
Em março, decidi finalmente fazer por mim. Depois de mais de meia dúzia de anos a não gostar de me ver ao espelho, a encolher a barriga nas fotografias e a convencer-me de que a roupa tinha encolhido na máquina, parei de culpar fatores externos como o stress e a pandemia. Acima de tudo, parei de adiar a recuperação da autoconfiança.
Se o fiz durante tanto tempo foi porque me sentia perdida: não sabia por onde começar, que passos dar, tanto a nível de ajustes na alimentação como da prática de exercício físico. Cheguei a estar inscrita num ginásio e a frequentá-lo, mas o facto de não ter ninguém a guiar-me fazia com que me sentisse desamparada. E os resultados não apareciam.
Isso aliado ao facto de não fazer a mínima ideia do que era ter um regime alimentar saudável causou algumas oscilações no meu peso, mas nunca a um ponto que me permitisse voltar a sentir-me confortável com o meu corpo. E a principal culpada era eu. Este ano, decidi que não queria passar mais um verão a temer vestir um biquíni.
Com a ajuda do Holmes Place, iniciei uma jornada que, por mais cliché que possa parecer, tem mesmo mudado a minha vida, para muito melhor. Comecei, em simultâneo, a ser acompanhada, pela primeira vez, por uma personal trainer (Lucidéia Pitrez) e por uma nutricionista (Adriana Condeça), e entendi o quanto estas duas áreas se complementam e têm de andar de mãos dadas.
Ao fim de um mês, mais do que resultados visíveis e a nível físico, acumulam-se os mentais. Muitas ideias pré-concebidas e julgamentos caíram por terra. A roupa começa a assentar melhor, a autoestima vai regressando e, acima de tudo, o sentimento de dever cumprido preenche-me.
Nunca é tarde demais para começarmos a cuidar de nós. Frases como "amanhã vai desejar ter começado ontem" passam a fazer mais sentido do que alguma vez fizeram. Agora, partilho algumas das lições que tenho vindo a aprender ao longo deste acompanhamento no Holmes Place:
1. É possível fazer dieta sem passar fome
Chocante, eu sei. Um dos meus maiores receios de aceitar adaptar a minha alimentação era o de não conseguir sentir-me saciada ao longo do dia, quer pela diferença das quantidades que ingeria, quer pelo tipo de comida. Mas, para meu espanto, isso não se tem verificado, nem sequer nos primeiros dias da dieta. Há que distinguir o ter fome do ter vontade de comer. Treinar o cérebro e o estômago no sentido de colocar um ponto final à compulsão alimentar é fulcral, assim como parar de ver a comida como uma recompensa ou um consolo.
2. Já existem alternativas efetivamente saborosas
A reeducação alimentar fez-me ver que é possível estar de dieta e não passar os meus dias a comer comida sem graça ou sem sabor. Há que aprender novos truques (como os temperos) e passar a conhecer alternativas aos molhos e às gorduras que estavam sempre presentes.
3. As necessidades do corpo adaptam-se com a alteração do estilo de vida
O mito de que estar de dieta é estar infeliz não passa disso. Pelo menos no meu caso, o corpo adaptou-se desde logo ao novo regime, e parou de pedir aquele docinho pós-refeição ou de ter aquele desejo louco por uma sobremesa, umas batatas fritas, um sushi. Este processo é tanto mental como é físico e, como tudo na vida, exige cedências.
4. A nutrição não é um bicho papão
Contar com as orientações de uma nutricionista faz toda a diferença. Podemos treinar sete dias por semana, mas, se não ingerirmos os nutrientes corretos, estaremos a anular o progresso. Os meus planos alimentares são constantemente adaptados tendo em conta a minha rotina diária, os meus gostos, o meu tempo, tudo. Essa flexibilidade tem-me ajudado a não encarar os planos como um frete. Além disso, existe muita compreensão do outro lado. Não é 8 ou 80. Há dias em que posso "pisar o risco" e, quando o faço, devo fazê-lo sem culpas. Se algo não estiver a funcionar, ajustamos.
