A asma não tem cura, mas pode sempre ser controlada e, nos últimos anos, vários avanços têm vindo a ser feitos para que o tratamento seja cada vez menos agressivo. Apesar de ser uma doença prevalente, a falta de informação quanto à mesma é ainda uma realidade que leva muitos a tirarem conclusões erradas.  Esta quarta-feira, 5 de maio, comemora-se o Dia Mundial da Asma e a MAGG foi à procura de respostas para esclarecer alguns mitos que estão ainda muito associados a esta doença crónica.

José Manuel Silva, pneumologista na unidade local de saúde da Guarda e docente na Faculdade de Medicina da Covilhã, começa por referir que esta é uma das patologias mais prevalentes no mundo, cuja incidência tem vindo a aumentar devido à forte poluição e às alterações climáticas a que temos assistidos.

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Em Portugal, afeta cerca de 700 mil pessoas, mas o especialista garante que os sintomas são ainda desvalorizados e, por vezes, associados a um cansaço ou falta de ar normal em determinadas alturas do ano. "A asma caracteriza-se sobretudo por ataques e crises de falta de ar que podem ser mais ou menos repentinas, associadas às vezes a cansaço e a tosse", explica, referindo que as pessoas com esta doença descrevem a respiração como parecida a uma "espécie de assobios".

Apesar de aparecer maioritariamente na idade infantil, José Manuel Silva alerta que os casos mais graves acontecem em adultos e, por isso, "as pessoas têm de estar alerta quando começam a sentir estes sintomas que lhes limitam as atividades de vida diárias".  "Quando a pessoa é alérgica ao pólen e todas as primaveras começa a sentir esse tipo de cansaço ou respiração, ou uma pessoa que tem uma espécie de asma induzida pelo exercício físico, não deve associar isso a esses fatores", esclarece, referindo a importância do diagnóstico para que se possa iniciar o tratamento adequado.

Segundo o especialista, nos últimos tempos, devido à COVID-19, as doenças respiratórias ganharam um maior destaque na comunicação social , o que fez com que mais pessoas passassem a procurar os pneumologistas. Ainda assim, continua a ser necessário esclarecer alguns mitos, principalmente quando se fala de asma, garante.

A asma pode ser detetada em qualquer idade?

A resposta é sim. "A asma não é uma doença de crianças", desmistifica o especialista. "Começa muitas vezes nas crianças e pode até desaparecer ao longo da vida, mas quando ela persiste na idade adulta, normalmente tem até critérios de maior gravidade", acrescenta.

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No caso da asma em crianças, o especialista esclarece que, muitas vezes, os sintomas aparecem associados a infeções por vírus. "Na altura do inverno, gripes ou constipações podem fazer este tipo de pieira. Esta é uma situação que muitas vezes, com o evoluir da idade, deixa de existir e a pessoa pode até ficar sem qualquer tipo de crise mais tarde."

Já a asma no início da idade adulta, que por vezes começa entre os 20 e os 30 anos, é normalmente não alérgica e está associada a outros fatores de inflamação. Nestes casos, o pneumologista refere que é essencial que se faça de imediato o diagnóstico para que a situação não piore.

"Às vezes, há doentes que pela maturação do próprio sistema imunitário começam com a sua asma aos 6/7 anos, depois podem não ter qualquer crise a partir dos 15 e, em alguns casos, sobretudo nas senhoras, podem estar 40 anos sem crises e depois na altura da menopausa voltar a ter."

Esta doença só se pode tratar com altos níveis de corticoides?

Não. "Atualmente a asma trata-se com os vulgares inaladores conhecidos como as 'bombinhas'. Sendo a asma uma doença inflamatória, ao contrário do que se possa pensar, os medicamentos que tratam a asma não são os broncodilatadores, são bombinhas, mas com anti-inflamatórios", esclarece o especialista.

Apesar destes anti-inflamatórios serem efetivamente corticoides, José Manuel Silva explica que, quando tomados por via inalada, os seus efeitos secundários não são os mesmos dos corticoides em comprimidos ou em injeções. "São doses muito mais pequeninas que ficam nos pulmões e não têm passagem para a corrente sanguínea."

Segundo o especialista, atualmente, este tipo de medicamento "mais potente" só se usa quando os doentes têm necessidade de ficar internados ou de recorrer ao serviço de urgência para fazer oxigénio e, nestes casos, usam-se por períodos muito curtos de cinco a sete dias.

