Sair do verão custa. Adiamos as trocas de roupa no armário, achamos sempre que aquela malhinha é suficiente, negamos por completo que aquele copo de fim de tarde vai ser cada vez mais raro e nem queremos acreditar quando o planeta nos diz que é noite ainda que, no relógio, não passem das cinco da tarde.
Daí ter escolhido a primeira noite de horário de inverno para dormir no Iberostar. Se é para sofrer, que seja em bom.
O hotel fica na Rua Castilho, em Lisboa, o que, segundo o Google Maps, equivale a uma distância de 27 minutos a pé, 13 de carro e a duas estações de metro de casa. E se nunca experimentaram sair de casa para ir dormir a um hotel na mesma cidade, aconselho a experiência. É quase como voltar aos tempos em que a imaginação ditava as brincadeiras e a minha mãe me preparava o lanche, eu punha num cestinho, dava duas voltas à casa como quem ia para muito longe, para depois me sentar à porta a comer o piquenique que, na minha cabeça, estava a acontecer algures numa floresta.
Aqui é quase o mesmo. Põe-se numa mochila uma muda de roupa, sai-se a pé, de carro ou transportes e, minutos depois, entramos numa dimensão que nos transporta algures para bem longe de Lisboa.
Estou a poucos metros do Marquês, mas nem uma buzina se ouve. Encaminham-me para o quarto, aquecido à temperatura ideal de um domingo em que o vento parece querer levar o verão consigo. A cama é gigante, há almofadas para todos os gostos, até para o meu que é basicamente aquela que, de tão fina, pode quase não existir.
A casa de banho é envidraçada como agora é costume, mas esta ainda guarda alguma privacidade para aquilo que nem com o namorado (especialmente com o namorado) queremos partilhar.
Ainda a abrir e fechar gavetas, a cheirar cremes e champôs e a testar o colchão percebemos duas falhas: as janelas são envidraçadas mas impossíveis de abrir e a casa de banho não tem banheira, apenas chuveiro, o que limita a tradição dondoca que tenho de usufruir das banheiras dos hotéis como se em casa tomasse banho num balde.
Mas, por um lado, ainda bem, que o que o planeta precisa é de banhos rápidos e o Iberostar pensa nisso tudo. São vários os alertas ambientais pelo hotel, a dar conta de que, além de terem já eliminado o uso de palhinhas de plástico em toda a cadeia, a equipa juntou-se no verão para a limpeza de praias e este ano vão eliminar mais de 200 toneladas de plástico, através da substituição dos produtos de plástico descartáveis por alternativas de vidro e do redesign das amenities e acessórios, como canetas e lápis.
É assim de consciência mais tranquila que desço até ao spa, onde não falta água quente para substituir o meu banho de imersão no quarto. Na zona de relaxamento há duches sensoriais com jatos alternados de água fria e quente, piscina aquecida, sauna e banho de vapor. A completar este circuito de bem estar está o menu das massagens. São tantas que preferi deixar-me nas mãos de quem sabe e essas mãos, oh meus amigos, sabem muito.
A massagem de aromoterapia deixou-me num estado em que, podia acabar o mundo e eu estaria ainda a perceber o que era o mundo. Incrível.
Massagem check, noite bem dormida mais do que check. Afinal, num total 166 quartos, todos, apesar de terem diferentes categorias, pretendem ser uma referência de luxo. E se é de luxo que falamos, há que espreitar a suite Marquês de Pombal.
Com 118 metros quadrados, pé direito alto e rodeada de janelas do chão ao teto, era o T0 que eu gostava que aparecesse no OLX a 500 euros. Mas como isso não vai acontecer, aproveitemos ao máximo a experiência, que está quase na hora do check out.
Vou para o pequeno-almoço com as expetativas altas. Afinal, na noite anterior, o jantar no restaurante panorâmico Luz tinha contribuído e bem para as minhas oito horas de sono sagradas.
Só no couvert, fiquei rendida. Chegam à mesa ainda a estalar de quente, três tipos de pão: azeitona, cebola e sementes, muito bem casados com duas manteigas aromatizadas, uma de marisco e ananás e outra de caril vermelho. Parece estranho, eu sei, mas por mim ficava feliz se me dissessem que o jantar ficava por ali. Mas não ficou. Seguiu-se uma sopa de peixe e uma garoupa com camarão tigre e molho de caldeirada. 'Tá feito. Xixi, cama.
O amanhecer continuou com qualidade. Se comesse um item de cada do buffet de pequeno-almoço, acho que ainda por lá andava. Há bolos, vários tipos de pão, charcutaria e queijo sem fim, compotas e manteigas, Fruta laminada, fruta em salada e fruta em sumo. Salmão e atum fumado, saladas e ovos feitos em todos os formatos. Impossível não destacar ainda o cuidado com a secção alternativa, onde há pão e doces sem glúten, devidamente embalados, doces sem açúcar, nutella caseira, e, algo nunca visto — pelo menos por mim, num pequeno almoço de hotel convencional — queijos veganos.
E quando pensava que poder barrar uma fatia de pão quentinho com queijos de origem vegetal já tinham feito o meu dia, reparo que, tal como eu, também António Fagundes tinha escolhido o Iberostar para dormir essa noite. Essa e todas as que ficou em Lisboa com a equipa que pôs em cena a peça "Baixa Terapia", cuja última sessão tinha sido na noite anterior.
Despede-se de todos com beijinhos e obrigados e eu, que só lá estive uma noite, fico com vontade de fazer o mesmo. Mas controlo-me e penso que, apesar daquele T0 no centro de Lisboa não estar para arrendar, posso sempre ir espreitá-lo para uma massagem, um jantar ou até um sprunch, a nova modalidade do hotel que une a experiência de spa à de brunch. Sempre aos domingos, com direito a juntar num dia duas expressões mágicas: 'circuito de águas' e 'ovos benedict'.