5. A relação de amor/ódio com a balança perdura
Penso que qualquer pessoa que tenha problemas com o seu peso vê na balança uma inimiga. Às vezes, existe até uma relação à distância forçada. A nossa tem tido altos e baixos. Por norma, pesava-me para ganhar vergonha na cara e tentar motivar-me a mudar, para comparar valores antigos e para me aperceber da gravidade da situação. Noutras fases, fugia dela como o diabo da cruz, porque já sabia que não ia gostar do que ela tinha para me dizer, e também não estava disposta a lidar com isso e a fazer algo para o mudar.
Ao fim de um mês, o medo da balança ainda não passou, mas algo mudou. Agora, tenho medo de não ver diferenças suficientes, de não ver os números a baixar, ou, pior — de os ver a subir. É difícil quantificar algo dependente de tantos fatores. Espero, daqui a uns tempos, subir à balança com tranquilidade e não com o coração a mil.
6. O processo de perda de peso não é linear
Há que entender que os números que surgem na balança (principalmente o que revela quantos quilos pesamos) não definem o nosso progresso. O facto de o valor estagnar de uma semana para a outra não é necessariamente mau, assim como diminuir ou aumentar. Os quilos podem manter-se os mesmos, mas as medidas mudarem. Podemos pesar menos, mas ter perdido músculo, o que não é bom. Ou, pelo contrário, podemos pesar mais, mas isso significar que estamos a tonificar-nos. Até a água que temos no corpo contribui para a oscilação deste número, por isso é preciso deixar de lhe dar tanta importância e passar a distribuí-la pelos restantes parâmetros.
Quando iniciamos esta jornada a solo, focamo-nos no peso que temos e naquele que queremos atingir. Quando muito, se realizarmos as medições numa balança mais avançada, olhamos para o Índice de Massa Corporal (IMC) e para o índice de gordura. Mas há tantos valores a ter em conta além destes. Desde a hidratação à gordura visceral, passando pela massa magra e pela massa gorda, só analisando todos os parâmetros é que conseguimos ter uma noção completa do que estamos a fazer bem e mal e, acima de tudo, do que precisamos de fazer daí para a frente.
7. A hidratação é um dos principais pilares
Seja pela retenção de líquidos, seja até mesmo pela saciedade, beber água é um dos hábitos indispensáveis. Sim, hábito, porque, apesar de ser uma necessidade, tive de me habituar a consumi-la em maiores quantidades, de modo a corresponder ao que o meu corpo precisa.
Aqui, há que adotar as estratégias que melhor nos servirem. Eu passei a substituir todas as outras bebidas e a optar por beber água às refeições. Há quem coloque alarmes para se lembrar de parar e beber um copo de água. O método não importa, só o desfecho. E vamos ser sinceros: beber água não é um sacrifício. Pode ser mais difícil em dias corridos, mas, mais uma vez, é algo para o qual temos de treinar a mente.
8. Descansar é realmente importante
Esta parece uma daquelas frases feitas, mas só percebi a sua verdadeira importância quando o senti na pele. A velocidade a que o meu corpo recupera após um treino com 5 horas de sono ou com 8 é mesmo muito diferente, assim como a minha resistência. Quando durmo pouco, tenho menos força, custa-me mais a fazer os exercícios do que quando sinto que consegui descansar.
Não vale a pena embarcar neste processo de mudança se não investirmos também no descanso, porque vai ser contraproducente e custar muito mais do que é suposto. E sim, influencia mesmo os resultados.
9. O que vai doer no presente não vai doer no futuro
A primeira semana de treinos é a pior. Sim, vai doer. É natural, já que acontece uma quebra na rotina diária. No meu caso, passei de não praticar qualquer tipo de exercício físico durante anos a treinar cinco vezes por semana. E só eu sei o quanto até sentar-me na sanita me custou, nos primeiros tempos. Mas o corpo vai-se habituando, assim como ao novo regime alimentar.
