Atenção, este artigo contém spoilers sobre a quinta temporada da série Netflix "The Crown". Se não quer saber pormenores sobre os 10 episódios, por favor, não continue a ler. 

9 de novembro é a data a agendar no calendário. A quinta temporada da série que retrata de forma "ficcional" a história da família real britânica está quase a chegar à Netflix. São 10 episódios, cuja ação se passa entre 1991 e 1997, o período mais conturbado do reinado da rainha Isabel II. Apesar de ser um tempo de prosperidade económica para o Reino Unido, há convulsões retratadas na série, como o período pós fim da URSS, a passagem de Hong Kong do Reino Unido para a China, em 1997 (interpretado por alguns historiadores como o fim do Império Britânico) e a eleição de Tony Blair, após 18 anos do Partido Conservador no poder.

No entanto, e como bem sabem os fãs de "The Crown", não é só de História que é feito o sucesso da série, mas também das histórias dos bastidores, dos amores, dos desamores e das desilusões. E como está bem recheada esta temporada.

Das facadinhas no casamento de um já septuagenário príncipe Filipe (magistralmente interpretado por Jonathan Pryce, que não precisou de criar um 'boneco' para dar credibilidade à personagem), a Camilla Parker Bowles a fazer as malinhas, depois do escândalo "Tampongate", passando por um adolescente príncipe William, tolhido de vergonha ao ver o casamento dos pais exposto perante o mundo na TV, a quinta temporada de "The Crown" tem muito pouco para fazer sorrir.

Veja o trailer

A MAGG analisou à lupa os 10 episódios da nova temporada da série e conta-lhe quais os momentos favoritos de cada episódio. Revelamos-lhe também a nossa teoria da conspiração sobre a quinta temporada de "The Crown"... e envolve o rei Carlos III.

Episódio 1: A primeira aparição da 'nova' Diana

the crown quinta temporada
créditos: Netflix

O tom de voz? Igual. O olhar? Igual. O corte de cabelo, os gestos? Iguais. Elizabeth Debicki faz um trabalho impressionante a imitar (sim, a palavra certa é imitar) a princesa Diana. E tanto assim é que, quando surge pela primeira vez, quase acreditarmos tratar-se da própria princesa de Gales.

O problema é o resto. Não há outra forma de dizer isto. Em "The Crown", Diana é retratada como uma tolinha, que ora faz olhinhos de carneiro mal morto, ora faz beicinho. Ora está de olhar esgazeado para o vazio, como se fosse um veado encadeado por faróis, ora está a chorar, ou a planear uma vingança contra o marido. Saltita do sofá para a cama, da cama para o sofá, e pouco mais. Fisicamente? Impressionante. Mas "The Crown" faz um péssimo serviço de homenagem à princesa Diana, ao seu trabalho filantrópico, ao impacto cultural que teve, aos seus looks icónicos.

Em comparação, o príncipe Carlos, interpretado por um ó-tão-charmoso Dominic West, sai muito mais beneficiado. O que está relacionado com a teoria da conspiração que congeminámos. Mas já lá vamos.

Episódio 2: O diálogo entre o príncipe Filipe e Isabel II sobre a "folga de Deus"

The Crown

"Verdade vs. realidade nas relações, uma masterclass", podia ser o nome do segundo episódio desta temporada. Com os casamentos dos filhos a ruírem, a rainha Isabel II vê-se ela própria confrontada com uma nova amizade especial do marido. Segue-se um diálogo delicioso entre marido e mulher sobre verdade, segredos, traições e sobre o facto de Deus, segundo a monarca, saber tudo. "Acho que ele, de vez em quando, tira uma folga", pontua o duque de Edimburgo.

Jonathan Pryce, que dá vida ao príncipe Filipe, é um dos grandes desempenhos desta temporada. Imelda Staunton, por seu turno, vai bem, mas há qualquer coisa que falha. Não tem a pujança de Olivia Colman (temporadas 3 e 4), nem a frescura da de Claire Foy (temporadas 1 e 2).

