Há dias, fui sair com um amigo que faz parte dessa espécie rara e admirável que vive fora das redes sociais e ele começou a implicar comigo porque o meu telefone estava sempre a apitar, com janelas de chat a saltar a uma velocidade supersónica.
Ele — Com quem é que estás a falar?
Eu — Com a Catarina, já a conheceste.
Ele — Estás sempre a falar com as pessoas, mas depois raramente estás com elas.
Uma das minhas melhores amigas anda entusiasmadíssima com as apps de dating em que pode marcar encontros ou flirtar com pessoas. Nas primeiras horas dizia-se um bocado perdida naquele mundo, mas passado um dia já dominava a coisa. Agora, vai conversando com os tipos e, consoante aquilo que lhe dizem, vai filtrando as opções que podem passar, ou não, à segunda fase do casting, em que se salta da realidade virtual para a realidade real.
Aquilo que se diz pesa. Mas a forma como se diz também. A lógica é igual na realidade real: se estivermos a falar com alguém que tira macacos do nariz enquanto conversa podemos ficar desconfortáveis. Se jantamos com alguém que leva a faca à boca também. Se conversarmos com alguém que tem a destreza verbal do Jorge Jesus podemos rir-nos, mas talvez seja uma red flag. Portanto, não é de admirar que, tendo em conta o tempo que passamos na internet, se esteja a formar uma espécie de código de etiqueta para esta linguagem que é nova e cheia de opções.
Mas, como em tudo, cada um com os seus gostos e exigências.
Ora bem. Vestindo a pele da Paula Bobone dos comportamentos cibernáuticos, tenho alguns alertas a fazer. Comecemos pelo emoji artesanal mais aterrorizador e ridículo de sempre: o xD. Só três coisas justificam a sua utilização: ter 12 anos, estar parado em 2008 ou gozar com a sua existência.
Logo a seguir, está o polegar afirmativo, que aparece no canto inferior do nosso teclado no chat do Facebook e que foi cool durante dois dias. Só usa este símbolo quem se engana (e envia dez de seguida, com variados tamanhos), quem está a desprezar, quem quer desesperadamente terminar uma conversa ou ainda o nicho que está a aprender a lidar com isto tudo. Não se aponquentem. A malta perdoa.
Ainda sobre emojis, curiosamente os mais utilizados são aqueles que mais me tiram do sério. Peço a demissão daquele que chora a rir e ainda do que chora a sério, sobretudo quando não aparece só um, nem dois, nem três, mas 50. De seguida. Por favor, controlemos a histeria virtual. Também não entendo bem a necessidade de atribuir um boneco a uma linha de conversa no chat. Que raio de contributo é esse, Catarina Ballestero?
Na moda, sobrevivem ao tempo os básicos. Na internet, é igual. Os emojis mais simples são, portanto, aqueles que, com uma utilização moderada, caem bem, porque são, de certa forma, os mais elegantes: falo do mais simples que ri carinhosamente, do mais simples que está triste e ainda do zangado. Com muita contenção poderá recorrer-se ao cocó, porque tem graça ou a um dos macaquinhos porque é querido. O emoji com cognome não oficial de "O Mongo" (aquele que deita a língua de fora e tem os olhos tortos) é ótimo, mas, por favor, com muita calma na quantidade, porque, querendo ir pelo exagero, é importante ter em mente que só quem domina a arte do barroco conseguirá ter classe.
A forma como expressamos o riso também tem sofrido alterações. O lol — que de repente entrou no vocábulo da realidade real de várias pessoas, outra coisa que não compreendo — sigla que designa as expressões “lots of laugh” (muitas gargalhadas) ou "laughing out loud" (gargalhadas sonoras) apareceu-nos há muito tempo, na altura do mIRC ou do messenger do MSN. Estas três pequenas letras conseguiram uma série de variantes que expressavam diferentes formas de rir ou outros estados de espírito. Relembremos uma a uma.
Lol — um certo desprezo;
Looool — riso prolongado, que confirma a piada;
LOL — explosão de riso;
LOOOOOOL — explosão de riso com queda da cadeira e rebolanço no chão;
LOLADA - tem três sílabas e termina em “ada”, pensem no que quiserem;
LooOoOoL — quando escrever em caixa alta e caixa baixa alternadamente era tão fixe que ignorávamos a trabalheira que isto dava, muito porque também não tínhamos nada para fazer;
Passada uma década, poucas ou nenhumas situações justificam a utilização do “lol” em qualquer uma das suas versões, exceto quando aquilo que se faz é relembrar o quão estúpido era o "lol". Nos dias que correm há outras formas de exprimir divertimento online. Dizemos “ahahahahah” ou “ihihihihi” ou “eheheheheh”, consoante a entoação do riso. Ainda assim, por considerar um pouco estranho, decidi optar por um “estou a rir” ou “estou a rir muito”, quando de facto estou a rir-me.
Aqui na MAGG, esta espécie de código de etiqueta já foi tema de conversa algumas vezes. A conclusão a que chegámos foi a de que diferentes idades levam a diferentes códigos e que quanto maior a utilização da internet, maior o grau de exigência.
O mais importante
Agora, despindo a roupa de Paula Bobone, resta-me dizer: usem os emojis que quiserem na quantidade que vos satisfizer. Digam "lol" ou "ahahah" e usem e abusem do polegar. Porque aquilo que interessa mesmo é que — além de escreverem sem erros ortográficos — sejam civilizados e bem comportados na internet. Não destilem rancor, raiva e ódios reprimidos em caixas de comentários. Não é bonito. E não faz bem a ninguém.