Era uma tarde como qualquer outra. Entre os sons de dedos a bater furiosamente nas teclas, bolachas a serem devoradas e entrevistas a realizarem-se na sala a que chamámos aquário, era um dia normal na redação da MAGG. Só que a acalmia estava prestes a ser interrompida. De repente, alguém profere as seguintes palavras: "Sabiam que o hi5 ainda existe?".
Ah, o hi5. Antes dos tempos do Facebook, Instagram, Pinterest, Twitter ou agora a mais recente Vero, as nossas vidas virtuais concentravam-se no belo hi5. Até 2008 foi um dos 20 sites mais visitados na internet (esta apanhou-me desprevenida), em 2007 foi o site mais visitado em Portugal (incrível). Infelizmente para o hi5, Mark Zuckerberg entrou para a faculdade e lembrou-se de criar uma plataforma para avaliar as miúdas mais giras. Pouco a pouco o Facebook mudou de ângulo, consolidou-se no mercado, e de repente é a rede social mais famosa do mundo. Adeus hi5.
Foi como se nunca mais me tivesse lembrado que tal plataforma alguma vez tinha existido. Quando fui recordada da sua existência, porém, assumi que seria impossível a minha conta existir. Estava enganada: não precisei de mais do que um minuto para entrar online. A password ainda é a mesma, se bem que agora tem uns quantos números à frente — acrescentos a que a evolução da internet nos obrigou.
À primeira tentativa, entrei no meu perfil do hi5 e quase ceguei com a foto de perfil. Tinha sido publicada em janeiro de 2010 (só consigo perceber isso pelos comentários), portanto há mais de oito anos. Acho que engoli em seco. A sério que o hi5 ainda existe? Pior, a sério que aquela sou eu?
Descobrir o meu hi5 foi como entrar numa cápsula do tempo. Só que foi como entrar numa daquelas cápsulas do tempo que deveriam ter ficado enterradas no jardim para sempre e nunca, mas mesmo nunca mais, ver a luz do dia outra vez. Guardava boas memórias da minha existência entre os 18 e 21 anos. Infelizmente essa minha existência tirava fotos deitada na relva e escrevia legendas como "Amando o Céu Sempre." Assim mesmo, com maiúsculas.
O meu hi5 tinha guardadas ainda 50 fotografias. 50 humilhantes fotografias que provam como houve uma altura da minha vida em que me debati com problemas de excesso de peso, não tinha a menor noção de estilo e tirava fotos com lentes de contacto azuis — que me provocaram uma enorme infecção nos olhos, mas isso as redes sociais escusaram de saber. Ontem como hoje, há pormenores que é melhor ficarem longe do mundo virtual.
Há mais e pior. Se eu já me tinha esquecido que um dia fiz uma permanente para encaracolar o cabelo? Já, mas o hi5 fez questão de me recordar. Também não fazia a menor ideia de que era capaz de publicar fotos desfocadas (em 50, pelo menos 25 estão assim) ou bêbeda (em 50, estou nesse estado 49).
Como se tudo isto não fosse mau o suficiente, descobri que nem sempre tive jeito para as palavras. Ora vejamos: numa selfie pavorosa em que tenho metade da cara ao sol e outra metade à sombra, escrevi a frase "altamente sexy... a paisagem". Sexy era uma palavra muito utilizada por mim nesta altura, uma vez que também tenho uma foto com uma amiga onde escrevo "We are sexy or what? Lol".
Ai o lol. Não acredito que houve uma altura em que escrevi lol. Será que também dizia lol? Felizmente não existem registos em áudio no meu hi5. Honestamente já perdi toda a esperança que tinha em mim, portanto já não digo nada. Também escrevia "viva o mêtro" (espero que fosse uma private joke), "nunca o Colombo teve tanta animação" e "smileeeee".
Ao que parece o hi5 mudou — e agora mais parece um site de encontros
Precisei de estar apenas dez minutos online para receber uma mensagem de um senhor chamado Pintas que me dizia um "olá" seguido de um emoji a piscar o olho — o hi5 já evoluiu e aceita emojis, contrariamente aos que eu colocava "à mão". Quando voltei três dias depois para escrever este texto, já ia nas 16 mensagens.
Achava que já ninguém usava o hi5? Pois, também eu. Pelos vistos estão por lá muitos solteiros, e ainda uma conta chamada sexcasal que, bem, não quis abrir a mensagem.
O hi5 transformou-se num site de encontros. E se dúvidas houvesse pelas mensagens que recebi, dispersam-se todas com o modo Meet Me. Essencialmente, este separador permite fazer match com os utilizadores que nos interessam, ou dizer não e seguir em frente.
Fui pesquisar na internet: em 2011 o hi5 foi comprado pela empresa Tagged, agora conhecida pelo nome If(we), que detinha uma plataforma para conhecer pessoas. No ano passado juntaram-se à MeetMe, uma aplicação que também tem como intuito alargar o leque de amigos, e quem sabe futuras relações amorosas. Está explicado porque é que estamos perante um novo Badoo, perdão, Tinder.
Só fica por perceber o separador chamado Pets. Faz parte do hi5 e pelos vistos serve para comprar e vender "os seus pets preferidos", sendo que os pets são utilizadores reais da rede social. Portanto, temos pessoas a leilão no hi5. Espero que seja tudo a brincar. E é. Trata-se de um jogo.
Antes de publicar este artigo, desloquei-me às configurações e selecionei a "opção cancelar conta". "Tem certeza que deseja cancelar sua conta?", perguntou-me o hi5. "Seus 123 amigos sentirão saudades, e você ficará sem receber as atualizações e mensagens enviadas por eles." Hi5, aposto que esses meus 123 amigos ficariam em choque se soubessem que a conta deles ainda existe.
Nas opções para explicar o porquê de cancelar a conta, a primeira diz: "Eu estou em um relacionamento — suspenda temporariamente a minha conta". Temporariamente, hi5? Mas já não acreditas no amor? Bem, vamos passar à frente. Quero cancelar a minha conta, sim. Adeus e, honestamente, até nunca. Há cápsulas do tempo que não vale mesmo a pena abrir. Esta é uma delas.