A cidade ainda estava meia adormecida, mas junto a uma horta urbana recreativa dentro do Jardim da Amnistia Internacional, na zona de Campolide, em Lisboa, já se conversava. As trotinetes Lime estavam alinhadas e prontas a utilizar, mas não sem antes ficarmos com um retrato daquele que é o panorama da agricultura biológica praticada pelos habitantes da cidade de Lisboa e incentivada pela Câmara Municipal.

Sempre sobre as rodas de meios de transportes sustentáveis, dali seguimos num percurso que passou por São Sebastião, Parque Eduardo VII, Marquês de Pombal, seguindo pela Avenida da Liberdade, para só parar na Praça do Município, local onde terminou o passeio.

Tudo isto a propósito do quê? Do Dia Mundial do Ambiente, que se celebra esta quarta-feira, 5 de maio, e que levou a MAGG a passar a manhã com a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, com a Lime, com o Vereador de Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa, José Sá Fernandes, contando ainda com a participação de outros técnicos do município. Em várias paragens, mostraram que passos é que Lisboa — cidade eleita a Capital Verde Europeia 2020 — tem dado no sentido de se tornar mais sustentável, através da produção local, do consumo sustentável, do aumento da biodiversidade, da diminuição da pegada ecológica ou da eficiência e produção energética.

O Vereador de Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa, José Sá Fernandes, e Francisco Ferreira, presidente da Zero

Meios de transporte sustentáveis e mais zonas verdes

Uma trotinete elétrica da Lime

“Aquilo que nós fizemos hoje era impossível há uns anos. Conseguimos fazer este percurso muito rapidamente. Chegámos primeiro do que os que vieram de carro”, salientou José Sá Fernandes, à chegada do Parque Eduardo VII. Mas recuemos uns minutos.

A viagem tinha começado no Jardim da Amnistia Internacional, em Campolide, e em poucos minutos já estávamos no topo do Parque Eduardo VII. Tínhamos seguido de trotinete por um trecho do Corredor Verde Gonçalo Ribeiro Telles, que, inaugurado em 2012, tem um total de 2,5 quilómetros (liga Monsanto ao Parque Eduardo VII).

Havia sido idealizado já nos anos 70 por este arquiteto e é um exemplo de como houve uma aposta no crescimento das zonas verdes na cidade: em 2007 existiam cerca de dois mil hectares de zonas verdes em Lisboa, valor que, desde então, aumentou 230 hectares — a previsão é que este número cresça para mais 350 hectares, até 2021. O número de corredores verdes em Lisboa — caminhos que ligam diferentes pontos da cidade, onde se incluem ciclovias, parques, pontes pedonais, hortas, circuitos de fitness e prados biodiversos — já vai em cinco e prevê-se que aumente para nove, dentro das mesmas datas.

As ciclovias também estão a aumentar: em 2007 havia apenas sete quilómetros de ciclovias, valor que, em 2019, aumentou para 90 quilómetros (com 20 mil viagens diárias), estimando-se que em 2021 se atinjam os 200 quilómetros de rede ciclável, com um total de 3000 bicicletas partilhadas municipais disponíveis para os habitantes da cidade.

“A realização deste percurso em modos suaves de transportes tem por objetivo mostrar que as opções de mobilidade são hoje muito mais diversas e adaptáveis às reais necessidades dos utilizadores, inclusive de chegar a pontos da cidade menos servidos pelos transportes coletivos. Este é um setor onde a atuação é fundamental, pois contribui de forma significativa para a emissão de gases com efeito de estufa, para a poluição atmosférica e contribui para os elevados níveis de ruído nas cidades, reduzindo a qualidade de vida e a saúde das populações”, explica Francisco Ferreira, presidente da Zero.

De acordo com dados da Lime, que só entrou no mercado há oito meses, já foram percorridos em meios de transporte desta marca 1.900.000 quilómetros, o que representa a emissão de menos de 485 toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera.

Chegados ao Marques de Pombal, já depois de várias paragens, foi hora de trocar de meio de transporte. Das trotinetes saltámos para as bicicletas Gira, disponíveis em vários pontos da cidade desde 2017. As elétricas escasseavam, mas sem problema: o plano era descer a Avenida da Liberdade rumo ao Cais do Sodré, o que significa que as pedaladas teriam de ser poucas e sem grande esforço.

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De 0 a 700 talhões para hortas urbanas, em menos de dez anos

Das hortas aos transportes. Como é que Lisboa está a ficar mais verde?

Em 2009 Lisboa era uma cidade sem parques hortícolas. Em dez anos, o cenário mudou radicalmente: atualmente, existem 20 parques hortícolas e 700 talhões atribuídos.

“Tínhamos zero hortas e agora temos 700 talhões [terreno próprio para cultivo]”, sublinha o vereador José Sá Fernandes. Momentos antes, junto à horta recreativa de 45 metros quadrados, inserida no Parque da Amnistia Internacional, Rita Folgado, técnica da Câmara Municipal de Lisboa, explicava a forma como um habitante da cidade de Lisboa pode ficar responsável por uma parcela de terra de um parque hortícola da cidade: são atribuídas através de um concurso público.