Episódio 3. A história de Mohammed Al Fayed (e de Sidney Johnson)

Mohamed Al Fayed (Salim Daw) com o filho, Dodi (Khalid Abdalla)
Mohamed Al Fayed (Salim Daw) com o filho, Dodi (Khalid Abdalla) créditos: Netflix

Este é, de longe, o nosso episódio favorito. Os guionistas de "The Crown" têm o condão de nos fazer vasculhar os factos históricos quando, pelo menos uma vez em cada temporada, nos atiram com uma história menos conhecida da opinião pública, ou que ficou esquecida lá atrás. A ascensão de Mohamed Al-Fayed, desde vendedor nas ruas de Alexandria, no Egito, a magnata da hotelaria e do comércio de luxo em França e no Reino Unido, cruza-se com a incrível história de Sidney Johnson. Natural das Bahamas, Johnson começou, ainda jovem, a trabalhar como empregado do duque de Windsor (rei Eduardo VIII, tio de Isabel II, que abdicou do trono em 1936).

Décadas mais tarde, viria a trabalhar para Mohamed Al-Fayed. Um cruzar de destinos, onde a bondade e ambição tiveram, de forma excecional, um casamento feliz.

Episódio 4. O reencontro da princesa Margarida e do capitão Peter Townsend

O reencontro da princesa Margarida e do capitão Peter Townsend
O reencontro da princesa Margarida e do capitão Peter Townsend créditos: Netflix

30 anos (ou melhor, quatro temporadas) depois, o nosso coração palpita pelo par mais trágico-romântico da história da família real britânica. O reencontro, que na vida real foi um almoço, é retratado em "The Crown" com a magia dos contos de fadas da Disney. A irmã da rainha Isabel II e o capitão Peter Townsend (interpretados por Lesley Manville e Timothy Dalton) protagonizam uma das cenas mais bonitas desta temporada, e que promete arrancar suspiros aos mais românticos.

Neste episódio, um delicioso e bem humorado diálogo entre irmãs:

princesa Margarida: "amo-te."
rainha Isabel II: "também te amo."
princesa Margarida: "isto foi tão classe média! Promete-me que não voltamos a fazer isto."
rainha Isabel II: "prometo!"

Episódio 5. Carlos, o príncipe rebelde

the crown quinta temporada
Príncipe Carlos (Dominic West) créditos: Netflix

Chegou a altura de partilharmos a nossa teoria da conspiração. Se, por um lado, é verdade que as histórias que aconteceram neste período de tempo não deixam o príncipe Carlos bem visto (em particular o caso com Camilla Parker-Bowles, exposto primeiro na publicação das escutas telefónicas e, depois, na entrevista de Diana ao programa da BBC "Panorama"), por outro lado há, ao longo de todos os episódios, um espírito reivindicativo, antissistema. O atual rei Carlos III é retratado como alguém que queria mudar a instituição de dentro para fora, mas foi impedido por todos.

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Ninguém nos tira da cabeça que a quinta temporada de "The Crown" teve não só a aprovação, como algum tipo de colaboração do atual rei. E é o final deste quinto episódio, onde é mostrado o trabalho de Carlos com a sua fundação, The Prince's Trust, que adensa as nossas suspeitas. A Netflix, que nesta temporada viu-se obrigada a colocar um alerta para o facto de esta série ser "ficcional", termina este episódio com uma explicação sobre o trabalho da fundação criada pelo príncipe Carlos. "Desde 1976, o Prince's Trust já ajudou um milhão de jovens a alcançarem os seus objetivos".

Suspeito, não é?

Episódio 6. O trágico destino dos Romanov

Mais uma vez, a Netflix (e bem) a fazer de canal História e a obrigar-nos a ir à procura de informação sobre a relação entre os últimos czares da Rússia e a família real britânica. Primos e inacreditavelmente parecidos, o rei Jorge V (avô de Isabel II) e o czar Nicolau II tinham uma relação estreita, até que a revolução bolchevique chegou à Rússia. O rei inglês, com medo de que os ventos do comunismo chegassem às ilhas britânicas, recusou oferecer asilo ao primo e respetiva família e o resto é História. Os Romanov foram assassinados e os seus restos mortais apenas descobertos muitas décadas depois.

A visita de Boris Ieltsin a Londres e a ida de Isabel II a Moscovo, e todos os diálogos (com recurso a intérpretes) que acontecem nestes momentos são absolutamente maravilhosos.

