"Temos todos de ter medo de novas doenças". O aviso é de Dadin Bonkole, médico em Kinshasa, República Democrática do Congo, país que continua a ser afetado pelo ébola, vírus que, em 2014, provocou um surto que matou cerca de 11 mil pessoas.
De acordo com Jean-Jacques Muyembe Tamfum, temos de temer uma série de doenças novas e potencialmente mortais que poderão emergir das florestas tropicais africanas. O médico que, em 1976, ajudou a descobrir o vírus do ébola, tem estado desde então na linha da frente da caça a novos agentes patogénicos. "Vivemos num mundo onde surgirão novos patógenos. E isso constitui uma ameaça para a Humanidade", alerta, em declarações à CNN.
O especialista vai mais longe e alerta para a possibilidade de, no futuro, surgirem mais doenças zoonóticas (que são transmissíveis de animais para humanos), à semelhança da covid-19 e das grandes pandemias dos últimos 40 anos (o HIV, uma mutação de um vírus que afeta chimpanzés, e a SARS e MERS, ambos coronavírus de origem animal desconhecida que passaram para organismos humanos). Questionado pela CNN sobre se considera que, no futuro, poderão surgir pandemias piores do que a da covid-19, o especialista não tem dúvidas. "Sim, penso que sim".
Vírus zoonóticos têm origem na destruição das florestas tropicais
Desde o início do século XX já foram descobertos cerca de 200 vírus zoonóticos (o primeiro foi o da febre amarela, provocado pela picada de mosquito). De acordo com Mark Woolhouse, professor de doenças infeciosas, são descobertas, em média, três a quatro novas doenças por ano. A maioria tem origem em animais. E o motivo pelo qual isso acontece tem mão humana: a destruição dos habitats naturais desses animais e o comércio de animais selvagens. A título de exemplo, existem estudos que ligam os surtos de ébola à destruição progressiva da floresta tropical em África.
E uma das formas mais rápidas de estes potenciais vírus viajarem pelo mundo todo é através do comércio (muitas vezes ilegal) de carne resultante de caça furtiva, de animais exóticos como crocodilos, tartarugas ou chimpanzés. "Este tipo de carne, ao contrário do que se pensa, não é consumida por pobres. É para os ricos e privilegiados. Consumi-la é sinónimo de status", alerta à CNN Adams Cassinga, CEO da Conserv Congo.
Nos países mais afetados pelo surto epidémico de ébola, entre 2013 e 2016, continuam a detetar-se casos de pacientes que aparentam ter sintomas da doença mas que depois testam negativo. Sinais indicativos que uma nova doença poderá estar apenas à espera de ser descoberta.
As grandes pandemias dos últimos 120 anos:
- Gripe Espanhola (1918 - 1920)
Mortes: 20 a 40 milhões - Gripe Asiática (1957)
Mortes: 2 milhões - Gripe de Hong Kong (1968)
Mortes: 4 milhões - Gripe russa (1977)
Mortes: número desconhecido - HIV (desde 1981)
Mortes: 32 milhões - Gripe das aves (1997, 2003 e 2018)
Mortes: 400 - SARS (2002)
Mortes: 440 - Gripe suína (2009 - 2010)
Mortes: 18500 - Ébola (2013 - 2016)
Mortes: 11300