Esta segunda-feira, 17 de janeiro, a notícia de que uma criança de 6 anos com teste positivo à COVID-19 e a primeira dose da vacina morreu no Hospital Santa Maria causou alvoroço. A morte aconteceu no domingo, 16, mas a notícia foi avançada no início da semana pelo Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), que referiu que as causas da morte estão a ser analisadas.

De acordo com o centro hospitalar, a criança deu entrada no Hospital de Santa Maria no sábado, 15, com “um quadro de paragem cardiorrespiratória”, mas que só depois da autópsia será possível verificar se poderá estar associado à infeção, à vacina ou a outro motivo, lê-se na notícia avançada pelo jornal "Observador". 

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À MAGG, o pediatra Caldas Afonso frisa que este caso não deve assustar os pais quanto à administração da vacina contra a COVID-19.

"O que importa é saber porque é que a criança morreu, independentemente de ter sido vacinada ou não, e é para isso que existem autópsias. Temos de dar tempo para que se esclareça o que há para esclarecer. Os dados sobre a segurança e a eficácia da vacina são conhecidos e não podemos confundir as coisas. Infelizmente, todos os dias morrem crianças e esta questão da vacina pode não ter nada que ver com a causa da morte",referiu o especialista, alertando ainda para o papel que os meios de comunicação social devem ter no sentido de não contribuir para o alarmismo. "Saíram capas inacreditáveis e tem de se ter muito cuidado com o que se escreve. É a mesma coisa que dizer que uma criança vacinada foi atropelada e morreu."

Apesar de ainda não haver nada que ligue a morte da criança à infeção por SARS-CoV-2 ou à vacina, o facto de esta já estar imunizada levou o CHULN a notificar o caso ao Infarmed e à Direção-Geral da Saúde.

Para Manuel Magalhães, também pediatra, esta notificação ao Infarmed só deve tranquilizar a população. "Congratulo a atuação do Hospital de Santa Maria neste ponto porque é uma criança que teve uma paragem cardiorrespiratória. Seja qual for a causa, tem de se investigar a razão da morte", começa por frisar.

"Sempre que houver algum efeito adverso importante este vai ser investigado até às últimas consequências"

Na opinião de Manuel Magalhães, o alerta dado pelo hospital em questão deve tranquilizar os pais quanto à monitorização que está a ser feita a toda a hora. "Assim, sabem que sempre que houver algum efeito adverso importante este vai ser investigado até às últimas consequências, para se ter a certeza absoluta de que não é por causa da vacina. Isto, a mim, enquanto pediatra, cria-me confiança nas instituições que estão a fazer o seu trabalho. Não podemos é lançar uma notícia a dizer que há uma relação causal quando, neste momento, não existe essa relação causal. Se houver, no futuro, temos de perceber melhor a situação, mas, neste momento, não há."

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Para já, sabe-se que a criança se encontra a ser autopsiada. Os exames ao corpo do menino de 6 anos começaram a ser realizados pelos peritos de Medicina Legal, depois de um juiz ter libertado o corpo, avançou na tarde desta terça-feira, 18 de janeiro, a CNN Portugal.

No sentido de tranquilizar os portugueses, Manuel Magalhães frisa ainda que os dados mais recentes da vacinação dos Estado Unidos, onde já foram vacinadas perto de nove milhões de crianças, não indicaram nenhuma morte diretamente relacionada com a vacina.

"Os dados dos Estados Unidos publicados a 31 de dezembro reportam apenas duas mortes em crianças que tinham feito a vacina. Depois de analisados os casos, tratava-se de crianças que tinham uma história clínica com doenças crónicas complexas e que já estavam gravemente doentes antes da vacinação e morreram do decurso da doença grave que tinham. Ou seja, não foram associadas à vacinação", diz o pediatra.

Aos pais que ficaram preocupados com a possível associação da morte da criança de 6 anos à vacina, Manuel Magalhães deixa um aviso: "Primeiro, devem perceber que, até agora, não há nenhuma relação de casualidade e pode ser uma causa perfeitamente alheia à vacinação (o que estou convencido de que poderá ser)", diz, frisando que esta investigação deve trazer segurança no sentido em que dá a entender que a vigilância deste casos "está a ser feita ao segundo em todo o mundo".

"Houve uma morte que não sabemos sequer se foi relacionada com a vacina, mas já está sinalizada. Não sabemos, mas Portugal e as instituições responsáveis vão fazer tudo o que está ao alcance para saber. Isto causa tranquilidade", diz.

Engasgamento está a ser investigado como possível causa da morte

Para já, sabe-se que está ainda a ser investigado o facto de um possível engasgamento com comida ou objeto poder ter sido causa da morte do menino de 6 anos. No sábado, 15 de janeiro, a criança deu entrada na urgência sem sinais de batimento cardíaco e de respiração e, ao ser entubado para reanimação, apresentou vestígios de vómito e de engasgamento, aparentemente por comida, avança o jornal "Expresso".

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Segundo o INEM, não há registo de um pedido de socorro para salvar a criança que foi levada de carro para o hospital, mas tal pode ter acontecido por entupimento no sistema. "A central 112 pode não ter logo atendido ou não ter conseguido transferir o pedido de socorro para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes, que aciona os meios, e a chamada ter sido desligada pelos pais”, admite uma fonte da rede de emergência, citada pelo mesmo jornal.

Tendo em conta a situação, esta terça-feira, 18 de janeiro, a Ordem dos Médico apelou a um  "esclarecimento cabal" rápido. Através de um comunicado, os médicos reiteraram que "é necessário aguardar pelas conclusões da equipa forense, nomeadamente pelos resultados da autópsia médico-legal e potenciais exames toxicológicos", cita a CNN Portugal. 

Até que um "esclarecimento cabal dos factos" não se verifique, a Ordem dos Médicos expressou ainda as "suas condolências a toda a família e solidariedade neste momento tão difícil".

Sabe-se também que Procuradoria Geral da República já abriu inquérito à morte. Este é um procedimento que ocorre sempre que há um óbito sem causa aparente, escreve a CNN Portugal.