Episódio 7. Martin Bashir, o grande vilão

martin bashir

Prasanna Puwanarajah (que volta a fazer o mesmo papel que já tinha interpretado no filme de 2013, "Diana", com Naomi Watts como protagonista) fez um ótimo trabalho a transformar o anódino Martin Bashir num vilão. O jornalista da BBC que conseguiu, através de chantagem e da falsificação de documentos, convencer a princesa Diana de que estava a ser vigiada e, assim a conceder-lhe uma entrevista, é o grande mau da fita desta temporada.

O serviço público de rádio e televisão do Reino Unido já tinha, na vida real, saído com a imagem danificada, quando, este verão, se viu obrigado a pedir desculpa aos príncipes William e Harry, na sequência de novas revelações sobre os métodos usados por Martin Bashir para obter a entrevista que detonou a família real britânica.

"The Crown" não faz qualquer esforço em suavizar a incúria da BBC e, paradoxalmente, a subserviência à família real britânica.

Episódio 8. A rainha e William veem a missa na BBC

príncipe William the Crown
créditos: Netflix

Propositadamente ou não, os filhos de Carlos e Diana são poupados nesta temporada de "The Crown". Harry aparece em poucas cenas e quase não tem falas, e William surge como um adolescente tímido, muitas vezes envergonhado perante os telefonemas da mãe, que lhe conta pormenores da sua vida emocional.

William é interpretado por Senan West, filho do ator que dá vida ao príncipe Carlos. A interação entre os dois atores é escassa, e ficamos com a sensação de que não será pela falta de talento de Senan, mas sim de alguma contenção por parte dos produtores de "The Crown" (uma tentativa de evitar processos judiciais, talvez?).

No meio de tanto escândalo e drama, um momento simbólico e de ternura entre uma avó septuagenária a tentar adaptar-se às novas tecnologias (leia-se, à televisão por satélite) e um neto, deixado ao abandono pelo pai e pela mãe num colégio interno: depois de percorrer vários canais, Isabel II pede ao neto para procurar a BBC. E ficam em silêncio a ver a missa.

Episódio 9. O (improvável) reencontro de Carlos e Diana e 'aquela' omelete

Carlos e diana the crown temporada 5
créditos: Netflix

Após assinarem o acordo de divórcio, já com a autorização da rainha Isabel II, Carlos e Diana reencontram-se em Windsor, onde vive a princesa de Gales, numa espécie de reclusão luxuosa. E é neste episódio que a Netflix põe o "f......" em "ficção.

O ex-casal tem uma conversa civilizada, amigável, até ternurenta e, quais amigalhaços, como se não se tivessem arrasado mutuamente em programas de televisão vistos por milhões, partilham uma desastrada omelete feita por Diana. A coisa, como é de prever, azeda, e eis que surge, da boca de Diana, a tirada mais "telefilme de domingo à tarde" desta temporada. "Não casei com uma família. Casei com um homem. Casei contigo porque te amava". Hmmm, não.

Episódio 10. Kelly Fisher

Facto engraçado. Quando começou a envolver-se com a princesa Diana, Dodi Al Fayed era um homem comprometido e prestes a casar-se. A felizarda, a manequim e atriz norte-americana Kelly Fisher, surge neste último episódio como namorada do filho do magnata egípcio que, por seu turno, já está a congeminar uma aproximação à família real britânica, via Diana.

A quinta temporada da série termina em julho de 1997, dois meses antes da morte de Diana e Dodi, vítimas de um acidente de carro em Paris. Os ventos de mudança, com a vitória de Tony Blair nas eleições gerais e a passagem de Hong Kong para a China (momento simbólico do fim do Império Britânico) contrastam com a importância que o Britannia, o iate real, tem nas discussões de Isabel II.

Fica no ar a dúvida: será que o acidente que vitimou a princesa Diana vai ser abordado na sexta temporada ou irá a ação dar um salto temporal até à idade adulta dos príncipes William e Harry? Uma coisa é certa. A sexta temporada, como já foi confirmado pela Netflix, será mesmo a última.

"The Crown": quem é quem na quinta temporada

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