Numa era em que tudo acontece online, a MAGG procurou saber quais os riscos que as crianças e jovens enfrentam quando imagens suas são publicadas na internet e quais podem ser as consequências desses atos a nível psicológico.

Na época de regresso às aulas, é bastante comum vermos publicações de pais orgulhosos, que querem mostrar o filho no primeiro dia de aulas ou numa nova fase da vida. Percebemos que os pais não o fazem por maldade, mas já pensou nos riscos que tal atitude comporta? Será que está consciencializado para o que pode acontecer?

5 perguntas e respostas sobre crianças e redes sociais. Estarão os pais a dar um bom exemplo?
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Paulo Rossas, Chief Innovation Officer na Lisbon Digital School, começa por nos dizer que a partilha de fotos de crianças nas redes sociais é um comportamento errado. Afirma que essa exposição nas redes sociais é “praticamente um abrir as portas de casa ao mundo”. Desde o bullying, que pode ter como base as publicações nas redes sociais, à exposição a criminosos, pois nunca sabemos a quem é que a foto vai chegar e para que fim poderá servir, até à partilha de informações privadas, como uma placa identificativa de um local, tudo pode servir para fazer mal. Quando publicamos alguma coisa na internet, não nos podemos esquecer de que toda a gente pode ter acesso a ela, e não apenas os nossos amigos.

Paulo Rossas
Paulo Rossas é especialista em redes sociais. créditos: Facebook

Outra coisa de que pouca gente se lembra, é que também pode estar a condicionar o seu filho no futuro, em termos de emprego, e nem se aperceber disso. Muitas empresas já fazem uma pesquisa online de forma a tentarem saber mais informações sobre um candidato quando pretendem contratar alguém. Se as empresas conseguem descobrir determinadas fotos e informações, de certeza que outras pessoas, com fins não tão positivos, também conseguem ter acesso a esses dados. No fundo, são os pais das crianças, sem o seu controlo e devido consentimento, que estão a criar as pegadas digitais dos filhos.

“Nós temos de saber andar nas redes sociais, e a maior parte das pessoas não tem formação para isso. Em termos de literacia digital estamos muito atrás”, afirma o especialista, acrescentando ainda que muitas das pessoas não fazem ideia das informações que uma simples fotografia pode conter.

E agora, com a chegada da inteligência artificial e num período onde os deep fakes se estão a popularizar, todos os cuidados são poucos. “Qualquer pessoa com o mínimo dos conhecimentos consegue fazer tudo com uma fotografia”, acrescenta Paulo Rossas. O caso que aconteceu em Espanha é prova disso. De acordo com o “Jornal de Notícias”, um software de Inteligência Artificial conseguiu criar fotografias falsas onde raparigas menores aparecem despidas. Também nos Estados Unidos, este tipo de tecnologia cria problemas. De acordo com o “Observador”, o número de vítimas chantageadas com imagens alegadamente comprometedoras, mas falsas, produzidas através de fotografias disponibilizadas online, tem aumentado.

O vídeo abaixo retrata de forma real algumas das consequências da partilha de fotos dos seus filhos nas redes sociais. Veja-o com atenção.

Pressão das redes sociais pode ter efeitos graves nas crianças

No entanto, nem tudo se resume aos perigos já referidos. O lado emocional das crianças também não pode ser esquecido. Catarina Graça, psicóloga clínica, explica que quanto mais idade a criança tiver, mais impacto essa exposição poderá ter sobre ela e sobre os seus comportamentos.

A psicóloga apela a um caráter preventivo por parte dos pais, para que a criança não sofra qualquer transtorno, seja no presente ou no futuro. Uma criança constantemente sujeita à pressão das publicações nas redes sociais pode sofrer de várias maneiras.

Catarina Graça
Catarina Graça é Licenciada em Psicologia Clínica e Psicoterapeuta Supervisora na Clínica da Mente créditos: Facebook

Desde problemas de autoestima à depressão, e ao desenvolvimento de uma espécie de fobia social que pode fazer com que a criança se isole. É ainda possível criar uma aversão à captação de fotografias/vídeos, devido à exposição de que já foi alvo. Os ataques de pânico e a ansiedade são outros dos problemas que podem surgir quando uma criança está sujeita a este tipo de comportamento.

Catarina afirma ainda que já há crianças que alteram o próprio comportamento quando sabem que estão a ser filmadas. “Esse comportamento é mau e grave, porque as próprias crianças são incutidas desde muito novas a uma exposição já falseada para mostrar aos outros que estão no seu melhor”.