Com os preços dos alimentos a disparar nos supermercados, todas as ajudas para poupar são bem vindas. Por isso, npara saber quais são as melhores formas de poupar, sem deixar de dar importância a uma alimentação saudável, a MAGG falou com uma especialista na área da nutrição, Catarina Lopes, que esclareceu que, apesar da crise, existem várias formas de manter a saúde em dia sem gastar tudo na hora de ir ao supermercado.
"As crise têm-nos acompanhado ao longo da nossa história, e ao longo do tempo fomo-nos adaptando. Claro que hoje em dia, com a questão da indústria alimentícia, fomo-nos baseando muito numa alimentação muito industrializada, à base de produtos alimentares já confecionados, em embalagens fechados, e isso tem um custo, torna o alimento em si mais caro, e muitas das vezes menos saudável", começa por referir a nutricionista.
De acordo com Catarina Lopes, a população tem vindo a "desaprender" a forma como deve ser mantida uma alimentação saudável, processo que, na prática, é bastante simples. Basta "comer alimentos de verdade, ou seja, que a terra nos dá, que o mar nos dá, coisas que os nossos avós comeriam". A especialista acredita que, hoje em dia, existe muito a tendência da população para se dirigir a um supermercado e "ter tudo pronto, ou estar tudo embalado", fazendo com que os alimentos tenham um custo acrescido para o consumidor. "Vem muito da base da pessoa saber comer. Se a pessoa não souber comer não sabe fazer compras, se não sabe fazer compras vai ao supermercado e sai tudo automaticamente mais caro", diz.
"Uma alimentação saudável não é uma alimentação industrializada"
O costume a nível alimentar que predomina em Portugal é a dieta mediterrânica, cuja base da alimentação inclui "leguminosas, frutas, legumes, peixe, carne, ovos", alimentos que, de acordo com a nutricionista, "sempre fizeram parte da nossa alimentação, e ao desaprendermos isso também existe um custo associado". "É preciso haver um equilíbrio no sentido de perceber que uma alimentação saudável não é uma alimentação industrializada, é uma alimentação com muita base no que os nossos avós faziam, com muita base na nossa história".
Catarina Lopes deixa ainda um exemplo de prato do dia a dia, que muitas as vezes as pessoas têm a tendência a adicionar hidratos de carbono de modo desnecessário, uma vez que a refeição em si já inclui todos os nutrientes essenciais. "Temos muitos pratos típicos simples que as pessoas complicam. O caso do bacalhau com grão, por exemplo. Há pessoas que tendem a acrescentar mais um hidrato de carbono como o arroz ou massa, para além do grão, o que é desnecessário. As pessoas comem demasiado, e isso também um problema", diz.
Pensar na alimentação feita no passado
No que diz respeito à saciedade, a nutricionista afirma que este aspeto "está a comprometer muito a nossa sustentabilidade", uma vez que "estamos sempre com vontade de comer, e obviamente isso também tem um custo, tanto no planeta como nos nossos bolsos", explica. "Muitos dos pacientes que me chegam vêm com aquela ideia que têm de comer de três em três horas, o prato tem de ser farto, e isso não é verdade. Uma pessoa que não tenha fome para comer de três em três horas se calhar só precisa de fazer pequeno-almoço, almoço e jantar. Doutrina-se muito questões estratégicas nutricionais, ou seja, é quase como se aquilo fosse base para toda a gente, e não é assim".
Para esclarecer, Catarina Lopes remete-nos ao passado, em que a vida e os costumes eram totalmente diferentes. "Se pensarmos no tempo dos nossos avós, antigamente as pessoas faziam duas refeições por dia, o pequeno-almoço e o jantar, porque estavam o resto do dia todo fora de casa. O que é que faziam a meio do dia? Se calhar uma peça de fruta, uns frutos secos, dependendo da região, mas lá está, era um pequeno-almoço, como costumamos dizer 'de rei', e à noite uma sopa de feijão, por exemplo", afirma a nutricionista, no sentido de tentar deixar claro que hoje em dia a população tem muito mais tendência para comer em excesso.
Privilegiar o planeamento de refeições
"O planeamento de refeições é vantajoso por várias razões. Primeiro porque a pessoa consegue fazer o planeamento mensal, semanal, e consegue ir aos supermercados só comprar o que precisa e não excesso, e ao mesmo tempo é vantajoso porque fazendo marmitas a pessoa consegue controlar, por refeição, as quantidades que vai comer. Do ponto de vista monetário o planeamento é mesmo muito importante, pois vai ditar quanto é que a pessoa vai gastar por semana e por mês", defende.
