O problema do COVID-19 é demasiado complexo para que se exijam soluções que são aparentemente demasiado simples. Nada é demasiado simples nisto tudo. Muito facilmente se cai no dilema da manta curta, porque para se tentar resolver um problema de um lado vai-se criar outro que pode ser ainda mais dramático. Em situações como a que vivemos, é fundamental que as entidades competentes ajam com velocidade, mas também procurando que as soluções não criem problemas mais graves do que o original.

Nenhum problema é mais grave do que a morte. Nada é mais importante do que a Saúde. Verdades incontestadas. E vivemos tempos em que a morte paira no ar, e que em causa está a nossa saúde, a de todos nós, a nossa, mas sobretudo a dos nossos pais, avós, que são eles as vítimas fáceis de uma pandemia como o coronavírus. E é daqui que tem de se partir: assegurar, de imediato, a sobrevivência, a proteção das pessoas, porque em primeira instância é essa a obrigação do nosso Estado, de quem nos governa e lidera.

Mas é por demais evidente que a consequência de paralisar um país por tempo indeterminado é a falência global da Economia, sobretudo uma economia como a nossa, assente ainda numa cultura de funcionalismo público mas cada vez mais com um tecido empresarial que é movido pelas micro, pequenas e médias empresas. E se os negócios destas empresas pararem de todo, como é que as mesmas terão capacidade de pagar os salários dos seus funcionários? Quantos milhares de pessoas vivem dos seus pequenos negócios, lojas, cafés, restaurantes, serviços, muitas delas em shoppings, em locais que deixaram de ter pessoas? Pessoas estas que dependem unicamente do que vendem ao público não só para sobreviver como para pagar os salários aos trabalhadores que dele dependem.

É muito fácil gritar já “feche-se tudo” e chamar gananciosos aos que insistem em manter os seus espaços abertos, ainda que limitando ao máximo os riscos para a saúde dos clientes. Só que ao fazerem isto os pequenos proprietários podem não estar a ser gananciosos, pelo contrário, podem estar unicamente a pensar em tentar conseguir faturar alguma coisa para, no fim do mês, conseguirem pagar os salários.

É por isso que é fundamental que o Governo anuncie rapidamente de que forma estas pequenas e médias empresas poderão ter acesso a fundos comunitários libertados para este efeito, de forma clara, pouco burocrática, e sobretudo rápida, porque não adianta de muito se estes processos ficarem atolados em esquemas de papeladas e autorizações que levem a que o dinheiro seja libertado lá para outubro. Os salários devem ser pagos daqui a duas semanas, não é daqui a seis meses. Há também ainda pouquíssima informação sobre os créditos disponíveis para apoiar estes negócios afetados pela pandemia. Quem os vai conceder? Em que condições? Quais os prazos de autorização? Uma vez mais: isto é para ser aprovado daqui a duas semanas ou daqui a seis meses?

Tão importante como sensibilizar a população para a necessidade de ficar em casa, é informar os gerentes de micro, pequenas e médias empresas das soluções ágeis que terão ao seu dispor para os ajudar, para que os mesmos sintam a confiança necessária para, de imediato, encerrarem as suas atividades, e enviarem os funcionários para casa.

A incerteza, aqui, gera dúvida, e na dúvida muita gente não arrisca, porque arriscar pode significar não ter dinheiro na mesa no final do mês. Nem para eles, nem para os seus funcionários.

Num momento em que se pede a toda a gente que não seja egoísta, que pense nos outros, na saúde dos outros, é também importante que não se seja egoísta e se pense no que significa, para centenas de milhares de portugueses, ter os seus negócios parados. É que os que hoje exigem que se pare tudo, que chamam irresponsáveis aos que ainda têm negócios a funcionar, são os mesmos que daqui a duas semanas vão estar a exigir o salário pago na íntegra.

Aqui não há bons e maus, mais e menos egoístas, há apenas os que só têm de pensar em si e na sua família, e os que têm de pensar em si, na sua família, mas também nos seus negócios e nos seus trabalhadores. Nem todos os donos de empresas são capitalistas que se passeiam de Porsche. A maioria, em Portugal, são cidadãos comuns que abriram o seu pequeno negócio, empregam duas ou três pessoas, e vivem sem ostentações, com aquilo que conseguem gerar. Não se meta tudo no mesmo saco.

Se há alguém a quem apontar o dedo e exigir soluções é ao governo. Soluções abrangentes, que ajudem a resolver o problema na sua dimensão humana, e isso significa resolvê-lo, também, na sua dimensão económica.