Não se pode falar em menopausa até que o período menstrual desapareça por pelo menos 12 meses consecutivos. No entanto, a partir dos 40 anos é normal que a mulher note alterações físicas e psicológicas, consequência do decréscimo de estrogénio.
É nessa altura que surgem os tão famosos afrontamentos, suores noturnos, que podem ser acompanhados de sintomas semelhantes aos da tensão pré-menstrual ou até mesmo falta de libido e, claro, menstruações irregulares.
Com menor ou maior intensidade, este é um cenário inevitável para todas as mulheres — que se dependesse da vontade feminina, seria adiado até ao limite. Pode não ser um questão de escolha, mas existem hábitos que, seguidos a longo prazo, podem ditar uma menopausa mais tardia.
Um estudo da Universidade de Leeds e publicado no início deste mês no Journal of Epidemiology and Community Health associa o consumo de certos alimentos a um atraso no início da menopausa. A equipa concluiu que uma dieta rica em peixe, leguminosas e óleos saudáveis pode atrasar a menopausa até cerca de três anos. Já uma alimentação com base em hidratos de carbono, nomeadamente arroz e massas refinadas, está ligada a uma antecipação de ano e meio em relação ao início da menopausa.
O poder da alimentação
Este estudo é mais um dos que vem associando o impacto da alimentação na menopausa. Já em 2017, uma investigação norte-americana concluiu que uma alimentação rica em proteínas vegetais, como o grão, a soja e o tofu, leva a um menor risco de menopausa precoce.
Para esta investigação em específico foram analisados durante quatro anos dados relativos a mais de 14 mil mulheres no Reino Unido. Durante esse período, 914 dessas mulheres passaram pela menopausa. Os cientistas consideraram 51 a idade média em que as mulheres começam a ter menopausa (número que também é considerado como média em Portugal).
Janet Cade, uma das autoras, acredita que esta investigação em particular vem ajudar “a uma compreensão clara de como a dieta afeta o início da menopausa natural, principalmente para aquelas mulheres que dão já sinais de virem a ter complicações relacionadas à menopausa, até mesmo pelo histórico familiar”.
Apesar deste passo dado em direção a uma maior compreensão do impacto que a alimentação pode ter neste período da vida das mulheres, ainda não é o suficiente para que os especialistas aconselhem uma mudança na dieta. Até porque esta equipa teve em consideração outros fatores como o peso, o historial de fertilidade e uso de terapias de reposição hormonal, mas não foi capaz de avaliar o impacto dos fatores genéticos, que podem influenciar a idade da menopausa.
Mesmo assim, os investigadores conseguem explicar alguns dos resultados. Por exemplo, as leguminosas, por serem ricas em antioxidantes, podem preservar a menstruação por mais tempo. Também os ácidos gordos como o ómega 3, presentes nos peixes com mais óleo, estimulam essa capacidade antioxidante do organismo.
Já os hidratos de carbono refinados interferem com a atividade das hormonas e aumentam os níveis de estrogénio, o que aumenta o número de ciclos menstruais, levando os óvulos a esgotarem-se mais rapidamente.
Os investigadores aproveitam para lembrar que, apesar de inevitável, a menopausa traz riscos, tanto quando acontece precocemente ou mais tarde. Quando acontece antes do previsto há um maior risco de a mulher vir a ter osteoporose e doenças cardíacas, mas se acontecer tardiamente o risco é maior para cancro de mama, útero e ovários.