Os leitores perguntam, a psicóloga Sara Ferreira responde. É assim todas as semanas a partir desta quarta-feira, 17 de abril. Saúde, amor, sexo, carreira, filhos. Seja qual for o tema, a nossa especialista sabe como ajudar. Para enviar as suas perguntas, procure-nos nos Stories do Instagram da MAGG.

Cara leitora,

Um bloqueio mental é algo – uhm... como dizer? – com o seu quê de enredado, porque é como se fosse, literalmente, uma prisão dentro da própria mente (que às vezes nos mente!). E coloca-nos aquém de alcançarmos o nosso verdadeiro potencial.

Bem, mas antes de tudo, o que vem a ser isso do “bloqueio mental”, perguntará o utilizador atento e curioso em saber mais acerca das traquinices da nossa mente. É o seguinte. Os “bloqueios mentais” são uma espécie de freio sobre os nossos processos mentais que têm a particularidade de serem, de facto, bem “chatinhos” na nossa vida porque simplesmente (ou complicadamente?) nos impedem de ter uma resposta rápida, adequada e eficaz em face a uma atividade ou situação. E na maioria das vezes, adivinhe onde é que os bloqueios mentais fazem questão de dar o “ar da sua graça”? Pois é, em momentos ou tarefas (ou trabalhos) importantes… Precisamente.

E o mais impertinente é que quando isso acontece, tendemos a sentir desamparo, frustração, culpa, raiva e, como se não bastasse, tudo isto se faz acompanhar ainda de doses consideráveis de ansiedade e tristeza por não termos conseguido agir adequadamente em algum momento específico. Diz-lhe algo?

A primeira coisa que temos de perceber é que para cada “bloqueio mental” existe um correspondente bloqueio emocional. E isto porquê? Porque são as emoções que controlam o nosso pensamento, principalmente em situações de maior tensão ou stresse, como são tendencialmente todas as situações onde acontece um bloqueio mental.

Mas vamos por partes. Goste-se ou não, as emoções estão presentes em todos os momentos (e movimentos) da vida. Todas as ações e decisões são impulsionadas pela razão e pelas emoções, que começam a ser registadas desde o instante da nossa conceção e são desenvolvidas ao longo de toda a vida. Isto significa que muitas coisas (aliás, a maioria das coisas) que fazemos ou deixamos de fazer na nossa vida são grandemente influenciadas por toda uma estrutura mental que tem que ver com as áreas ligadas às emoções primárias, no nosso cérebro, como a amígdala e o sistema límbico.

Isto precede as áreas mais ligadas à racionalidade, em termos de evolução da nossa “massa cinzenta” e da forma como nos desenvolvemos psicologicamente. Por outras palavras, a parte emocional comanda a racional, e tanto mais assim é quanto menos consciência disso tivermos. Isto equivale a dizer também que existem “certos e determinados” padrões de pensar ou sentir que ao longo da vida fomos “instalando” no nosso sistema operacional (mente e emoções) que na verdade agem mais sobre nós do que nós sobre eles. Traduzindo em miúdos: a nossa vida pode ser negativamente condicionada por muitas das coisas com que nos preocupamos ou temos medo.

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O bloqueio mental é assim consequência de um bloqueio emocional. E isso serve para quê? Como um mecanismo de defesa no qual o inconsciente de alguma forma procura “proteger-nos”, ocultando memórias de dor para evitar algum tipo de sofrimento associado à realização de determinada ação ou atividade, como seja “um trabalho importante”, tal como refere. Quando isso acontece, entretanto, a situação dolorosa não deixa de existir. Não. Ela “simplesmente” passa a manifestar-se de maneira inconsciente, ou seja, velada (sem que tenhamos consciência clara do que é), refletindo-se negativamente na sua vida sem que se aperceba.

Mas note. Não adianta “culpar” o seu inconsciente dos aborrecimentos que ele executa através deste sintoma “bloqueio mental que impede a realização de um trabalho importante” (sim, isto é “só” um sintoma que sinaliza a ocorrência de algum tipo de dinâmica emocional mais profunda dentro de si geradora de conflito psicológico). Na verdade é você mesma que atua contra si, neste aspeto. Mas a boa notícia é que se foi a caríssima leitora a “fazer” este bloqueio, também será você mesma quem poderá “desfazê-lo” por completo. Mas já lá vamos.

