Apesar de serem cada vez mais as mulheres que recorrem à cirurgia para colocar implantes mamários, a verdade é que persistem ainda alguns mitos sobre este procedimento e o impacto que pode ter na vida da mulher. Podemos fazer este tipo de cirurgias ainda numa fase de adolescência (mesmo que tardia) ou isso é um erro? E devemos esperar por engravidar? Os implantes vão prejudicar ou dificultar a amamentação?

As perguntas são muitas, as dúvidas ainda mais, mesmo num procedimento tão popular, desde a altura certa para colocar implantes até à constituição e formas dos próprios implantes mamários — e não há como recorrer a quem mais percebe do tema. Antes de qualquer outra coisa, David Rasteiro, especialista em cirurgia plástica e medicina estética na UP Clinic, explica à MAGG que há que diferenciar dois grandes tipos de implantes mamários e de procedimentos.

 O especialista explica que os  implantes mais utilizados são "o formato semiesférico ou formato redondo" e o formato em gota ou anatómico, "que se assemelha mais a uma mama 'normal'". Apesar da forma diferente, ambos são constituídos por uma base de silicone que poderá ser também diferente no exterior (com uma textura mais fina ou mais grossa).

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Já a colocação do implante mamário, que permite o aumento do volume da mama e também uma melhoria da sua forma, poderá ser feita em diferentes fases da vida e em diferentes tipos de mama. Aqui, David Rasteiro explica que no caso de pessoas com idades entre os 20 e os 25 anos, que têm pouco ou praticamente nenhum peito, aquilo que costuma ser feito é uma mamoplastia de aumento, ou seja, "a colocação de um implante mamário, quer seja redondo ou anatómico".

A escolha do mesmo é feita em consulta, tal como a quantidade que será colocado e, neste caso, introduz-se o implante através de uma pequena incisão à qual se dá o nome de uma mamoplastia de aumento.

O outro tipo de cirurgia acontece quando as mulheres apresentam idade mais avançadas e, devido a já terem sido mães ou terem passado por uma oscilação de peso, ficam com a mama descaída e vazia. "Imaginando este cenário, nesse caso temos de associar à colocação do implante, que permite melhorar a forma, alguma remoção de pele", explica o especialista, referindo que este procedimento se dá o nome de mastopexia de aumento.

De acordo o cirurgião plástico, a colocação de implantes mamários é um tipo de cirurgia com 50 anos de evolução e que ainda se encontra numa fase madura, mas a verdade é que muitas dos aspetos que se verificavam há uns anos (como a necessidade de trocar os implantes),  já não fazem parte da realidade.

Para esclarecer todas as dúvidas, descubra nove mitos e verdades sobre a colocação de implantes mamários.

Depois de colocar implantes mamários, a mulher deve ter cuidados redobrados? 

O especialista explica que, após esta cirurgia, a mulher pode fazer uma vida completamente normal e não há nenhuma indicação de que deva ter cuidados redobrados. "O objetivo de uma cirurgia estética com implantes mamários, seja uma mamoplastia ou uma mastopexia, será o retorno completo à sua vida normal, à atividade física, à vida profissional e pessoal sem restrições", afirma, referindo que esta é a situação que se verifica na grande maioria dos casos.

Neste sentido, colocar um implante não faz com que a mulher tenha de fazer mais exames ou rastreios do que as restantes. "Como todas as mulheres, por motivos de saúde, devem estar atentas à sua mama e alertas para a sua saúde intima, mas não é por terem a prótese que têm que ter esse cuidado redobrado."

Mulheres com implantes mamários devem ter mais cuidado com a escolha do soutien?

A resposta é sim, mas essa situação só se verifica no pós operatório. Nesta altura, a mulher ainda está sensível e precisa de usar soutiens indicados nas primeiras três ou quatro semanas após a cirurgia. "Passada essa fase de pós operatório, só vai ter de usar soutiens maiores porque, provavelmente, os anteriores já não lhe servem", acrescenta.

Os implantes mamários podem interferir com a fase de amamentação?

"Felizmente, não", afirma o especialista, referindo que, tratando-se de uma cirurgia, há que ter sempre em conta que nem todas as pessoas reagem da mesma forma e podem sempre haver complicações (ainda que esse registo seja quase nulo). "Não estamos livres de zero complicações, mas em mais de 90% dos casos as pessoas amamentam normalmente. Tenho dezenas de pacientes que foram mães depois da cirurgia, ou que fizeram a cirurgia entre gravidezes, e deram de mamar normalmente."

Quanto aos riscos deste tipo de cirurgia, o médico garante que o essencial é que a pessoa saiba escolher os locais e os especialistas com quem as fazem. "Se for uma cirurgia feita por pessoas sem diferenciação claro que tem riscos maiores do que sendo feita por pessoas que o fazem todos os dias, e mesmo assim há riscos. A medicina não é uma ciência exata e até um simples Ben-u-ron pode ter riscos", explica.

