Ir ao supermercado já foi uma coisa simples. Lembro-me de chegar, pegar no pacote de arroz, dirigir-me à caixa, ouvir o funcionário dizer "89 cêntimos", dar o dinheiro, receber um cêntimo de troco e sair com ar de missão cumprida. Agora não. Cada vez que me dirijo à máquina registadora, respiro fundo e preparo-me para um pequeno momento de quiz. "Quer fatura com contribuinte?", "Tem cartão cliente?", "Quer descontar?", "Está a fazer a coleção dos peluches?". Quando o nosso cérebro já fez zig zag entre o sim e o não, vem a derradeira: "Vai querer saco?".
Com exceção à pergunta sobre o cartão cliente — quem me conhece sabe que sou uma extreme couponing em ascensão — a resposta é automaticamente não. Pronto, é certo que também já fiz uma coleção de legumes de peluche e até outra de comida em miniatura, mas agora que vivo num pequeno T1 não quero nada que seja inútil, menos ainda sacos de plástico.
Quando ainda pouco se ouvia falar sobre as alternativas aos sacos reutilizáveis, decidi começar a dar uso aos tote bags que, qual epidemia, passaram a fazer parte de qualquer press kit que chega às mãos dos jornalistas. Além de evitar o plástico, é sempre possível levar mais peso ao ombro do que em mãos — quem nunca ficou com os dedos perto da gangrena quando se lembra de ir a pé comprar detergentes ou uma paletes de leite? Eu já, e não é fixe.
Depois de perceber que era fácil contornar a questão dos sacos maiores, apercebi-me da parvoíce que era usar um daqueles transparentes para cada legume que queria pôr na sopa. Foi aí que encontrei esta página de Facebook, na qual Vera, a autora, punha à venda produtos que eu na altura nunca tinha concebido. Pensos higiénicos reutilizáveis, discos desmaquilhantes de pano e sacos de rede para ir ao supermercado. Para não acharem que ando aqui a dormir, falo de uma altura em que bambu era para os pandas, não para as escovas de dentes.
Comprei o meu kit de quatro saquinhos de rede e fui ao Continente, assim à campeã. Na zona da fruta, comecei a enchê-los com laranjas e maçãs e foi aí que percebi os olhares. Houve quem apontasse para o que eu fazia, acompanhado daquele olhar difícil de traduzir. Eu quero acreditar em admiração, mas acho que a coisa tende para a crítica.
Na caixa, percebi que a funcionária nunca tinha visto algo do género e, num revirar de olhos, criticou o facto de a rede não ser boa para colar as etiquetas com os preços. Não pedi desculpa, era o que faltava. Respondi com um "pois", paguei, usei o cartão cliente — óbvio — e vim-me embora com a sensação de que marquei a diferença. Nem que essa diferença tenha ficado naqueles três metros quadrados da zona das frutas do Continente do Estefânia.
A partir daí os olhares passaram a ser mais raros e sempre que encontrava alguém a fazer o mesmo, sorríamos, de sacos reutilizáveis na mão e aquele ar de quem respira de alívio por já não estar sozinha no mundo.
Aos poucos, os saquinhos passaram a estar à venda fora do Facebook, primeiro nas lojas a granel e, agora, até no Continente, palco do meu primeiro desafio, que tem à venda sacos reutilizáveis feitos de poliéster.
Claro que já me esqueci de levar os sacos de casa e já meti cenouras e curgetes na mala. Também já equilibrei compras nos braços naqueles dias em que "ia mesmo só comprar um pacote de bolachas". E também já tive que usar um saco de plástico, não me censurem. Mas, nesse caso, peso tudo em separado sem sacos, apresento os talões e, só depois de tudo pago, ponho no mesmo saco, de preferência dos transparentes mais pequenos que, além de grátis, servem na perfeição para congelar fatias de pão e, em fim de vida, para levar o cocó do gato ao lixo.
Por isso, meus caros, escolhi para nome desta crónica — na qual me proponho a falar semanalmente sobre sustentabilidade — a pergunta que não quer calar: "Vai querer saco?". Claro que não, mas pode descontar o que tenho em cartão se faz favor.