Há sempre uma razão para um bloqueio. Consegue identificar qual é a sua?

Por agora, vale a pena reforçar o facto de que um “bloqueio” mental ocorre devido a um bloqueio emocional primário, no qual certas emoções reprimidas e bloqueadas (vá-se lá saber quais… e assim de repente, não me peça para adivinhar, que a esta distância não leio pensamentos!) são percebidas como um corpo estranho pelo organismo (cérebro e corpo), transformando-se em bloqueios ou padrões limitantes que podem comprometer seriamente o sucesso em algum sector da vida (no seu caso, no trabalho, pelo menos).

Aqui a grande questão é: “Mas e porque razão ajo eu de maneiras que não são saudáveis ou benéficas para mim mesma?”. Pois é, isso também eu gostaria de saber. O que lhe posso assegurar é que tal seguramente terá mais que ver com algo sobre o qual a prezada leitora ainda não terá muita clareza (consciência) sobre, uma vez que parece ser um comportamento que (ainda) a controla a si (e não vice-versa). Normalmente, este tipo de comportamentos (originados pelas tais emoções ou sentimentos inconscientes) têm origem lá atrás, no que de alguma forma registámos ou aprendemos na nossa infância e adolescência.

A sua vida pode estar a ser negativamente condicionada por muitas coisas que, no fundo, no fundo, lhe causam ansiedade ou angústia. Vou dar-lhe alguns exemplos para ser mais clara. Ser amada ou rejeitada, ser ouvida ou ignorada, ser bem-sucedida ou fracassada, feliz ou infeliz, viver de acordo com as expectativas dos outros ou pelas próprias, em conformidade com a cultura em que vivemos ou viver de acordo com os seus valores próprios. Você pode ainda evitar cumprir com algum “trabalho importante” ou dever por causa de um medo de rejeição, ou de avaliação; pode evitar colocar nesse trabalho a sua contribuição por ter sido repetidamente repreendida ou ser portadora de um ressentimento em relação à autoridade; ou esforçar-se constantemente para agradar aos outros, em vez de satisfazer as suas próprias necessidades, ou vontades próprias; ou ainda pode estar a ficar “paralisada” por uma busca perfeccionista. São só alguns exemplos do que é que a mente é capaz de engendrar para a impedir de contactar com algum tipo de dor ou bloqueio (emocional).

Assim, quando uma pessoa segue o seu percurso de vida presa a aprendizagens e experiências que impedem um desenvolvimento de vida saudável, podemos dizer que foram criados os “obstáculos/bloqueios mentais” que estão a sabotar (ou seja, a impedir, como disse e muito bem) o seu progresso ou a sua qualidade de vida. Essas barreiras que uma pessoa não tem consciência que possui vão executando um processo de autossabotagem a alguns dos seus objetivos, afetando negativamente o bem-estar e promovendo a dor emocional, num ciclo que se retroalimenta (mais ou menos desta maneira: “não faço porque fujo da dor mas ao fugir da dor depois sinto-me mal e por sentir-me mal volto a não fazer e por aí fora”), num ciclo vicioso (e viciado).

O bloqueio mental fará as nossas piores emoções e sentimentos aflorarem, e eles irão bloquear-nos mentalmente ainda mais, impedindo-nos de avançar. E se esse tipo de bloqueio estiver enraizado em algum significado psicológico mais profundo negativo (ligado à concretização de um “trabalho importante”), então seguramente está criada a fórmula 100% eficaz para o trabalho importante não “rolar”. Inconscientemente, através da autossabotagem (manifestada no sintoma do “bloqueio mental”), e conscientemente através do que agora talvez, quem sabe, poderá descobrir a esse respeito.