As dores musculares são sinal de que os músculos estão a desenvolver-se. Se não sentirmos dor, aí sim, devemos preocupar-nos. À medida que evoluímos e vamos aumentando a carga, é normal que voltemos a sentir algum desconforto, mas, aqui entre nós, chega a um ponto em que até passamos a gostar. E a dor muscular pós-treino não se compara à dor de não gostarmos do que vemos ao espelho.
10. Ninguém quer saber
Esta é uma das principais lições com que temos de nos mentalizar. Quando comecei a treinar sozinha, claro que olhava à minha volta com receio de que me estivessem a julgar, ora por os pesos serem demasiado leves, ora por estar a realizar mal algum exercício. Mas a verdade é que estamos todos no mesmo barco. Qualquer pessoa que frequente o nosso ginásio fá-lo por si e está no seu próprio processo.
Ninguém quer saber do seu ao ponto de tirar tempo para estar a analisá-lo. E todos tivemos de começar por algum lado, todos já passaram por isso. É preciso tirar esses macaquinhos da cabeça, acabar com esta barreira psicológica e focar-se em si. Se o medo irracional do que os outros vão achar nos impedir de dar este passo, nunca vamos sair do mesmo sítio.
11. Arranjar desculpas é autosabotar-se
Contra mim falo. Hoje é porque está a chover, amanhã é porque não me dá jeito, depois será porque não quero acordar tão cedo, porque me dói o corpo do dia anterior ou porque tive algum problema a nível profissional ou pessoal. São tudo desculpas que a nossa mente arranja para justificar quebrarmos o compromisso que assumimos connosco próprios. Se até a nós nos deixamos ficar mal, se até connosco falhamos, o que diz isso de nós?
É óbvio que há dias em que tudo o que menos nos apetece é vestir uma roupa de treino e ir para o ginásio, seja por que motivos for. Mas uma coisa posso garantir: nunca saí de um treino a sentir-me pior do que quando faltei. O sentimento de dever cumprido ninguém nos tira. Já a culpa de nos termos permitido vacilar...
12. Mudar de rotina custa — até não custar mais
Os humanos são criaturas de hábito. Assim como não pensamos duas vezes em realizar a nossa higiene ou em cumprir os horários de trabalho, ao fim de um tempo, adotarmos um novo regime alimentar ou passarmos a incluir o exercício físico no nosso dia a dia tornam-se tarefas mais fáceis, mais automáticas. Sim, demora e não, não é fácil, mas parte muito do foco e da disciplina. E o processo não difere muito: quando comecei a ver resultados, a motivação veio em dobro. Quanto mais treinei, mais me senti à vontade e menos tive de me convencer a não falhar. Quanto mais me adaptei à dieta e me apercebi do quanto funciona, menos a percecionei como um esforço.
Para grande parte das pessoas, o ginásio passa a ser uma necessidade. Seja por ser o tempo que tiram para elas, o escape ou um elemento-chave para a sua saúde mental, quem lhes tira os treinos tira-lhes tudo. Eu ainda não estou nessa fase, mas para lá caminho, visto que a minha predisposição para treinar e comer bem já não é a mesma que era no começo.
13. Os resultados não aparecem do dia para a noite
Infelizmente, não há milagres. Ainda não existe uma fórmula milagrosa para alcançarmos o corpo que desejamos. Nem as dietas malucas, nem os medicamentos vão fazer por nós aquilo que só nós podemos fazer. É um reset, que exige uma mudança de chip. E não vale a pena iniciar este processo se não se sentir 100% pronto ou disponível. No passado também já o "comecei" várias vezes e não tardei a deitar a toalha ao chão. Porque me deixei sucumbir perante as desculpas, as fases, a preguiça, o comodismo, a desmotivação.
Desta vez, tive de meter na cabeça que era hora de parar de alimentar a autopiedade e de parar de aceitar que esta era a minha realidade. Porque não tem de ser. A nossa realidade é o que fazemos dela. Mas está em causa um processo, que tem um início, um meio e não tem um fim. É mutável, demorado e composto por fases distintas. Enquanto no início os números vão baixar mais rápido na balança, é também no início que demoramos mais a ligar o chip. Exige paciência e compreensão.