Posso engordar a fazer a medicação?

O pneumologista esclarece que este fator se verifica numa ínfima percentagem da população, já que são poucos os que têm de fazer a medicação mais forte durante um determinado período. "Não há que ter receio de fazer os corticoides nos inaladores porque eles não têm efeitos secundários sistémicos, uma vez que não passam para a corrente sanguínea", salienta.

Um doente asmático pode praticar exercício físico?

Aqui a resposta é imperativa: "Não só pode, como deve". José Manuel Silva esclarece que o exercício físico, além de fazer bem à saúde de qualquer pessoa, ajuda os asmáticos a respirarem melhor e a treinarem a sua própria respiração. "Na generalidade dos casos, a asma do obeso é até mais grave do que a asma do não obeso e portanto temos de promover estilos de vida saudáveis nesse sentido."

Apesar de a doença não dever ser um aspeto limitativo para a realização da atividade física, o especialista alerta que há sempre precauções a ter. "O doente asmático que tem uma asma induzida pelo exercício deve fazer um tratamento preventivo, ou seja, pode fazer o seu inalador antes do exercício físico", explica, esclarecendo que os únicos desportos que são proibidos aos asmáticos pela Academia Americana de Medicina Desportiva são os desportos que envolvem neve, "devido ao ar fresco e seco".

E ter animais de estimação? 

Nestes casos, o pneumologista aconselha a que os doentes asmáticos façam sempre o despiste de alergias antes de levar para casa qualquer animal de estimação,  uma vez que há várias pessoas alérgicas principalmente ao pelo de gato e, em menor frequência, ao do cão. "Se não tiverem alergia a esse animal, não haverá qualquer tipo de problema."

Um asmático pode fazer uma vida normal?

Sim. Apesar de ser uma doença crónica, o tratamento faz com que possa ser controlada. "Ao termos um doente totalmente controlado, o objetivo é que ele tenha uma qualidade de vida exatamente igual à do não asmático."

Cumprir o tratamento é, segundo o especialista, o aspeto chave para que a doença passe despercebida ao longo da vida. "A asma é uma doença que se caracteriza por períodos em que o doente está completamente normal, que alternam com momentos em que há as crises. O que acontece às vezes é que os asmático têm tendência a descurar a medicação nas alturas em que andam bem e isso é completamente errado, porque leva à crise seguinte", alerta.

A asma é um fator de risco para a COVID-19?

Segundo José Manuel Silva, os estudos que têm vindo a ser desenvolvidos mostram que, por si só, a asma não é um dos fatores de risco para a doença da COVID-19 ser mais grave. Contudo, o facto da asma não estar controlada pode agravar a situação clínica. "Nesta altura temos de estar especialmente atentos para os asmáticos cumprirem a sua medicação, porque se eles estiverem totalmente controlados, têm um risco igual ao da população normal."

Um asmático deve deixar de tomar a medicação na fase da gravidez?

Segundo o especialista, esta é uma altura da vida em que os cuidados devem ser redobrado e o tratamento  cumprido ainda com mais rigor. "É importante que a mãe tenha oxigénio não só para ela, como também para o crescimento do embrião ou do feto". Quanto aos medicamentos, José Manuel Silva diz que há uma tendência em recorrer aos mais antigos porque estão mais estudados e são mais seguros. "Os mais recentes ainda não têm grandes estudos nas grávidas e, por precaução, não utilizamos", explica, referindo que essa decisão tem de ser sempre analisada por um médico especialista.

A asma transmite-se?

Não, a asma não é uma doença contagiosa nem transmissível, mas, segundo o pneumologista, tem alguns fatores de predisposição genética. "Há alguns fatores de imunidade com os quais nós já nascemos que podem fazer com que fiquemos mais propensos  a ter ou a desenvolver asma."

Quanto aos fatores externos e ambientais, esclarece ainda que estes podem influenciar as crises, mas não o aparecimento da patologia.

Posso morrer de asma?

"Atualmente, já quase ninguém morre de asma, isso é uma situação do passado", afirma José Manuel Silva. Com os novos medicamentos e novos inaladores, os especialistas passaram a conseguir controlar até os casos de asma mais graves e difíceis de tratar.

"Há agora fármacos biológicos e injetáveis que têm um custo elevado, é verdade, mas que nos permitem controlar os tais doentes que antes tinham de fazer corticosteroides orais durante anos", remata. Segundo o pneumologista, também os internamentos diminuíram muito com as novas medicações.