Depois de tanta crónica a dar-vos na cabeça para reciclarem e não porem a fruta em sacos de plástico quando vão ao supermercado, era o que mais faltava agora ir pelo caminho fácil, não é?

É que mal anunciei ao (meu) mundo que estava aí a chegar um Zé, além de muitas palavras bonitas, recebi também muitas pressõezinhas em forma de frases como “vem aí mais um eco baby”. Pronto, lixei-me. Agora tenho que estar atenta à PIDE da sustentabilidade sempre à espera de me ver sacar de uma Dodot.

Mas, para já, as minhas hormonas minimamente controladas garantem-vos que não. Estou forte na decisão de, para o lixo, só mandar cocó. Vai daí, decidi entrar no fabuloso mundo das fraldas reutilizáveis. E que mundo, amigos, que mundo.

Não se deixem enganar por aqueles rabos fofos, com padrões de girafas, macacos ou balões. Por detrás disso tudo está aquilo que, para mim, é, para já, ficção científica.

Pesquisei sites e páginas de Instagram, meti-me em grupos de Facebook, pedi conselhos a amigas e até me inscrevi num workshop. E foi aí que percebi que, ao contrário dos rabos que nasceram até à década de 90, aqui não basta um pano branco e dois alfinetes.

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Analisem comigo esta mensagem que recebi de uma pessoa que me quer vender um Pack de fraldas reutilizáveis. “Tenho 9 fraldas pop-in, tamanho único, completas + 1 soaker and booster extra + 6 night time boosters + 1 embalagem de 160 liners por abrir. Depois tenho 2 fraldas Misolo tamanho único da Bambino Mio + 1 Mioboost”. Say what?!

Eu passei a Semiótica e safo-me em qualquer cidade apenas com um mapa na mão, mas percebi que o meu cérebro não está formatado para dobrar estes panos. É que este dialeto desconhecido continua. Então, as fraldas podem tudo em 1, pré-dobradas, de contorno ou ajustadas com capa. Depois há que pôr absorventes que podem de cânhamo, microfibra, bambu. O cânhamo tem mais capacidade de absorver, mas absorve de forma mais lenta e a micro fibra não pode estar em contacto com a pele do bebé. Deve ser feita uma pré-lavagem, o detergente não pode ter sabão para não entupir o tecido, não se pode usar amaciador e nunca, mas nunca pôr de molho (isto se não quisermos manchas amarelas a lembrar que ali jaz um bolo alimentar).

Fraldas Reutilizáveis
Lavar, secar, montar, sujar. É neste repeat que vai ser o meu 2021. créditos: @Bambino Mio Instagram

Cansados? Eu também, e isto tudo com a criança ainda a boiar em líquido amniótico.

Mas não desisto, até porque se não for pelo ambiente, é pela carteira. Preparados para fazer contas? Tendo em conta que cada fralda descartável custa, em média, 0,20€ e uma reutilizável 18,99€ e que cada bebé usa oito fraldas por dia até ao desfralde (que acontece por volta dos três anos):

. Custo total de fraldas reutilizáveis durante 3 anos: 865,74 €

. Custo total de fraldas descartáveis durante 3 anos: 2.137,40 €

As contas foram feitas com a ajuda do Meekbum, um site criado por um casal que até engravidar nunca tinha pensado em nada do que é ecologia. São dois programadores de software a criar uma loja ecológica, só para não se perpetuar a ideia de que só os hippies têm paciência para lavar fraldas. E também a Bambino Mio, que ganha o prémio de fraldas mais giras de toda a internet, ajuda nos cálculos: “poderá poupar ate 700€ ao escolher fraldas reutilizáveis e ainda mais se chegar a utilizá-las numa segunda criança”.

E esta poupança é ainda maior se comprar as fraldas em segunda mão (não façam essa cara, que não há nada que água e sabão não lave), fizer lavagens a baixas temperaturas, deixar secar ao sol e usar em mais do que um filho.

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Se quisermos pensar em saúde, é imaginar que naqueles rabos não haverá químicos, principalmente se optar também por toalhitas reutilizáveis — deixemos isso para outra crónica, que, para já, ando a cortar lençóis em quadradinhos para nunca me verem com uma Dodot na mão.

E, por fim, lembrando que por aqui o assunto é sustentabilidade, basta lembrar que 250 milhões de fraldas descartáveis são atiradas ao lixo, em todo mundo, todos os dias (são 90 biliões por ano). E que cada fralda poderá demorar até 500 anos a decompor-se nos aterros.

E, convenhamos, são lindas de morrer.

Tudo isto misturado vai fazer de mim uma expert no embrulho de rabos. Deixem-me só acabar esta pós graduação em cocó sustentável.