São várias as razões que levam as mulheres a adiar a maternidade. A estabilidade emocional de uma relação, um emprego fixo, melhores condições salariais — tudo isto são fatores que, para várias mulheres, constituem uma base sólida para avançar para o nascimento de um filho.
Enquanto se espera por atingir todos esses objetivos, o relógio não pára. Os anos passam e, se há cerca de 20 anos era normal uma mulher de 25 anos já ser mãe (em 1990, a idade média de uma mulher aquando do nascimento do primeiro filho era de 24,7 anos), o mesmo não acontece agora — em 2016, a média de idades era de 30,3 anos (dados da Pordata).
Mas existe quem espere mais tempo. Independentemente das razões, sejam elas motivos profissionais, emocionais, das dificuldades em engravidar até ao instinto maternal que só chega mais tarde na vida, a verdade é que as gravidezes depois dos 40 anos tornaram-se mais comuns.
Entre 2012 e 2017, o número de mulheres que se tornaram mães depois dos 40 aumentou 22 por cento em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Em 2015 esse número alcançou um pico, tendo sido registado o nascimento de 4728 crianças de mulheres com 40 ou mais anos.
Os riscos de uma gravidez tardia para a mulher
É comum ouvirmos que é perigoso ser mãe “tarde”, principalmente quando se trata de uma primeira gravidez. Mas quais são exatamente os perigos de uma gestação aos 40 ou mais anos para uma mulher?
“Se estivermos a falar de uma mulher saudável, os perigos de uma gravidez aos 40 são exatamente os mesmos que aos 20 anos. Isto quando falamos das mulheres e não do feto, claro está”, afirma à MAGG Olga Santos, médica ginecologista e obstetra.
A idade pode aumentar a probabilidade de doenças como as tromboembólicas (varizes, embolias, coágulos, etc), hipertensão, que pode causar uma pré-eclâmpsia, diabetes, que também pode causar uma diabetes gestacional, entre outras.”
A especialista explica que os problemas relacionados com a idade não são consequência desta por si só, mas sim das doenças que uma idade mais tardia pode alavancar.
“A idade pode aumentar a probabilidade de doenças como as tromboembólicas (varizes, embolias, coágulos, etc), hipertensão, que pode causar uma pré-eclâmpsia, diabetes, que também pode causar uma diabetes gestacional, entre outras”, salienta a obstetra, que garante que as mulheres fumadoras podem ver o seu quadro agravado.
Olga Santos acrescenta que todas as grávidas, tenham fatores de risco assinalados ou não, devem seguir as mesmas recomendações.
“Não fumar, evitar estar em espaços com muito fumo, seguir a suplementação vitamínica recomendada pelo médico, bem como ter cuidados a nível da alimentação e manter uma dieta equilibrada. Caso sejam mulheres com fatores de risco (fumadoras ou com doenças diagnosticadas), esses mesmos fatores devem ser vigiados, devem ter consultas menos espaçadas, seguir rigorosamente a medicação e os conselhos do médico assistente.”
Idade da mãe aumenta a probabilidade de cromossomopatias no feto
Apesar de a idade da mãe não ser um fator de risco numa mulher saudável, o mesmo não se pode dizer dos perigos que uma faixa etária mais elevada pode causar no feto.
“Os perigos da idade da mulher são existentes principalmente para o bebé, sendo que após os 40 anos existe uma maior probabilidade dos fetos desenvolverem cromossomopatias”, refere Olga Santos.
As cromossomopatias são alterações do número de cromossomas fetais, habitualmente relacionadas com problemas na formação do óvulo.
Recomendo sempre a amniocentese às minhas pacientes com mais de 40 anos, mesmo com um rastreio pré-natal de baixo risco."
A Síndrome de Down (trissomia do cromossoma 21), por exemplo, é uma das cromossomopatias mais comuns de suceder quando a mulher ultrapassa os 35 anos— existe um caso em cada 300 nascimentos, afetando grávidas entre os 35 e os 38 anos e, acima dos 40 anos, a probabilidade sobe para 1 em cada 50 casos.
É também devido a estes dados que a amniocentese (um procedimento de diagnóstico pré-natal no qual se colhe uma pequena amostra de líquido da bolsa amniótica que envolve o feto, sob controlo ecográfico, para que possa ser realizado um estudo dos cromossomas para despiste de doenças genéticas específicas) é recomendada por muitos médicos em casos de mães com 35 anos ou mais.
