Apesar de ser no verão que surge uma maior preocupação com as horas de digestão que devemos (ou achamos que devemos) cumprir, a verdade é que há quem, durante todo o ano, nunca se molhe após as refeições. E se lhe dissermos que nem sempre é preciso esperar duas a três horas para ir à água depois de comer?

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Ana Isabel Pedroso, médica internista no Hospital de Cascais, explica que há vários fatores que influenciam o nosso tempo de digestão. "Depende do tipo de alimentação que fizemos: se é uma coisa leve, que tem uma digestão mais rápida, ou se comecemos alguma coisa mais pesada. Se almoçarmos uma feijoada com certeza que demoramos três horas a fazer a digestão, mas se almoçarmos uma salada será muito mais rápido e portanto nesse sentido o tempo também vai depender do que se comeu", explica em entrevista à MAGG.

De acordo com a especialista, o grande mito surge do facto de a maioria das pessoas não perceber que o problema não está no simples contacto com a água, mas sim no risco de haver um choque térmico.

"O nosso corpo é muito inteligente e por isso envia maior quantidade de sangue para onde é necessário. Se eu estiver a fazer a digestão, o meu corpo sabe que eu preciso de muito sangue na região do estômago, por exemplo. Se eu for à agua e arrefecer muito, o corpo, para se voltar a aquecer, vai deslocar o sangue para os músculos. Se eu estiver a fazer a digestão de uma feijoada nessa altura, isso pode ter impacto e aí se fala na paragem de digestão", esclarece.

Ana Isabel Pedroso
Ana Isabel Pedroso Ana Isabel Pedroso é especialista em medicina interna e intensiva créditos: Instagram

Deste modo, se, após uma refeição ligeira, entrarmos na água com calma ou decidirmos tomar banho com a temperatura da água regulada para o quente, o nosso corpo não entrará em choque térmico e não haverá qualquer problema em tomarmos banho após a refeição.

Mas, afinal, o que é que indica que podemos estar a ter uma paragem de digestão?

"A paragem de digestão significa que o processo daqueles alimentos que estavam a ser decompostos, para depois serem absorvidos nos seus locais corretos, fica suspenso. A partir daí, normalmente, as pessoas ficam nauseadas, com mal estar geral e podem chegar a vomitar", diz Ana Isabel Pedroso.

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E posso morrer com uma paragem de digestão? Este é outro dos grandes mitos. Ana Isabel Pedroso explica que é impossível afirmar que nunca ninguém tenha morrido com uma paragem de digestão, visto que as reações variam muito de pessoa para pessoa. "Se for alguém que comece a vomitar bastante e perca outros líquidos (...) isso já tem outras questões, mas normalmente não é causa de morte." O grande problema está, segundo a internista, no caso de a pessoa se poder sentir mal dentro de água, e isso levar depois ao afogamento, mas não na paragem de digestão em si.

Quanto à diferença do período de digestão de adultos para crianças,  a especialista explica que "o facto de as crianças comerem menos pode até fazer com que o tempo de digestão seja inferior", mas afirma que não se deve generalizar porque há crianças que comem muito em proporção com o corpo que apresentam. Deste modo, as regras são iguais tanto para adultos como para crianças.

Para os dias mais quentes de sol e praia, a especialista deixa três dicas para que não tenhamos de esperar tanto tempo para ir à água:

  • optar por fazer refeições mais ligeiras;
  • antes de entrar na água, deve molhar-se lentamente para que o corpo se habitue à temperatura;
  • se fizer refeições pesadas, deve sim evitar ir a águas muito frias nas próximas duas a três horas.