Prova de que a medida terá tido sucesso está na proporção entre os talhões disponíveis e o número de concorrentes: “Normalmente, são três concorrentes para um talhão”, diz o vereador, acrescentando que o plano passa por aumentar o número de hortas (de 20 para 25) e talhões (de 700 para 1000) no espaço de um ano e meio. “Dá-se formação inicial e depois há acompanhamento técnico”, diz Rita Folgado, numa alusão ao apoio dado aos habitantes a quem são atribuídas as hortas, que contribuem para o aumento das zonas verdes em contexto urbano.

De acordo com a Zero, estes parques hortícolas urbanos “trazem diversos benefícios”, tanto para a cidade, como para a própria população: permitem a produção de alimentos biológicos pelas próprias famílias, o que representa um contributo indireto para os seus rendimentos, ao mesmo tempo que aumentam a segurança alimentar, em espaços vigiados e monitorizados. Além disso, promovem a sazonalidade dos alimentos e o consumo local, dois fatores chave na diminuição da pegada ecológica.

Os prados biodiversos

A zona onde está instalado um prado biodiverso, junto ao antigo Palácio de Justiça, em São Sebastião

É logo no início do corredor verde Gonçalo Ribeiro Telles, junto ao antigo Palácio de Justiça, que encontramos semeados prados biodiversos, espaços verdes que, como explica o vereador, “não precisam de água [não têm de ser regados, o que significa que não há gasto de recursos hidráulicos], são bonitos, absorvem carbono, o que é ótimo para meios urbanos, por causa da poluição.”

Além de não terem necessidades de água, por serem mais adaptados ao clima, estes espaços representam uma solução que contribui para o aumento de espécies animais na cidade, aumentando, assim, tanto a retenção de água no solo, como a biodiversidade.

Duarte Mata, arquiteto paisagista e assessor do vereador, disse que este será um dos prados que terá ovelhas a pastar, medida noticiada no final de maio e integrada no projeto Life, ganho pela primeira vez pela Câmara Municipal de Lisboa, que, assim, receberá um financiamento de 2,7 milhões de euros. Pretende dar continuidade, tanto ao tratamento, como ao processo de crescimento das zonas verdes da cidade, onde se inserem tanto parques, como jardins, hortas ou prados.

A introdução da primeira área piloto com um hectare de prado biodiverso aconteceu em 2012. Em 2019, existem já sete hectares instalados, sendo que aquilo que se prevê é que em 2021 existam já mais de 20 hectares.

A poupança no consumo de água e sistemas de rega inteligentes

O Parque Eduardo VII

Os números falam por si: em 2018 consumiu-se menos 1,3% de água no concelho de Lisboa, face a 2017. Naquilo que se refere aos consumos potáveis, o valor desceu, no espaço de um ano, 50%.

A diminuição no consumo de água é fruto de uma série de medidas que têm sido implementadas na cidade. Além dos prados biodiversos que excluem o gasto deste recurso, há ainda sistemas de rega “inteligentes”, como diz o vereador. Aquele que está a funcionar no Parque Eduardo VII é exemplo disso, ainda que o consumo ali seja feito de uma fonte potável. “Aqui só há rega quando o solo está seco, quando não tem humidade, através de um sensor que monitoriza e deteta”, explica José Sá Fernandes.

É este o sistema de rega que está a ser implementado em todos os novos espaços verdes da cidade, desde 2013. “A poupança de água neste jardim é de cerca de 70% — na cidade toda, poupámos 50% de água nas regas”, acrescenta.

O edifício da Câmara Municipal de Lisboa como exemplo de eficiência energética e de produção local de energia

Os painéis fotovoltaicos no terraço da Câmara Municipal de Lisboa

Trocadas as trotinetes pelas bicicletas, a visita seguiu para a Praça do Município, para terminar no terraço do Passos do Concelho,  onde fica a Câmara Municipal de Lisboa. Este edifício quer dar o “exemplo”, através da implementação de uma série de práticas que permitiram reduzir o consumo de energia e aumentar a autonomia energética: um sistema votovoltaico instalado no terraço em setembro de 2018, intervenção no sistema de iluminação que passou a integrar luzes LED, janelas com vidros que permitem um bom isolamento térmico e alterações no ar condicionado, com integração de um sistema de gestão próprio, com estação metrológica e centralizado.

“As alterações em termos de consumo de energia são muito intensas”, diz Maria João Rodrigues, directora-executiva da Lisboa E-Nova. “Na combinação das várias medidas de eficiência energética e de produção local de energia — substituição de janelas, substituição de iluminação, implementação do sistema votovoltaico — conseguimos uma poupança de energia de 50% neste edifício”, explica. “Vemos paulatinamente a curva a descer conforme as medidas são implementadas. Em setembro ficamos muito contentes, porque foi claro o impacto da entrada do sistema votovoltaico.” O objetivo, conta, é replicar as medidas noutros edifícios da CML.

“O autoconsumo em Lisboa está realmente a arrancar e aquilo que temos como objetivo para 2021 é termos sistemas fotovoltaicos com oito megawatts de potência de interligação em edifícios da cidade, mas estamos convictos de que essa meta vai ser ultrapassada.”

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