Catarina Beato, 42 anos, não é uma influenciadora digital de agora, tanto que pela altura em que se lançou este termo ainda nem existia — pelo menos, como o conhecemos hoje. Também não havia o TikTok, o WhatsApp ou o Instagram. Havia os blogues, poucos, e nunca criados para fins comerciais. Ao seu deu o nome "Dias de Uma Princesa" onde, de forma orgânica, foi reunindo um público muito fiel. Nesta espécie de diário, como sempre lhe chamou, em dez parágrafos ou duas linhas, falava sobre o que lhe apetecia. Naturalmente, as reflexões dedicavam-se mais ao tema da maternidade — é que a influenciadora teve um menino, Gonçalo,depois outro, Afonso, mantendo-se mãe solteira durante vários anos. Hoje é casada e teve um terceiro filho, desta vez uma menina, uma cara bem conhecida por todos os que seguem a blogger: Maria Luiza, entretanto já com quatro anos.

Mas vamos voltar atrás no tempo. Há oito anos, ainda mãe solteira de dois, aventura-se num processo de perda de peso e é nesta fase que a sua notoriedade dispara. Catarina Beato perdeu 15 quilos, falou sobre todo o processo no blogue, tendo depois reunido todas as dicas, exercícios e reflexões daquele "admirável mundo novo", como lhe chamou, no livro "Dieta das Princesas". Começou a dar worshops e foi uma das primeiras a falar da compulsão alimentar.

Mas, apesar da produtiva "jornada de descoberta", havia problemas que persistiam. "Quando emagreci senti um empoderamento meio estranho, todo baseado na questão da imagem. Mas, por outro lado, coisas que eu achava que seriam solucionadas quando emagrecesse continuavam na mesma. Os defeitos que via em mim, continuavam lá depois de eu emagrecer", conta à MAGG.

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Não detetou isto imediatamente, mas hoje consegue ver o fenómeno com clareza. É que, passados 15 anos, Catarina Beato voltou a engordar 15 quilos. "No pós-parto da Maria Luiza, por uma situação complicada, acabei por engordar 15 quilos. Portanto, perdi o peso e uns anos mais tarde recuperei. Dada a questão da visibilidade, tive de enfrentar isso", conta. "A minha sensação era de que era uma derrotada, que era uma fraude, que tinha enganado os outros e que me tinha enganado a mim."

Esta sensação entrava em conflito com aquilo que defendia nas suas plataformas: uma vida saudável e equilibrada, longe dos fundamentalismos e daquela ideia de que é na magreza  que reside a fórmula para uma boa autoestima e amor próprio. Não fazia sentido. As ideias contra as quais lutava eram as mesmas que lhe minavam o bem-estar.

Decidiu, por isso, que ia trabalhar sobre este problema que persistia — que sempre persistiu. E que o espelho, com mais ou menos quilos, não curava. Começou a estudar, a ler muitos livros sobre o tema, tirou um curso de master coach e aventurou-se "num processo terapêutico muito poderoso e focado nesta área do corpo."

"Quando voltei a engordar foi visível que era necessário fazer este trabalho. Tinha de aprender mais, perceber melhor esta relação que temos com a nossa imagem", conta.

É desta aventura interna que resulta Amar o Corpo, um programa de intervenção de 12 semanas que acaba de lançar em conjunto com a psicóloga clínica Cristiana Santos e que, além de baseado na sua experiência, sustenta-se em "abordagens científicas mais recentes". Sem dietas ou planos de treino, o grande objetivo passa por mudar a relação com o corpo, dotando aqueles que se inscreverem de ferramentas que possam desenvolver a autoesitma e o amor-próprio.

catarina beato
catarina beato

A ideia para o projeto surge da sua vontade de partilhar com os outros tudo aquilo que aprendeu. Até porque percebeu, enquanto ia refletindo em publicações sobre as etapas do seu próprio trabalho,  que estava longe de estar sozinha. "No processo de emagrecer e voltar a engordar, no processo de assumir essa fragilidade, de assumir tudo o que senti, tive muito contacto com outras mulheres que fazem parte do meu público", conta.

"Quando emagreci vi que havia muitas mulheres a quererem mudar o corpo, quando engordei percebi que são muitas mais aquelas que já tinham feito inúmeras tentativas — de engordar ou emagrecer — e que viviam em constante luta com isso. Percebi que é muito fácil uma mulher aos 40 anos ainda odiar ver-se ao espelho."

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O programa Amor o Corpo é fruto da vontade de levar tudo aquilo que aprendeu a outras mulheres. O programa decorre exclusivamente online e tem a duração de 12 semanas. Irá incluir exercícios semanais de diversas áreas, desde a hipnose, meditações ou exercícios escritos, por exemplo. O apoio a todos os elementos de cada turma será "constante", havendo ainda reuniões à distância e em tempo real de 15 em 15 dias.

Nesta missão primordial que é ajudar a desenvolver o amor próprio, a ideia é que cada aluno se torne autónomo neste trabalho, porque nenhuma relação é estanque incluindo aquela que temos connosco próprios. Ou seja: hoje podemos estar bem e amanhã podemos ficar mal. Assim, aquilo que se quer é que os alunos ganhem ferramentas para as aplicar sempre que necessário.

"Não há uma solução milagrosa, mas este programa serve para que cada pessoa possa encontrar um caminho de pacificação e tranquilidade com a sua imagem", conclui.