O uso constante de máscara passou a fazer parte do nosso dia a dia, como proteção para a pandemia. Contudo, como nem sempre as máscaras se adaptam ao rosto, com o seu uso regular, as queixas de irritação ocular tornam-se cada vez mais habituais.

Mas de que forma é que a utilização da máscara pode afetar os nossos olhos? José Salgado Borges, médico oftalmologista e autor do blogue "Salgado-Borges", explica à MAGG que o grande problema está na passagem de ar que se verifica quando as máscaras não se adaptam totalmente à nossa face. A maioria das pessoas descrevem uma sensação de aumento do fluxo de ar, que, através da máscara, segue em direção aos olhos, durante a respiração. Este acontecimento é especialmente notório em pessoas que usam óculos e que têm constantemente as lentes embaciadas.

"O uso da máscara é fundamental. No entanto, quando se usa máscara, há um espaço entre a mesma e a a face, que faz com que haja passagem de ar com maior frequência", começa por referir o especialista alertando para o facto de esse fluxo de ar contribuir para evaporar as lágrimas.

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"Os nossos olhos têm uma película que é constituída fundamentalmente pelo filtro lacrimal ou lágrima que permite que os olhos estejam lubrificados. Se os olhos estiverem muito tempo abertos — como acontece, por exemplo, quando se está muito tempo a ler, ou quando se está muito tempo com os aparelhos digitais — há menos pestanejo e havendo menos pestanejo há também menos lubrificação", explica, acrescentando que esta falta de lubrificação faz com que os olhos sequem, provocando irritação, picadas e comichão. Estas características fazem também com que, muitas vezes, tenhamos a necessidade de esfregar os olhos, coisa que devemos evitar pois pode também contribuir para a transmissão do vírus, garante o especialista.

"Principalmente nesta altura, em que as pessoas estão mais tempo nos computadores, estão mais tempo a esforçar os olhos e em que as lágrimas evaporam mais, há uma situação que se chama a "síndrome do olho seco que é cada vez mais frequente por uma série de razões, e as máscaras acabam por contribuir para esse agravamento", refere José Salgado Borges afirmando que este é um problema que afeta cerca de um milhão e meio de portugueses.

O especialista alerta para dois cuidados essenciais que devemos ter em consideração.

  •  "Utilizar máscaras adequadas. Para além da capacidade de proteção, as máscaras devem adaptar-se bem à nossa face, sendo as melhores as que têm um dispositivo de metal que se adapta ao dorso do nariz e que, de alguma forma, pode evitar a passagem tão fácil do ar". Ou ainda, não havendo metal, utilizar "uma fita de adesivo antialérgica". Segundo o especialista, esta fita é importante "para as pessoas que já têm tendência para esse agravamento ocular", protegendo assim os olhos da passagem de ar por fixar a parte superior da máscara à face.
  •  Por outro lado, há algumas medidas que, segundo José Salgado Borges, "devemos fazer por sistema, independentemente do uso de máscara", e dá exemplos: "Estando muito tempo com os aparelhos digitais, devemos fazer paragem frequentes, ou seja, ao fim de 20 min parar uns segundos, pestanejar um pouco, olhar para longe para relaxar os olhos". A utilização de lágrima artificias é ainda muito recomendada.

"Há vários tipos de lágrimas artificiais, umas que têm conservantes e outras que não têm. As que não têm conservantes têm sistemas próprios que permitem que se mantenham viáveis ou a funcionar bem sem serem necessários conservantes e essas são melhores porque muitas vezes os próprios conservantes dão irritação aos olhos. O uso de lágrimas artificiais, especialmente à noite, e de pomadas ou de géis que façam uma maior lubrificação e diminuam a inflamação das pálpebras são importantes para combater não só os efeitos próprios das máscaras, como o efeito cada vez mais usual  de computadores e de aparelhos digitais que fazem com que a síndrome do "olho seco" seja cada vez mais prevalente", afirma José Salgado Borges.

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Relativamente ao soro, o especialista explica que a atualização deste pode representar alguns inconvenientes: "Um deles é que pode estar aberto há muito tempo e a pessoa não saber. Por outro lado, o soro não tem as características próprias da lágrima que tem também nutrientes e outras substancias que vão fazer com que a mobilização das pálpebras funcione mais naturalmente". Contudo, continua a ser melhor utilizar o soro para hidratar os olhos do que não recorrer a qualquer tipo de hidratação, refere o especialista.

Para além do incómodo, comichão, picadas e ardor, que a síndrome do olho Seco pode causar, o especialista alerta ainda que pessoas com problemas de diabetes ou reumatismo têm mais tendência para uma menor produção de lágrimas, o que pode provocar lesões ao nível da córnea ou inflamação da pálpebra. "Para as pessoas que fazem também cirurgias oculares, como por exemplo refrativa à miopia ou  às cataratas, vai ter uma alteração da própria córnea, uma menor produção de lágrimas e uma maior sensação de dor causado pelo olho seco, acrescenta.

José Salgado Borges afirma ainda que "é crucial não esfregar os olhos, para proteger a córnea, evitando dessa forma o risco de infeção. No caso de sentir vontade imperiosa de mexer nos olhos ou mesmo de ajustar os óculos deverá usar um lenço de papel, em vez dos dedos, e higienizar as mãos frequentemente." O especialistas alerta para o facto de a transmissão do novo coronavírus ocorrer através das mucosas e "a conjuntiva que é uma membrana que recobre o olho é uma forma de transmissão muito marcada", remata referindo que um dos primeiro casos de Covid-19 foi detetado por um oftalmologista.