Sabe mesmo encontrar os sinais de uma ligação tóxica? Caso não consiga perceber todas as características deste tipo de relações, há uma novidade que o pode ajudar. Falamos do livro “Não É Amor, É Uma Relação Tóxica”, editado pela Manuscrito Editora (12,90€), e escrito pela psicóloga clínica Diana Cruz.

Os 11 comportamentos tóxicos que podem estar a destruir casamentos
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A autora explica à MAGG tudo aquilo que o amor não deve ser. A propósito da obra lançada em setembro, conversámos com Diana Cruz, que explicou algumas das principais características deste tipo de relação.

No seu livro, a especialista fala sobre estes relacionamentos e apresenta vários testemunhos e exercícios, destinados a um “detox” da toxicidade.

Leia a entrevista.

Quais as principais características de alguém tóxico numa relação?
Os parceiros tóxicos normalmente têm características muito egocentradas. Estão muito focados em si próprios, colocam-se sempre como prioridade e são dominantes, no sentido em que são eles que definem as regras da relação. São muito manipuladores, e no início apresentam uma atitude de alguém muito apaixonado, elogiam, e fazem o outro crer que é a pessoa ideal para eles. Têm uma capacidade de sedução muito grande, mas revelam alguma imaturidade emocional: não toleram bem a frustração e irritam-se facilmente.

Conseguem ver o parceiro como uma espécie de prolongamento deles próprios. Para estas pessoas, o parceiro tem de corresponder unicamente às suas necessidades e expectativas. Estas pessoas têm ainda uma característica muito especial, em que as regras não são para elas, só se aplicam aos outros. Há um convencimento de que a relação anda ao ritmo delas e segundo as suas expectativas e crenças.

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O livro foi lançado em setembro. créditos: Instagram Diana Cruz

Quais as características das vítimas de uma relação tóxica?
O facto destas pessoas serem muito empáticas, orientadas para a relação com os outros e facilmente colocarem os outros como prioridade, são algumas das características que podem tornar alguém mais exposto a estas relações.

São pessoas que têm muita vontade de participar na vida do outro e de ajudar. Por vezes são pessoas que acreditam que o amor pode salvar o outro, que no fundo o parceiro tóxico é alguém que tem determinadas dificuldades, uma certa história de vida, mas que o amor delas os pode ajudar a ficarem melhores.

São pessoas perfeitamente capazes. Na maioria dos casos, são muito inteligentes e com bastantes competências emocionais e afetivas.

Quais são os principais sinais de que alguém se encontra numa relação tóxica?
A característica principal destas relações passa por não haver respeito pelo outro, pelas suas necessidades, pelas suas vontades e pelos seus sentimentos. São relações que começaram com uma “bomba de amor”, ou seja, uma manipulação que faz o parceiro acreditar que eram completamente compatíveis, que eram almas gémeas. Tinham os mesmos interesses, gostavam das mesmas coisas e tudo se encaixava de forma perfeita.

A ideia das almas gémeas existe quase sempre nestas relações, que é o que faz com que as pessoas se vinculem e se envolvam tão depressa. Com o passar do tempo, as vítimas acabam por aceitar coisas que na sua ideia até podiam ser inaceitáveis, porque há a tal memória de que a outra pessoa pode ser a alma gémea e de nunca mais vai estar com alguém tão compatível, apesar de ter sido tudo mimetizado. Estas pessoas conseguem mimetizar todos os aspetos do parceiro, para mais tarde manipulá-los com esse pensamento.

Normalmente, as vítimas deste tipo de relação demoram a conseguir abandoná-la. Porquê?
A manipulação é muito forte. O que acontece é que há um sentimento muito intenso de que nunca mais vai vivenciar nada assim. Depois da fase de sedução estar estabelecida, começam as críticas, primeiro de forma indireta e depois já mais direta. O que ao início podia ser motivo de elogio, passa depois a ser apontado como um defeito. Este comportamento leva a que a pessoa deixe de ter confiança nas suas próprias características e que fique totalmente envolvida nas emoções contraditórias que esta relação lhe dá. Tudo isto faz com que a pessoa não consiga ter a confiança necessária para se afastar e sair da relação. Por isso é que o processo para terminar estas relações costuma ser muito longo e várias vezes caracterizado por períodos de reatamento.

É recomendado um acompanhamento especializado para quem passou por uma relação tóxica?
Estas relações têm muitas vezes a capacidade de traumatizar, porque a pessoa já põe tudo em causa. Não se reconhece a ela própria, aos seus comportamentos e por vezes existe mesmo um sentimento de culpa por ter demorado a sair da relação. Desta forma, é necessário um acompanhamento especializado muitas das vezes. Com este acompanhamento, é feito um trabalho de libertação e de reforço das características e das competências da pessoa.

Só as vítimas é que costumam recorrer a este acompanhamento especializado ou a pessoa tóxica também o faz?
Quando falamos de um indivíduo com características marcadamente egocentradas, é improvável que essa procura por um especialista aconteça, porque simplesmente não reconhece nenhuma necessidade de mudança. Uma pessoa assim sente que ela é que está correta e que os outros é que têm de se adequar segundo as suas necessidades.

Qual é a importância de estabelecer limites numa relação?
Estabelecer limites é essencial para qualquer relação, e o que acontece numa relação tóxica é precisamente a ausência desses limites. A maioria das pessoas que entra em relações tóxicas tem dificuldades em estabelecer limites.

Isso acontece porque os parceiros tóxicos são caracterizados por ter uma maior expectativa de receber do que de dar, então é fácil perceber como é que alguém assim tem também a expectativa de não encontrar limites do outro lado. Este parceiro vê o outro como um instrumento, que pode usar sem qualquer tipo de limites.

As pessoas com dificuldades em estabelecer limites já vão estar mais expostas à toxicidade, uma vez que um parceiro tóxico não tem uma especial atração por quem consegue definir uma barreira e sabe até onde está disposto a ir.