Existem doenças que já são quase uma tradição da infância e da entrada nas escolas. São as viroses, as laringites, as faringites — qualquer coisa acabada em "ite", na verdade. E nem queiram falar nas otites.
Para além destas, não nos podemos esquecer das típicas doenças infecciosas, como a papeira ou a varicela, patologias que só infetam a maioria das pessoas uma vez, oferecendo uma imunidade a partir desse momento.
E é justamente devido a essa ideia de serem infeções "solitárias", que não se repetem mais do que uma vez, que muitos pais têm a perceção de que será mais simples se os miúdos as apanharem de uma vez, dado que doenças como a varicela, por exemplo, têm mais complicações se surgirem na adolescência ou na idade adulta.
Nos Estados Unidos, há quem leve essa ideia ao extremo e organize festas de varicela, eventos onde se colocam propositadamente no mesmo espaço crianças com varicela em contacto com outras saudáveis, de forma a que estas últimas contraiam a doença e a ultrapassem numa idade menos perigosa.
A notícia foi avançada em janeiro pela revista “People”, que recorda que esta era uma prática comum antes de 1995, ano em que surgiu a vacina contra a varicela. Aparentemente está de volta. No mesmo artigo, pode ler-se que a comunidade médica norte-americana está preocupada com a tendência e afirma que, ao invés de infetar propositadamente os filhos, os pais deveriam optar pela vacinação.
Em Portugal, este não é um hábito frequente, sendo que a vacina contra a varicela não faz parte do Programa Nacional de Vacinação. “A vacina é indicada a partir dos 12 meses, embora seja recomendada para proteger os adolescentes que não tenham contraído a doença”, explica Sérgio Neves, coordenador do serviço de pediatria da Clínica de Santo António, à MAGG.
De acordo com o especialista, para além de crianças com menos de 3 meses, com diabetes, a fazer medicação específica ou problemas neurológicos, os adolescentes são um “grupo de risco mais vulnerável”.
Para crianças saudáveis entre os três meses e os 12 anos, a varicela é uma “infeção facilmente resolvida, embora altamente contagiosa”, afirma Sérgio Neves, que salienta as complicações da patologia na adolescência: “Podem surgir infeções na pele, dado que esta fica mais comprometida e as bactérias podem entrar. Os jovens podem ainda sofrer pneumonias virais e, num panorama mais grave, até gerarem-se encefalites — infeções do sistema nervoso central”.
O seu filho está com varicela? Nunca lhe dê ibuprofeno
Sérgio Neves afirma que a varicela pode ser uma doença com “menor risco de complicações” para os miúdos entre os 3 meses e os 12 anos, mas tal não invalida que não tenham de existir cuidados.
“Deve existir prevenção, vigilância e a febre deve ser controlada, com recurso a paracetamol. Por outro lado, o ibuprofeno não deve ser administrado nestes casos pois gera complicações, nomeadamente o Síndrome de Reye, com atingimento hepático e do cérebro”, salienta o médico pediatra.
As lesões também devem ser vigiadas, para ter a certeza de que não existem riscos de infeção. “Os pais devem estar atentos a vermelhidões nas borbulhas, inchaços e pus no interior, e não devem usar betadine nestas”, refere Sérgio Neves, que também alerta para a importância de os adultos controlarem o surgimento de febres muito altas ou a prostração das crianças.
“Para aliviar a comichão, podem utilizar-se produtos à base de aveia no banho, embora estes não devam ser longos durante a doença. Deve dar-se primazia a duches rápidos e não muito quentes”, conclui o especialista.