“Recomendo sempre a amniocentese às minhas pacientes com mais de 40 anos, mesmo com um rastreio pré-natal de baixo risco, até porque o rastreio é um teste de probabilidades, avalia o risco, mas não oferece um diagnóstico”, explica Olga Santos, que acrescenta que este é um exame que pode ser realizado gratuitamente em qualquer hospital do Serviço Nacional de Saúde (para mães a partir dos 35 anos).
Há mães que dispensam a amniocentese
Paula Gentil Santos tem 44 anos, é mãe de um rapaz com três anos, e engravidou aos 41 anos sem qualquer ajuda de tratamentos de fertilidade.
“Casei-me com 38 anos e engravidei nessa altura, mas essa gestação não correu bem e não chegou ao fim”, conta Paula, que criou a Associação Mãe Limão, uma associação de empreendorismo materno, após o nascimento do filho.
Apesar de já ter tido uma consulta de fertilidade, a logística dos tratamentos e injeções assustava-a e demorou a decidir-se.
“Acabei por fazer uma viagem com o meu marido, deixámos os problemas de lado, descontraí e a verdade é que voltei dessas férias grávida. Acho que causei tanta ansiedade ao meu corpo, sempre a pensar no porquê de não engravidar e em quando iria acontecer, que me sabotei. O pensamento tanto nos motiva, como nos trava e, quando relaxei, aconteceu naturalmente”, recorda Paula à MAGG.
Com 41 anos, a hipótese da amniocentese foi colocada em cima da mesa pelos médicos, “mais a título informativo”, afirma. “Mas nunca foi uma hipótese para mim. Já tinha tido uma gravidez que não tinha corrido bem e decidi que, independentemente de tudo, não iria interromper esta.”
Com ecografias que não apontavam para qualquer má formação no bebé, “achei que apenas pela minha idade não fazia sentido, não vi validade em avançar com o exame”. Paula acabou por levar uma gravidez tranquila, sem qualquer recomendação especial.
“A única coisa que acho que seria menos dolorosa se fosse mais nova eram as noites sem dormir depois do meu filho nascer. Talvez aos 20 anos recuperasse mais facilmente do défice de sono”, brinca Paula Gentil Santos.
O parto pode ser um momento complicado para mulheres mais velhas
Paula Cruz tem 48 anos, trabalha como responsável de comunicação e foi mãe pela primeira vez há oito anos. Depois de uma gravidez de alto risco, consequência de um leve deslocamento de placenta no segundo trimestre, Paula entrou em trabalho de parto às 40 semanas.
“No dia em que completava as 40 semanas de gestação, a minha médica rompeu-me as águas contra a minha vontade. Vim a descobrir depois que, o que inicialmente me foi transmitido como um acidente, fruto de um exame, na verdade foi propositado”, conta Paula.
Quando falamos de mulheres com 40 anos ou mais, não estou de acordo que se force um parto vaginal."
Após 12 horas de trabalho de parto, com muita dificuldade em fazer dilatação, Paula levou três doses de epidurais e a filha estava prestes a entrar em sofrimento.
“A minha filha acabou por nascer de parto vaginal, com recurso a ventosas e com uma médica a fazer força na minha barriga”, recorda Paula Cruz.
Já o filho de Paula Gentil Santos nasceu com recurso a uma cesariana, não sem antes Paula ter passado longas horas em trabalho de parto. “Estive 21 horas a tentar dilatar para chegar ao parto vaginal, mas tal não foi possível”, afirma.
Olga Santos, médica obstetra, tem uma forte opinião sobre os partos vaginais, que considera que são levados à força em alguns hospitais.
“Existe uma tendência enorme atualmente para promover os partos naturais, sendo que um parto natural (sem medicação ou intervenção médica) não é um parto vaginal, é importante perceber que são coisas diferentes. E quando falamos de mulheres com 40 anos ou mais, não estou de acordo que se force um parto vaginal”, partilha a especialista.
Devido a incompatibilidades feto-pélvicas (conjunto de situações em que existe uma desproporção entre o tamanho do feto e as dimensões do canal de parto) e em dificuldades em dilatar (dado que nas mulheres mais velhas poderá existir uma diminuição da elasticidade dos tecidos e, consequentemente, da capacidade de dilatação), Olga Santos conclui que “existe uma maior probabilidade dos partos de mulheres mais velhas terminarem em cesarianas” e discorda que, para chegar a essa decisão, seja necessário as mulheres passarem por horas de sofrimento evitáveis, enquanto se tenta forçar um parto vaginal.