Cansaço, falta de tempo e de comunicação e ainda alguns tabus ligados ao tema sexo são fatores que contribuem para os principais problemas que muitos casais atravessam quando se fala de intimidade. Segundo as especialistas contactadas pela MAGG, os homens continuam muito focados na performance sexual, o que os impede de partilhar possíveis problemas, enquanto as mulheres não conseguem separar questões de autoestima do desejo sexual.

“A melhor prenda que podemos oferecer ao parceiro é tempo”, diz à MAGG Maria do Céu Santo, sexóloga na Clínica Milénio e ginecologista do Hospital Santa Maria, acrescentando que muitos casais perdem a disponibilidade emocional para estarem juntos à medida que uma relação avança e se torna mais duradoura.

Esta médica e a sexóloga e psicóloga clínica Vânia Beliz identificaram, a pedido da MAGG, os problemas mais ouvidos nas suas consultas.

1. Falta de desejo sexual

Tornou-se um lugar comum dizer que os homens estão sempre prontos para fazer sexo. Mas segundo Vânia Beliz, sexóloga e psicóloga clínica, esta afirmação não podia estar mais longe da verdade.

“Ainda que já surjam alguns homens que admitem não ter vontade de fazer sexo, não se espera ouvir isso da boca de um elemento do sexo masculino. Existem muitas pressões sociais para que eles estejam sempre disponíveis para a relação sexual mas isso não corresponde à realidade.”

A especialista explica que também eles têm momentos maus, um dia mais complicado no trabalho, preocupações com várias esferas da vida, e que isso afeta a vontade de ter sexo, tal e qual como nas mulheres — o problema é que elas não são as pessoas mais compreensivas quando isso acontece.

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“As mulheres não têm sensibilidade para aceitar um não do parceiro, embora os homens tenham tanto direito de dizer que não como elas. Quando um homem não quer fazer sexo, as mulheres pensam imediatamente que a culpa é delas, que ele não está interessado e colocam imediatamente a sua autoestima em causa.”

Principalmente ao lidar com rapazes mais novos, a sexóloga reforça a mensagem que os homens também têm direito ao não e às dores de cabeça. “Digo muitas vezes que não têm de se sentir pressionados para fazer algo que não desejam naquele momento”, afirma a especialista.

Já em relação às mulheres, “o stresse, a ansiedade geral, bem como alguns medicamentos, podem ser responsáveis por não terem tanta vontade de fazer sexo”, explica Vânia Beliz, concretizando que os antidepressivos e os ansiolíticos podem diminuir o desejo e também a capacidade de lubrificação.

O fator mais comum para reduzir o desejo sexual nas mulheres, na opinião da sexóloga, tem a ver com o facto de não se sentirem bem com elas próprias.

“Existe muita pressão para as mulheres serem seres sexuais muito ativos" mas, por vezes, elas não são capazes de o ser. "Podem estar com excesso de peso e não se sentirem tão sensuais ou podem estar a passar por um período de extremo cansaço. O que é importante é que tanto mulheres quanto homens parem de se crucificar a si mesmos.”

Para ultrapassar esta situação e ser possível recuperar o desejo, Vânia Beliz sugere que se identifique a causa do problema e se tente agir contra isso. “Caso uma mulher não esteja contente com a sua imagem, por ter peso a mais, por exemplo, pode tentar melhorá-la, adotar um estilo de vida mais ativo, fazer escolhas alimentares mais saudáveis, cuidar de si. Se o problema é o cansaço, deve procurar fazer algumas mudanças no estilo de vida, como não ficar horas a mais no trabalho, dormir mais ou optar por uma suplementação vitamínica que lhe ofereça mais energia.”

Promover o diálogo entre o casal também é benéfico, dado que ambos os elementos podem passar por períodos de menor desejo sexual e não se devem sentir pressionados por isso.

2. Dor durante a relação sexual

O desconforto durante o sexo é também uma causa comum ouvida nas consultas de sexologia. Se sente dor durante a relação sexual, a primeira coisa a fazer é consultar um médico especialista para averiguar se existe alguma causa física para tal.

Se estiver tudo bem, há que olhar para "a falta de lubrificação, que costuma ser uma causa comum da dor durante o sexo nas mulheres”, explica Vânia Beliz.

