No dia em que foi decretado o estado emergência em Portugal, a 19 de março, as visitas ao site Pornhub aumentaram 26,6%, de acordo com o jornal "Público". Já a procura por brinquedos sexuais aumentou em 30% na sex shop Ohlala e cerca de 50% no caso da portuguesa Playbox, conforme revela Mikaela Silva ao jornal "Observador".
A oferta é variada e os números da procura crescem, mas entre estes estão dois tipos: os que servem uma população que em casal procura novas experiências e os que, sozinhos, em isolamento, tentam encontrar estímulos para se masturbarem na falta de um parceiro ou para alimentar o próprio desejo sexual. Só que não se trata apenas de satisfação sexual.
"A masturbação, ou seja, a estimulação do próprio corpo para obtenção de prazer, tem inúmeros benefícios tanto para homens como para mulheres. De entre eles destacam-se a diminuição do stresse e tensão física devido às hormonas libertadas (dopamina, endorfina, oxitocina, entre outras), melhoria do sono como resultado do relaxamento alcançado no orgasmo, aumento da líbido e do autoconhecimento em termos do que gostamos e nos dá prazer", diz à MAGG a psicóloga sexóloga, Tânia Graça.
No caso das mulheres há ainda outros benefícios, aponta a especialista, como é o caso do alívio das cólicas menstruais — devido aos movimentos que acontecem na musculatura e órgãos pélvicos e às hormonas libertadas — e a prevenção de infeções do colo do útero, uma vez que o muco libertado que poderá libertar consigo possíveis bactérias nocivas à saúde vaginal.
Vistos os benefícios, voltamos então à satisfação das necessidades. Sabemos que o prazer é uma delas, quer para homens ou mulheres, mas será que há diferenças no que cada um precisa? "Eu diria que as diferenças na frequência da prática da masturbação entre homens em mulheres não se devem propriamente a uma necessidade diferente, mas sim aos diferentes ensinamentos e condicionantes que são colocados a cada um ao longo da vida sobre este tema", diz a sexóloga, Tânia Graça.
Entramos então nos tabus (que ainda persistem). Os homens são aqueles cuja frequência de masturbação é maior, já nas mulheres não acontece o mesmo: "É preciso perceber o tabu e repressão em que a sexualidade feminina continua envolta até hoje, com uma ainda muito pobre educação sexual especialmente no que toca ao prazer", revela a especialista.
Não crê que isto ainda aconteça nos dias de hoje? Vamos a um caso prático: o seu. Se é mulher, alguma vez olhou atentamente para a sua vulva? Sabe o que lhe dá prazer? Sente culpa ou vergonha sempre que se masturba e tenta descobrir o seu corpo? Se alguma das respostas foi sim, pode então estar na altura de começar a quebrar com os tabus (mesmo que mentais).
"É preciso que todas as pessoas percebam que nada há de errado em fazê-lo, pelo contrário, as vantagens são mais que muitas não só a nível individual, como depois também na partilha em casal", explica a sexóloga, Tânia Graça. E parece que a quarentena foi um período em que muitas pessoas investiram parte do tempo a descobrir-se. E não é que isso até pode ter melhorado o confinamento?
A masturbação pode ser um dos melhores relaxantes em quarentena
Não é de agora que a masturbação toma lugar nos minutos em que não está ninguém em casa ou em que as luzes de todas as divisões se apagam. Contudo, nos últimos tempos parece ter uma relevância ainda maior: "Acredito que, mais do que nunca, a masturbação tenha ganho um papel de destaque em que se percebeu o seu valor e potencial nas nossas vidas", diz a sexóloga.
A mesma destaca que a masturbação teve um papel particularmente especial nos solteiros que muitas vezes, impedidos de contactar com outras pessoas ou estar com os parceiros sexuais, encontraram na masturbação a satisfação do desejo sexual e da carência de toque.
"Ela veio ajudar na satisfação destas necessidades, podendo proporcionar algum alívio do stresse e melhoria do sono, e deste modo, um maior bem-estar", refere a especialista, mostrando que a masturbação resolve alguns dos problemas, como as insónias e a ansiedade, que surgiram com o facto de estarmos fechados em casa.
Os casais, ou outros tipos de relação, também não ficaram de fora desta prática e mesmo juntos recorreram à masturbação "através de recursos de internet como o sexting, nudes e phone sex", acrescenta Tânia Graça.
Será que a quarentena deu um empurrão na iniciação à masturbação?
Os números apresentados inicialmente sobre o aumento do recurso à pornografia e a brinquedos sexuais podem já dar algumas pistas, mas há sinais ainda mais reais.
"Tive centenas de feedbacks na minha página de Instagram e também das minhas clientes em como tinham aproveitado este tempo, e as necessidades causadas pelo isolamento, para finalmente explorarem o seu corpo sem pressas. E posso dizer que os níveis de satisfação e bem-estar consigo mesmas e, em muitos casos até nas suas relações, subiram consideravelmente", conta a psicóloga sexóloga, Tânia Graça.
Na sua página, Tânia fala de alguns temas, principalmente focados nas mulheres, como a influência da internet nos relacionamentos, os benefícios da masturbação feminina, ou ainda dicas práticas para masturbação feminina, que podem ter ajudado (ou ainda vir a tempo de ajudar) muitas mulheres que usaram o confinamento para começar a explorar-se.
Esta é também uma forma de mostrar que a masturbação é algo normal, afastando algumas das razões mais comuns de quem não se masturba. Entre elas estão o medo, a culpa, a vergonha e o nojo, que resultam de ideias pré-concebidas da história e cultura embebidas em religião e repressoras da sexualidade.
"Pode acontecer também que neste seguimento, por não saberem como o fazer e se sentirem perdidas sobre como começar, não o façam. No entanto, pode haver também alguma causa orgânica para essa ausência de desejo. Existem pessoas que não têm qualquer líbido ao longo da vida sem que isso constitua um problema para si e se assim for está tudo bem", explica a sexóloga, acrescentando que se caso a pessoa tiver realmente interesse em desenvolver o seu desejo e perceber a sua causa, deverá consultar um médico ou especialista na área da sexualidade.
Por outro lado, a líbido também pode ter sido afetada negativamente pelo confinamento: "Os estudos dizem que a ansiedade e o stresse são inimigos do desejo. Roubam a nossa atenção e recursos físicos e mentais, deixando-nos pouco disponíveis para o erotismo e sexualidade. Por esta razão, houve quem também indicasse um decréscimo do interesse para atividades sexuais, consigo mesmo ou com algum/a parceiro/a", revela Tânia Graça.
Como lidar com o pós-quarentena?
Muitos portugueses já seguiram a sua vida e regressaram ao trabalho ou há quem esteja prestes a fazê-lo. Em qualquer um dos casos, o tempo para explorar o próprio corpo vai inevitavelmente ficar mais reduzido e as oportunidades também serão menores. Será que isso pode influenciar a sexualidade?
"Eu diria que mesmo que haja um decréscimo, os ganhos obtidos durante a sua prática, especialmente para as mulheres que estão ainda a descobrir este novo mundo, serão mantidos e aumentados. Ou seja, as mulheres terão a oportunidade de aplicar as aprendizagens que fizeram com os novos ou antigos parceiros ou parceiras sexuais e essa partilha só poderá trazer vantagens para todos os envolvidos", conclui a especialista.