Claro que gostava de ter o meu corpo de sonho em dois meses. Claro que era perfeito chegar ao verão a sentir-me confiante. Só que é preciso entender que essas expetativas não são realistas. Além disso, se já aguentei tantos anos, por escolha própria, sem me rever no meu corpo, e mesmo assim não mudei de hábitos, é agora que vou ter pressa? Não pode ser.
14. Cada processo é um processo
A comparação pode ser tão benéfica quanto prejudicial. E as imagens irrealistas que vemos nas redes sociais só vêm deturpar ainda mais a nossa perceção. Pessoa A conseguiu perder uma quantidade absurda de quilos num tempo recorde? Que bom para ela. Pessoa B come que se farta e mesmo assim tem um corpo de fazer inveja? Parabéns. Cada processo é um processo e não podemos reger-nos com o dos outros. O que resulta com fulano C pode não resultar comigo.
O meu corpo é diferente, logo o meu processo também tem de o ser. E não é pior nem melhor por causa disso. É só diferente. Não podemos deixar que a comparação nos consuma. Logo à partida, cada um mostra aquilo que quer. Entramos nesta jornada por nós. Os outros não são para aqui chamados.
15. O acompanhamento profissional faz toda a diferença
Ter ao nosso lado pessoas formadas, que estudaram estas áreas e que percebem muito mais disto do que nós faz a diferença de uma forma avassaladora. Servem de guia, de bússola, de bengala. Ajudam a motivar-nos, a descomplicar. Têm paciência, não nos julgam e conhecem exemplos de sucesso — porque contribuíram para que eles existissem. Estão dispostos a ajudar-nos, sempre mantendo os nossos pés bem assentes na Terra. Vão puxar por nós e evitar que nos refugiemos na nossa zona de conforto. Vão querer ir sempre mais longe, mesmo quando acharmos que atingimos o nosso limite. Quando acharmos que não somos capazes, vão provar-nos que somos. São professores, são confidentes, são pilares.
Avançarmos com o acompanhamento de um PT e/ou de um nutricionista é não só assumirmos um compromisso perante nós próprios como com terceiros (o que, no meu caso, tem ajudado a não descurar). Bem sei que este apoio nem sempre é possível, por questões monetárias, mas agora que o tenho consigo perceber o quão relevante é fazermos os esforços que estiverem ao nosso alcance para o conseguirmos. No fundo, é nada mais nada menos do que um investimento em nós próprios, aquilo que temos de mais valioso e que devemos priorizar. Se há tempo para ir sair com os amigos, também há tempo para treinar. Se há dinheiro para roupa nova, também tem de haver para a nossa saúde e o nosso bem-estar.
Tentar mudar sozinha, alterar a minha alimentação e treinar sem ter esse apoio fez com que desistisse todas as vezes. Desde que recorri ao Holmes Place para mudar os meus hábitos, a minha relação com a vida saudável tem sido outra. E os resultados deixaram de ser mito. Associo este desfecho, acima de tudo, à rede de apoio com que tenho contado, às infraestruturas de que disponho e ao excelente trabalho que tanto a minha nutricionista (Adriana Condeça) como a minha PT (Lucidéia Pitrez) têm vindo a fazer em conjunto comigo.
Estas reflexões vêm acompanhadas de muitas mais e surgem ao fim de apenas um mês. Deixo-as aqui não só em jeito de desabafo, como também de motivação e de conselho para quem, como eu, se sente perdido e assoberbado neste mundo do fitness. Não há truques nem facilidades, mas há formas de tornar a mudança menos assustadora e impactante. E continuar a adiar a realidade que há tanto tempo deseja só vai fazê-lo afundar-se ainda mais. É cedo, mas não cedo o suficiente para lhe garantir que chegar à superfície é bem melhor.