dizer nada. Há pessoas que confundem as linhas e, perante um assédio sexual não correspondido, passam para o moral. Sobre essas também não posso dizer nada.
Mas depois há as outras, aquelas que simplesmente não sabem liderar. Que sucumbem ao stresse e desesperam com a pressão que lhes é imposta porque, bem, há sempre alguém acima de nós — nem que sejam as contas por pagar. Em vez de meterem a mão na massa e procurarem soluções criativas para o problema, exigem horas extra não pagas. Exigem que se trabalhe em prol da camisola — ah, a camisola. Está tão rasgada e suja essa camisola nos dias de hoje.
Sim, é verdade que há dias em que me apetece apertar o pescoço da minha equipa. Mas é nesses dias que tento perceber o que se passa. Se há alguma coisa que eu possa fazer, se podemos aliviar o trabalho de alguma forma. Tento motivá-los com os seus temas favoritos, ou peço-lhes com carinho um esforço extra naquele dia. Ou então mando-os embora. Se for possível, mando-os embora.
Eu não sou a melhor chefe do mundo. Caramba, estou mesmo muito longe disso. Há dias em que eu própria chego de trombas, respondo mal sem me aperceber e também não quero estar ali. Mas tento mostrar-lhes, todos os dias, que mais importante do que os números são eles. Eu não faço a revista sozinha, fazemo-la juntos. E os problemas deles são os meus — da mesma forma que os meus problemas são os deles.
Eles não são máquinas, são pessoas. E as pessoas não escrevem exatamente 50 mil caracteres todos os dias, da mesma forma que um empregado não vende exatamente 50 camisolas ou fecha contas com 50 clientes. E sim, há dias em que eu sei que eles estão a procrastinar no Facebook, ainda não desligaram o WhatsApp ou estão de cinco em cinco minutos a levantar-se para atender o telefone. E então? Está tudo bem, todos nós temos os nossos dias. Prefiro mil vezes perder um jornalista num dia do que perdê-lo para a vida. E perdê-lo para a vida demora menos do que um minuto. Reconquistá-lo, porém, levará muito tempo. Às vezes, demasiado tempo.
Chefias, não procurem máquinas, procurem aliados. Não sintam o sabor do poder a queimar-vos a boca, entendam que não são nada sem eles. Querem respeito? Respeitem. Querem que eles trabalhem? Trabalhem o dobro. Querem ser entendidos? Entendam. Querem um bom ambiente de trabalho? Fomentem-no. E, mais importante do que tudo, querem resultados? Sejam líderes e não ditadores. Da mesma forma que um dia têm os resultados que querem, no outro perdem-nos porque, um a um, as pessoas que vos davam esses resultados foram-se embora.
À minha equipa, o meu muito obrigada. Até mesmo nos dias maus vocês são os melhores do mundo.
Depois das histórias de quem sofre assédio moral, vale a pena conhecer os casos de quem recebeu um transplante. O que muda depois de receber o órgão de outra pessoa? Inês Ribeiro conta-nos tudo. Com o nascimento do mais recente membro da família real britânica, Mariana Leão Costa apresenta-nos as diferenças e semelhanças na apresentação do bebé e explica-nos o significado do nome escolhido, Archie.
Mas há mais. Muito se tem falado do copo de chá que apareceu no último episódio de "A Guerra dos Tronos", mas está longe de ter sido o primeiro erro da série. Recomendo ainda a leitura das 15 regras de etiqueta que provavelmente desconhece, apresentadas pelo especialista Vasco Ribeiro (algumas são mesmo surpreendentes), e as histórias de quem teve um cancro antes dos 20 anos. Sandro tinha 19 anos e descobriu que tinha leucemia depois de arrancar um dente do siso. Carolina tinha 17. São testemunhos impressionantes de quem se viu confrontado com a morte demasiado cedo.