Todos os dias, a partir das 12 horas, aguardamos por novos dados do boletim atualizado pela Direção-Geral de Saúde (DGS) e ficamos à espera de números que transmitam esperança sobre o fim da pandemia. Só que ainda que os números nacionais ou à escala global nos digam qual o impacto da COVID-19, não permitem ter a perceção de como este vírus está efetivamente a matar-nos.

A questão é levantada pela revista "New York" que analisa os dados dos Estados Unidos, onde a COVID-19 já infetou 1 012 583 pessoas, ficando assim no topo da lista de países com mais casos, mas está ainda longe de ter o maior número de mortos — essa contagem pertence a Itália, onde a pandemia fez 27 359 vítimas mortais.

Já em Portugal, o cenário é diferente. Está em 18º lugar na lista do número de infetados na base de dados da Gisanddata e de acordo com os últimos números divulgados pela DGS, há um total de 24.322 infetados — que se juntam às 3 125 267 mundiais — e 394 mortes.

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Com os números n mão, falta perceber o resto: "Como é que a COVID-19 está realmente a matar-nos?". A mesma revista destaca as incertezas e o dúbio conhecimento que há sobre este vírus, e deixa uma reflexão: "A forma clínica da doença, que há muito se presume ser uma infecção respiratória relativamente previsível, está a ficar menos clara a cada semana. Ultimamente, ao que parece, a cada dia", diz.

Isto porque os sintomas mais comuns e de que ouvimos falar desde início são a febre, a tosse seca e a falta de ar. Mas parece que há mais formas deste vírus matar.

O Brigham and Women's Hospital, em Boston, EUA, tem juntado informações, em tempo real, com diretrizes de tratamento para o COVID-19 que se tornaram uma fonte confiável para médicos americanos.

O hospital revela então que apenas 44% dos pacientes com COVID-19 apresentaram febre (embora, com um grau de incerteza de 44 a 94%) e que entre 68% e 83% dos pacientes tem tosse. Quanto à falta de ar, os dados apontam para apenas 11% dos casos, estando ao mesmo nível de sintomas como dor de cabeça (8 a 14%) e náuseas e diarreia (3 a 17%). Ora, estes dados sobre a falta de ar já levantam algumas questões sobre aquele que até ao momento é considerado um dos problemas mais comuns da infeção.

"O fato de os intervalos serem tão amplos indica que a doença apresenta-se de formas muito diferentes em diferentes hospitais e populações — levando, por exemplo, alguns médicos e cientistas a considerar que o vírus pode estar a atacar o sistema imunológico como o HIV, e muitos outros a descobrir que a doença está a provocar algo como uma resposta oposta, uma reação exagerada do sistema imunológico chamada 'tempestade de citocinas'", analisa a revista "New York".

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Mas a análise dos dados não fica por aqui. Os ventiladores têm sido o método mais usado para recuperar doentes com COVID-19, mas ao que parece os médicos têm observado que muitos dos pacientes que morreram com o vírus registavam níveis letais baixos de oxigenação no sangue enquanto ainda aparentavam estar muito bem.

"Essa é uma das razões pelas quais eles [médicos] começaram a repensar o foco clínico inicial dos ventiladores, geralmente recomendados quando a oxigenação dos pacientes cai abaixo de um certo nível, mas parecem, após algumas semanas, um benefício não claro para os pacientes com COVID-19, que podem melhorar, começam a sugerir os médicos, com menores ou diferentes formas de suporte de oxigénio", avança a revista americana.

Só que esta reação, quando os pacientes aparentemente estáveis morrem com baixos níveis de oxigénio, pode ter uma explicação e é dada pelo médico Richard Levitan ao jornal "The New York Times". Levitan fala em hipóxia silenciosa: "Os pacientes compensam o baixo oxigénio no sangue respirando mais rápido e mais profundamente e isso acontece sem que eles percebam. A hipóxia silenciosa e a resposta fisiológica do paciente causam ainda mais inflamação e mais bolsas de ar, e a pneumonia piora até os níveis de oxigénio caírem", explica o médico.

O mesmo acrescenta que pode ser esta a razão para os casos de pacientes com COVID-19 que morrem repentinamente sem antes sentir falta de ar. Mas Richard Levitan apresenta uma solução: "Requer a deteção precoce de hipóxia silenciosa através de um dispositivo médico comum que pode ser adquirido sem receita médica na maioria das farmácias: um oxímetro de pulso", diz o médico ao jornal "The New York Times".

Contudo, esta não é ainda uma teoria clara e estudada com precisão. Como esta, há mais ideias: cientistas disseram ter descoberto que a doença sofre mutações e econtraram 30 em apenas 11 pacientes. Já no "Washington Post" surgiu outra teoria sobre a forma como a COVID-19 afeta o sangue dos pacientes, produzindo muito mais coagulação. "Coágulos de sangue de tamanho maior podem romper-se e viajar para o cérebro ou coração, causando um derrame ou um ataque cardíaco", revelaram os médicos ao jornal.

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Mas este jornal vai ainda mais longe: "Com base em relatos iniciais, a COVID-19 parecia ser um vírus respiratório de variedade padrão, embora muito contagioso e letal, sem vacina e sem tratamento. Mas eles [médicos] tornaram-se cada vez mais convencidos de que a COVID-19 ataca não apenas os pulmões, mas também os rins, coração, intestino, fígado e cérebro", conclui.

Parece então que o sistema respiratório não é o único afetado pelo vírus. As teorias ainda estão a ser analisadas, mas já há imagens que mostram com o que podemos estar a lidar.

Os números divulgados revelam que os danos cardíacos foram detetados em 20% dos pacientes hospitalizados em Wuhan, 38% dos pacientes holandeses tinham coagulação sanguínea irregular, 27% dos pacientes de Wuhan apresentaram insuficiência renal, metade dos pacientes chineses mostrou sinais de lesão hepática e, dependendo do estudo, entre 20% e 50% dos pacientes tiveram diarreia.

No fundo, estamos há cerca de seis meses a lidar com uma crise pandémica e a par dos esforços da comunidade cientifica, surgem muitas incertezas quanto à forma de prevenir e combater este vírus que já provou que não afeta só os mais idosos, que as máscaras podem ser relevantes e que pode não afetar apenas os pulmões, como revelam os dados analisados.

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