Quanto a quantidades exatas, a nutricionista afirma que depende da idade, da atividade física, do tipo de trabalho que a pessoa faz. Há, de facto, determinadas gramas por quilograma de peso, mas não é algo que seja estático. "Nas consultas de nutrição adaptamos conforme a atividade física da pessoa, se tem alguma doença ou não, se tem uma dieta vegetariana ou vegana, é tudo adaptado".
Alimentos frescos ou congelados - existem muitas diferenças a nível nutritivo?
"Há diferenças, a questão é, tem de perceber a sua rotina e o que tem em casa. Por exemplo, a pessoa vai ao supermercado, compra saladas, legumes, mas chega a casa e não tem tempo para cozinhar os alimentos. No final da semana metade daquilo que comprou já não está em condições, uma vez que, principalmente frutas e legumes, são alimentos muito perecíveis, ou seja a pessoa ou consume naquela semana ou provavelmente na semana seguinte já não consegue comer, e assim compra frescos e deita metade fora", começa por explicar a especialista.
"Nesses casos, o que eu digo aos meus pacientes é: 'comprem duas ou três coisas mais frescas para comer nos primeiros dias da semana, em que a pessoa está mais motivada para preparar refeições, e se calhar para o resto da semana comprem alguns legumes congelados'". Assim, a diferença a nível nutritivo acaba por não ser significativa, e pesando a componente da alimentação saudável, juntamente com a vertente económica, é preferível "que as pessoas comam legumes congelados do que não comam", garante.
"Há estudos que mostram que, por exemplo, os espinafres até são um alimento mais interessante de consumir congelado do que fresco, depende muito de alimento para alimento, mas não é nada de significativo. Congelado ou não congelado, o importante é que a pessoa coma verduras e legumes". Catarina Lopes defende que o truque consiste em que as pessoas consigam dividir o mês em três, ou seja: "Fazer as compras mensais, com as coisas que a pessoa sabe que não se estragam, a compra quinzenal, como os congelados, para não ocuparem tanto espaço no congelador, e depois semanalmente, uma vez por semana, para comprar alimentos frescos".
O excesso de carne consumida (regra geral) pela população portuguesa
"A nível de proteína, a maior parte da população portuguesa come uma quantidade exorbitante de carne. Apesar de estarmos rodeados de mar, há muitas pessoas que não comem assim tanto peixe como possamos pensar. A base alimentar da nossa população é muito à base de carne. É óbvio que precisamos de proteína, mas quanto mais variedade melhor, não só para nós como para a sustentabilidade do nosso planeta, por isso não digo para as pessoas não comerem carne, mas se calhar todos os dias a todas as refeições não", afirma a nutricionista.
"Se numa família de quatro pessoas todos consumirem carne pelo menos a sete refeições por semana, o que nunca acontece, porque por norma é muito mais do que isso, vai sair muito caro, mas se consumirem carne dia sim dia não, ou apenas três vezes por semana, já é completamente diferente".
Catarina Lopes deixa ainda três exemplos de produtos que substituem a carne enquanto fonte de proteína, para além de apresentarem uma boa relação qualidade-preço. "Há uma série de fontes proteicas que podemos ter, tanto vegetais como animais, que a pessoa pode variar bastante, por isso não precisa de comer carne sete dias por semana, a todas as refeições", esclarece.
- Leguminosas - "como o grão, feijão, lentilhas ou favas. Saciam bastante, são uma boa fonte proteica e são um ótimo substituto à proteína animal, carne e peixe. Para além disso, o preço é muito acessível";
- Ovos - boa fonte proteica que pode funcionar como substituição do peixe e da carne;
- Enlatados - "é controverso, por um lado não é muito interessante, mas por outro é melhor que nada. Por um lado têm o bisfenol A na composição da lata (composto sintético usado na produção de diversos tipos de plásticos), mas por outro, é preferível a pessoa comer atum e salmão de uma lata do que não comer peixe nenhum", explica.
No que toca a produtos dispensáveis de uma alimentação saudável, e que por vezes são escolhidos pela população, a nutricionista menciona os "snacks saudáveis, como barrinhas e bolachas", que "têm um custo aumentado, e não existe necessidade de a pessoa estar a consumir estes produtos". "Pode fazer a substituição por fruta da época, que é muito mais barata", refere. Também quanto ao tema da suplementação, a especialista refere que, excetuando em casos de doença concreta em que seja necessária a aplicabilidade destes componentes, o mais importante é sempre trabalhar a alimentação com alimentos reais.