Que faixa etária procura mais este tipo de cirurgia e a partir de que idade pode ser feita?

Do ponto de vista legal, David Rasteiro explica que qualquer pessoa com mais de 18 anos pode tomar a iniciativa de fazer esta cirurgia e refere que, antes desta idade, também não se verifica uma grande vontade de a fazer. A grande procura começa a surgir precisamente uns anos depois, garante o especialista, quando as mulheres sentem que o peito já não vai crescer e há uma redução de autoestima por esse motivo.

Neste caso, fala-se da mamoplastia de aumento. Contudo, surge depois um outro grande grupo de procura que abrange maioritariamente mulheres a partir dos 35 anos que já foram mães e assistiram uma mudança do corpo. "Aqui já não é uma mamoplastia simples, mas sim para uma mastopexia, que eu devo dizer que é uma cirurgia difícil e delicada porque tem de haver um equilíbrio muito sensível entre a remoção de pele e da glândula e a colocação do objeto estranho que é o implante mamário", explica.

Depois de colocar um implante, há um prazo para os substituir?

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A resposta é não. "Não há um relógio com a data de validade para nenhum implante mamário. Isso foi uma coisa antiga. Atualmente, os implantes mamários podem ou devem ser substituídos se houver algum outro problema", afirma o especialista. Neste sentido, a substituição será  sempre uma decisão da mulher e não estará relacionada com questões de saúde, mas estéticas (ou por motivos externos como, por exemplo, ter sofrido um acidente de carro grave e haver uma rutura do implante).

"Há pessoas que ao fim de 20 anos têm os implantes ótimos e as maminhas no sítio e perguntam se devem trocar. Eu digo que não o devem fazer por acharem que os implantes têm uma validade. Podem sim trocar os implantes se quiserem mais ou se por alteração do peso ou após a gravidez  o corpo mudar."

Além dos fatores externos e estéticos, o especialista realça que sendo o implante um elemento externo colocado no corpo, "apesar da compatibilidade ser excelente", pode haver sempre uma reação do organismo e o mesmo ter de ser substituído por esse motivo. Ainda assim, David Rasteiro explica que não se trata de uma questão de saúde, mas, habitualmente, estética . Quando se procede à troca do implante, o especialista explica que todo o material é retirado por completo e colocado um novo como se se tratasse da primeira vez.

Mas há implantes vitalícios?

Segundo o cirurgião, há já marcas muito boas com matérias que podem durar a vida inteira, mas não há forma de perceber se tal se irá verificar em todas as pessoas. "É impossível prever para todos os seres humanos a reação que o implante tem naquele corpo específico e é impossível dizer que para toda a gente seria vitalício um implante. Mas claro que a minha expetativa quando coloco um implante é que as pessoas o tenham o máximo de tempo possível."

Uma pessoa com implante poderá ter mais dificuldade na deteção de um tumor?

Não. "Desde que as pessoas avisem os radiologistas ou as pessoas com quem vão fazer os exames que têm implantes mamários, não há uma diferença entre a deteção de um tumor com ou sem implantes, nem se tratamento, nem de sobrevida", afirma. No que diz respeito ao autoexame, o especialista explica que o facto do implante estar por trás do músculo faz com que qualquer alteração que possa existir fique até mais superficial. "Não acho que haja essa diferença e até diria que uma mulher com implantes mamários, às vezes, tem mais atenção à sua mama."

Há alguma patologia incompatível com a colocação de um implante mamário?

Quanto a esta questão, David Rasteiro relembra que a o facto da medicina ser variável faz com que seja difícil fazer afirmações de "sempres" e "nuncas". "Diria que a grande maioria da mulheres pode colocar um implante mamário e que não há na população em geral uma contraindicação absoluta para implantes, mas isto não é matemático e há certamente alguém no mundo que pode não poder pôr implantes. Mas não é frequente, de todo", assume.

Quanto pode custar este tipo de cirurgia e quanto tempo demora a recuperação?

Relativamente a preços, David Rasteiro afirma que depende muito do sítio onde é feita a cirurgia, do especialista que a realiza e do material utlizado. Ainda assim, uma mamoplastia de aumento pode começar nos quatro mil euros. Quanto ao tempo de recuperação, o facto de ser uma cirurgia de ambulatória faz com que o período de interrupção das atividades do dia a dia seja pequeno.

"Em termos de restrições, por exemplo, recomendo que a pessoa não conduza durante uma semana. Quanto ao exercício físico, que é uma prática que está cada vez mais enraizada na sociedade portuguesa, normalmente tem a restrição de um mês para se voltar à rotina de atividade física com calma e acompanhamento", remata.