Procure então explorar (recomendavelmente, com o apoio adequado) o que a deixa insegura em relação a um “trabalho importante”? Que tipo de emoção, desencadeada por algum sentimento de desconforto, faz com que a sua mente bloqueie? Existem outros motivos para que isso aconteça ou com os quais o seu “bloqueio mental” esteja correlacionado? Por exemplo, estar a trabalhar sob pressão, esgotamento físico e mental, stress, ansiedade ou medo de experimentar (e falhar em) algo novo? Mais alguma coisa ao seu redor está a favorecer isso? Toca a investigar!

Se por um lado parece haver um “ganho” imediato para o seu sistema em afastá-la da situação ou atividade geradora de desconforto e desprazer (por motivos que importaria realmente desvendar), o problema é que esta gratificação tem perna curta, e logo após instala-se o “prejuízo” pessoal e profissional que esta fuga acarreta, com consequências a curto, médio e longo prazos negativas para si. Sim, porque quando falamos em bloqueio mental a lógica é a mesma, uma vez que ao sucumbir a ele, deixamos de viver experiências e crescimentos importantes na nossa trajetória (seja em que área for) e criamos barreiras inconscientes que impedem de crescer no trabalho ou na vida.

Além disso, se logo após a decorrência de um bloqueio ou de vários bloqueios mentais, nos paralisamos, acabamos por pagar ainda uma outra (e pesada) fatura, que é a da auto-depreciação, tornando-nos pessoas com baixa auto-estima, sem auto-confiança e que não confiam no seu próprio poder pessoal.

A psicologia, com todos os seus conhecimentos, técnicas e ferramentas, é uma poderosa aliada de todas as pessoas que desejam descobrir os motivos que as levam a prejudicarem-se a si mesmas, através de comportamentos autossabotadores (ou mesmo auto-lesivos, ou outros) para assim finalmente poderem desbloquear o seu potencial e alavancar os seus resultados em todos os sentidos. O desenvolvimento passa pela permissão que o indivíduo se dá de vivenciar novas experiências e eliminar os comportamentos e crenças que estão na origem do auto-boicote do seu próprio sucesso.

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Para o “bem” ou para o “mal”, eis um facto da vida: tudo está na mente, pois tanto os bons como os maus resultados são reflexo da forma como cada um de nós constrói a sua realidade. Quando acreditamos que somos capazes, merecedores, dignos, inteligentes, por exemplo, geralmente trabalhamos motivados por estas crenças positivas, e conquistamos êxito nas nossas ações, realizamos os nossos sonhos e valorizamo-nos.

O que um bom psicólogo faz consigo (e não “por si”) é trabalhar no sentido de identificar quais são estes bloqueadores, quais as suas origens e como afectam o factor emocional e comportamental, manifesto no seu sintoma. A partir daí, atua-se eliminando estas componentes e desenvolvendo novos comportamentos e pensamentos, mais produtivos, que a levem a conseguir, definitivamente, vencer os seus bloqueios e ter uma vida mais saudável, positiva e com os resultados que deseja.

Toda gente já se sentiu aflita e bloqueada para realizar uma tarefa simples ou complexa na vida quotidiana. Fora as vezes que nos antecipámos a problemas que nunca aconteceram realmente.

Sim, pode parecer estranho, mas você é a melhor versão que podia ser até ao momento, dentro das condições possíveis. Os seus medos, angústias ou bloqueios são “travões de segurança” que funcionaram durante muito tempo para que seguisse a operar de uma maneira relativamente enxuta. E já que falamos em “bloqueios no trabalho”, é como se fosse uma empresa que aperta os cintos e contém os seus gastos, corta o pessoal e passa a gastar o mínimo possível e a produzir no limiar da não-exaustão.

O problema é que às vezes o sistema não interpreta, à luz da atualidade, e com precisão, se as condições já mudaram e se seria possível libertar a engrenagem a plenos pulmões.

O meu trabalho como psicóloga cinge-se a estimular áreas subutilizadas do sistema e ajudar a pessoa a chegar à excelência dentro de sua estrutura psicológica. Desenvolve-se a consciência emocional, aprofunda-se o conhecimento individual sobre as suas emoções e história de vida. A partir daqui é possível trabalhar todos os traumas e ressignificar cada um deles até que os bloqueios se dissolvam.

Até para a semana!