Pedro Xavier Simões, 30 anos, é um dos 245 portugueses infetados com COVID-19 e está internado no Hospital de Coimbra desde a passada quarta-feira, 11 de março, dia em que testou positivo para coronavírus. Os primeiros sintomas apareceram no dia anterior, depois de almoço. Numa entrevista ao site "Sapo Lifestyle", Pedro revela que chegou a utilizar a linha SNS24, para onde ligou várias vezes, mas uma vez sem resposta decidiu dirigir-se ao Hospital de Águeda, de onde é natural. Colocaram-no em isolamento e acabou por ser transportado em segurança pelo INEM para Coimbra.
Pedro, gestor de marketing, é um dos poucos testemunhos do que é estar infetado e a receber tratamentos. No seu caso, a evolução está a acontecer de forma positiva, por isso, lé provável que venha a juntar-se aos dois casos dos portugueses que já estão recuperados.
"Estou bem, estou estável, não tenho febre, não tenho dores de cabeça e a tosse que tenho é muito residual. Tenho controlado as dores no corpo com paracetamol e na verdade estou mais preocupado com o meu pé, que está com uma entorse, e com uma alergia. De resto, sinto-me bem", revela na entrevista.
As análises feitas regularmente revelaram que estava tudo bem, tal como o raios-X aos pulmões, que não indicaram nenhuma complicação. As análises não são diárias, ao contrário do controlo dos valores da tensão, pulsação e temperatura, bem como da respiração.
Pedro é um dos casos em que não se conhece a origem da cadeia de transmissão. Tem uma vida social ativa, por isso antes de ser diagnosticado com o vírus passou por várias localidades, como Aveiro e Costa Nova, Águeda e Lousã, fazendo a sua vida normal: "Nos dias anteriores, estive com amigos a jantar e com os colaboradores da empresa. Nas últimas duas semanas, fiz a minha vida normal. Andei de bicicleta, fiz compras, fui ao shopping, saí à noite", conta. Pedro Simões esteve com a família, que está já em isolamento.
Quanto à alta, essa pode não tardar, já que o hospital recebe cada vez mais pessoas e está à beira da lotação. "Não tenho tido muito feedback, mas o presidente da Câmara Municipal de Águeda falou-me na possibilidade de ter alta dentro de uma semana". Enquanto essa não chega, é em isolamento que Pedro e Ricardo, o primeiro caso em Coimbra, permanecem num quarto de pressão negativa.
"Inicialmente estávamos isolados, mas agora eu e o Ricardo estamos juntos, porque estamos a recuperar bem e não há necessidade de estarmos separados. Por outro lado, há cada vez mais pessoas a chegar e são precisos quartos", revela.
A equipa médica está a encarar a situação com "muito profissionalismo", ainda que Pedro note que estão sobrecarregados e a acusar cansaço nas poucas vezes que contacta com os mesmos. Isto porque, uma vez que os equipamentos são poucos e descartáveis, os médicos e enfermeiros evitam entrar no quarto para usar o menor número possível de equipamentos.
"Alguns já têm a experiência da Gripe A (2009) e sabem o que está a acontecer e o que ainda está para acontecer", acrescenta. E o que está ainda por acontecer é, no entender de Pedr,o preocupante: "Acredito que o vírus já cá anda há muito tempo, não só há três semanas. Só que demorou a ser do conhecimento geral. Agora, vai começar a espalhar-se e vai afetar toda a gente que sair de casa e não cumprir as recomendações das autoridades de saúde. Vai afetar todos, de uma forma ou de outra. É uma questão de tempo".
O jovem de 30 anos considera que Portugal devia estar a tomar medidas mais restritivas, ao contrário do que está acontecer, como é o exemplo das escolas que só fecham na totalidade esta segunda-feira, 16 de março, ou os bares que só fecham depois das 21 horas. "Itália só chegou a esta situação, porque facilitou. Também é [um país] maior e os casos que surgiram inicialmente eram muito graves. Não havia ventiladores para todos e o vírus começou a espalhar-se rapidamente, atingindo estas proporções. Espanha está a ir pelo mesmo caminho e nós continuamos a tomar decisões com base em achismos, em vez de olharmos a longo prazo e tomarmos logo decisões rápidas".
Pedro considera, por isso, que o governo do nosso País já devia ter bloqueado acessos, restringido viagens, aeroportos, fronteiras, caminhos de ferro. Esta seria uma das formas de conter o vírus, além da colaboração da população que deve estar consciente dos perigos.
Aconselha por isso que todos cumpram a quarentena, evitem ir às urgências e sigam todas as recomendações do Serviço Nacional de Saúde (SNS), porque caso contrário a situação do COVID-19 em Portugal pode torna-se semelhante à de outros países, onde os profissionais têm de escolher quem tratar, dado que não é possível dar resposta a todos os casos.
"Estou muito ciente deste problema e de como ainda estamos no início da pandemia. Isto vai escalar a uma dimensão que as pessoas não têm noção. A situação vai ficar muito mais grave nas próximas semanas", acrescenta Pedro Xavier Simões.