É a série do momento que pôs toda a gente a falar de tigres e leões. “Tiger King”, o novo documentário da Netflix, acompanha a história de Joe Exotic, o dono de um jardim zoológico de felinos que está preso desde 2018 por ter encomendado a morte da ativista dos direitos dos animais Carole Baskin, também ela dona de uma reserva não muito diferente de um zoo.
Por estar a ser um sucesso – é das séries mais vistas da Netflix desde a sua estreia – existem especialistas preocupados com o facto de este documentário romantizar o tráfico e criação destes animais. “Mais tigres vivem em quintais, jardins zoológicos de rua e camiões nos Estados Unidos do que aqueles que continuam em estado selvagem. Este fenómeno é perpetuado por pessoas como Joseph Maldonado-Passage, a estrela conhecida por Joe Exotic em “Tiger King”, o documentário estrela da Netlix”, explica a jornalista Rachel Nuwer, no “New York Times”, repetindo uma ideia expressa no documentário.
Apesar de ter sido apresentado aos entrevistados do documentário como uma obra para retratar os problemas da propriedade privada dos grandes felinos, os especialistas alertam que a realidade é outra. Os produtores venderam a todos a ideia de que “Tiger King” seria uma versão com tigres e leões de “Blackfish”, um documentário que vendeu um Óscar e que provocou uma reação generalizada contra o SeaWorld, devido às más condições em que mantinham as baleias e orcas no parque. O resultado foi uma descida no preço das ações do parque, sendo que anos mais tarde a empresa anunciou que ia encerrar o programa de criação de orcas e acabar com os espetáculos teatrais. Os especialistas garantem que “Tiger King” não vai ter a mesma resposta e não irá defender os direitos dos tigres, muito pelo contrário, poderá até romantizar a ideia de que é giro ter um felino bebé no quintal.
“’Tiger King não é um ‘Blackfish’ para os grandes felinos”, explica Manny Oteyza, o produtor de ‘Blackfish’, ao mesmo jornal. Isto porque os especialistas acreditam que este documentário cria “um glamour generalizado em torno da propriedade de tigres e atribui um heroísmo popular à personalidade de Joe Exotic, o que pode fazer recuar os esforços feitos para acabar de vez com o abuso e propriedade de grandes felinos”.
A resposta ao documentário que os especialistas temem, pode passar por um aumento de desejo em ter este tipo de felinos em casa ou visitar parques que permitam fotografias com estes animais selvagens “Vamos começar a ver mais selfies com crias de felinos, mais pessoas a querer crias de tigres”, explicou Tim Harrison, um polícia reformado e um especialista em vida selvagem exótica. Harrison foi convidado a participar no documentário mas recusou porque acreditava que “Tiger King” poderia potencialmente ser um “um programa de horrores”.
Apesar de estar preso por ter encomendado a morte da ativista e por ter cometido vários crimes, entre eles tráfico de animais selvagens, as mensagens de apoio a Joe Exotic não param de se multiplicar nas redes sociais. As hashtags como “FreeJoeExotic (libertem Joe Exotic, em português) ou #JusticeforJoe (justiça para o Joe, em português) estão a tornar-se populares no Twitter dando a entender que muito espectadores acreditam que Joe Exotic foi acusado injustamente pelas ameaças de morte a Carole Baskin. Por isso, as ameaças à ativista sucedem-se por parte dos fãs de Joe Exotic: Baskin foi inundada com e-mails de ódio e ameaças de morte. Existem também vários eventos criados no Facebook que ameaçam invadir o santuário para felinos de Carole Baskin.
“Não percebo como é que alguém fica do lado de alguém que põe os animais em jaulas e que depois os mata”, explica ao “New York Times” James Garreston, um homem que colaborou com a polícia para reunir provas conta a estrela do documentário da Netflix. “As pessoas estão num frenesim agora”.