É muitas vezes associada à falta de desejo mas a sexóloga refere que tal não é totalmente correcto, já que é possível, para algumas mulheres, sentirem desejo e vontade sem o sinal de excitação, neste caso a lubrificação, surgir.

“Pode existir algo que impeça o corpo de lubrificar mas a solução é bastante simples. Com recurso a produtos como lubrificantes, a questão é facilmente contornável”, salienta a especialista, referindo que apenas devem ser utilizados produtos próprios para as zonas genitais. E não vaselina e o normal creme Nívea, como já ouviu algumas mulheres confessarem em consulta.

Existem também posições que podem causar mais desconforto às mulheres. “Muitas pacientes queixam-se de dor associada à entrada do pénis na vagina e também de dor intensa durante a penetração que pode estar associada a muitos fatores, como algumas mulheres terem um canal vaginal mais curto que outras. Nestes casos, convido as mulheres a optarem por posições em que controlem melhor a penetração”, diz Vânia Beliz.

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A dor durante a relação sexual também pode afetar os homens devido à má deslocação do prepúcio — embora seja um assunto pouco abordado, frisa a especialista.

“A causa desta dor no prepúcio pode-se dever à pouca lubrificação das mulheres ou ao facto de a pele não se deslocar convenientemente com a penetração. Aliás, existem muitos homens a ser operados agora para solucionar este problema. No passado existia o hábito de incentivar os rapazes a puxar a pele do pénis durante o banho, hábito que agora se perdeu — e por isso muitos rapazes sentem dor no início das suas experiências sexuais”, explica Vânia Beliz.

3. Rotina e falta de tempo

“A rotina intensa interfere na qualidade de vida de todos os casais, independentemente da faixa etária”, refere Maria do Céu Santo. “Hoje em dia não há tempo para descansar e, quando o casal chega a casa, há imensas coisas para fazer. A intimidade é guardada para o último momento do dia mas, a uma hora mais tardia, o cansaço fala mais alto e não há vontade para fazer sexo.”

Para além do cansaço, a rotina também torna as pessoas mais intolerantes, mais agressivas verbalmente e pouco predispostas ao diálogo.

Maria do Céu Santo aconselha: “Caso seja possível, e estejamos a falar de um casal sem filhos ou com a possibilidade de os deixar uma noite nos avós, optem por chegar a casa e fazer sexo, não deixando a intimidade para depois de todas as tarefas — o afeto não deve ser a última coisa do dia. O casal também pode optar por arranjar forma de se encontrar à hora de almoço, caso o local de trabalho dos dois o possibilite, e tomarem um café, darem um pequeno passeio. Aqui não se trata de sexo mas sim de arranjar tempo para os dois, usufruir o momento sem distrações de redes sociais ou outros fatores. Em relações longas, em que o casal não faz um esforço para momentos a dois, é comum deixarem praticamente de se conhecer um ao outro”.

4. Ejaculação prematura

Apesar de ser um problema do foro masculino, a verdade é que a ejaculação precoce também prejudica as mulheres, dado que está provado que o sexo feminino necessita de mais tempo para atingir o orgasmo do que os homens.

“Este é um problema curioso. Se no início de um relacionamento as mulheres olham para uma situação de ejaculação rápida quase como um elogio à sua performance, do género de ‘gosta tanto de mim que não aguentou muito tempo’, com o passar do tempo e evolução de uma relação, a mesma mulher pode olhar para esta situação com um sentimento de frustração, dado que a rapidez do ato sexual não lhe permitiu atingir o clímax”, explica Maria do Céu Santo.

A mudança de posições sexuais pode ajudar a retardar a ejaculação, acrescenta Vânia Beliz, sugerindo também a utilização do preservativo. “Para além de todos os benefícios de proteção conhecidos no contexto de saúde, o uso do preservativo também retarda o orgasmo masculino. Existem inclusivamente preservativos retardantes no mercado, com muito boa resposta, que retiram sensibilidade sem comprometer o prazer e fazem com que o homem consiga manter o ato sexual durante mais tempo”, conclui a sexóloga.

*texto originalmente publicado em 2018 e atualizado em 23 de outubro de 2022.