Há muitos motivos que levam as pessoas a mentir, mas de acordo com o que concluiu um estudo publicado no Journal of Experimental Psychology, na quinta-feira, 30 de janeiro, uma das principais razões é, na verdade, aparentemente contraditória: as pessoas mentem porque querem manter uma reputação honesta e boa.

A investigação, realizada pela Universidade Hebraica de Jerusalém, pela Universidade de Chicago e da Califórnia, partiu de uma pergunta feita a 100 adultos dos Estados Unidos. Suponhamos que o seu escritório o compensa até 645 quilómetros por mês e que a maioria das pessoas conduzem entre 240 a 515 quilómetros? Caso tivesse conduzido até ao número máximo, reivindicaria o valor real no relatório de despesas?

Nas respostas, 12% dos participantes não iriam reportar o valor total de quilómetros percorridos, dando, em média, apenas 560 quilómetros. A outro grupo, os investigadores perguntaram se reportariam o valor total, caso percorressem 480 quilómetros e a resposta foi sim.  Ou seja: as pessoas do primeiro grupo mentiriam sobre os quilómetros percorridos, mesmo que isso significasse perder dinheiro.

"As pessoas preocupam-se muito com reputação e com a forma como serão julgadas pelos outros. Essa preocupação em parecer honesto pode superar o desejo de ser realmente honesto", explica Shoham Choshen-Hillel, professor sénior da Escola de Administração de Empresas e do Centro de o Estudo da Racionalidade na Universidade Hebraica de Jerusalém.

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Acrescentou: "As nossas descobertas sugerem que quando as pessoas obtêm resultados extremamente positivos, antecipam as reações suspeitas de outras pessoas e preferem mentir e parecer honestas do que dizer a verdade e parecer mentirosas e egoístas."

O contexto dos quilómetros não foi o único teste levado a cabo pelos investigadores. Eles testaram mais cenários — incluindo, por exemplo, de advogados que reinvindicam horas faturáveis. Em todos os casos, os resultados foram sempre ao encontro do mesmo: as pessoas preferem mentir para parecerem pessoas melhores.

De acordo com Choshen-Hillel, esta postura é frequentemente adotada porque as pessoas tendem a julgar resultados mais extremos. "As pessoas estão tão preocupadas para parecerem honestas que são capazes de se comportar de forma desonesta só para manter uma reputação limpa", disse à "CNN".

A mesma especialista fala ainda sobre os tipos de mentira e adianta que existiam dois já definidos: a egoísta e a pró-social. O primeiro tipo serve para gerar ganhos individuais — lá está, egoístas — o que passa por enganar uma seguradora ou tentar não pagar impostos, por exemplo. Já o segundo passa por mentir para ajudar os outros ou não ofendê-los. Exemplo: dizer à amiga que o vestido lhe fica muito bem, quando na realidade não fica. 

Com as novas descobertas, surge uma terceira tipologia de mentira: mentir para manter as aparências ou boa reputação, ato que, segundo indicam os especialistas, pode afetar vários comportamentos do dia a dia.

"Uma das principais motivações para mentir é aumentar o nosso valor aos olhos dos outros. Como as pessoas veem a honestidade como um recurso desejável, parece altamente provável que as pessoas mintam para parecerem honestas aos olhos dos outros", diz à "CNN" Tali Sharot, professor de neurociência cognitiva do departamento de Psicologia Experimental da University College London.