Na rentrée radiofónica, a Comercial refrescou a sua imagem. Há novos podcasts, um logótipo novo, jingles. Equipa que ganha, mexe-se, e Pedro Ribeiro, pese o facto de estar à frente da emissora do grupo Bauer Media Audio Portugal há 18 anos, não se sente à sombra da bananeira.
Líder de audiências quase ininterruptamente desde 2012, a Comercial tem no seu programa das manhãs a âncora deste sucesso. Pedro Ribeiro, juntamente com Nuno Markl, Vasco Palmeirim e Vera Fernandes são a companhia de milhares de portugueses de segunda-feira a sexta-feira. Mas nem sempre foi assim, e o caminho até chegar a esta fórmula de sucesso foi demorado.
Em entrevista à MAGG, o diretor de programação da rádio Comercial faz também um balanço da mudança para o grupo alemão Bauer Media Audio Portugal que, em maio de 2022, adquiriu a Media Capital Rádios (composta por Cidade FM, M80, Rádio Comercial, Smooth FM e Batida FM).
Revela também porque é que nunca priorizou a televisão, embora seja presença assídua no ecrã há vários anos. Atualmente, faz parte, juntamente com Nuno Gomes e Pedro Barbosa, do painel de comentadores do formato "O Futebol É o Momento", da Sport TV +, moderado por Cláudia Lopes. O programa, anteriormente conhecido como "Mais Futebol", mudou de nome e de canal depois de a TVI, no processo de transição da TVI24 para a CNN Portugal, ter decidido colocar um ponto final no formato.
Pedro Ribeiro é casado com Rita Rugeroni há nove anos e, em conjunto, têm uma filha, Carminho, de 6 anos. O diretor de programação da rádio do grupo Bauer Media Audio Portugal é ainda pai de de Mafalda, de 23 anos, Gonçalo, de 20, e Maria, de 11, de relações anteriores. Rita Rugeroni, que regressou recentemente à Comercial depois de um hiato de quase um ano, é também mãe de Miguel, de 14 anos e de Francisco, de 12, fruto de um antigo relacionamento.
Em novembro completa 18 anos como diretor de programação da rádio Comercial. Disse no podcast "Geração 70", do jornalista Bernardo Ferrão, que estaria a ponderar "passar o testemunho".
Não tenho nada pensado, mas tenho no horizonte que isto não é eterno. Um dia há-de ser outro a estar aqui, há-de ser outro a apresentar o programa da manhã. Não é uma coisa em que esteja a pensar já, mas está no meu horizonte.
Sente-se com energia, com vontade e com gosto para continuar?
Isso sinto e porque estamos a viver tempos muito desafiantes e particulares. Eu gosto de fazer parte desses tempos. Tenho a noção que isto é de ciclos e, a seguir ao meu, virá outro ciclo qualquer. Mas estou muito entusiasmado para estar na luta como estamos, neste novo cenário em que o negócio está. Estou muito entusiasmado para fazer parte, não vou reformar-me já amanhã. Até porque não tenho idade (risos)!
Se tivesse de dividir estes 18 anos em fases, como faria?
Nunca pensei nisso mas... a primeira fase foi aprender. Hoje percebo que não estava preparado. Não tinha ideia do que envolvia liderar uma estação desta envergadura. Foi aprender, foi dar uns tiros ao lado, mas foi tirar partido de algo que eu acho importante, que foi ter uma visão para isto. Nessa primeira fase foi perceber como poderíamos lutar pela liderança. Estávamos em terceiro e nunca tínhamos sido primeiros. Como é que íamos construir uma marca, limpá-la das incongruências que tinha acumulado ao longo dos anos. Depois, foi o ataque à liderança, que durou até 2012, altura em que fomos líderes pela primeira vez. Depois, foi cimentar essa liderança, torná-la habitual. Ao longo dos últimos 10 anos, a estação foi quase sempre líder. E agora esta fase em que estamos a entrar agora, que é de aproximação a uma nova realidade, a uma nova abordagem ao ouvinte e aos novos ouvintes.
"Agora é muito fácil falar do sucesso das "Manhãs da Comercial", dos espectáculos ao vivo e tal. Mas lá atrás, quando foi preciso escolher aquelas pessoas, aquele método de trabalho e dar-lhes tempo, não era assim tão óbvio."
Há uma coincidência temporal entre a fase de ataque à liderança e o rejuvenescimento da rádio. Depois de consolidada a equipa das "Manhãs da Comercial", aconteceram uma série de revoluções nas manhãs das outras rádios, que culminam no fenómeno que é, atualmente, o "Extremamente Desagradável". Considera-se, por assim dizer, o 'pai' desse rejuvenescimento?
Eu já tenho quatro filhos, não preciso de mais paternidade na minha vida (risos)! Quando atacámos a liderança, percebemos desde o início que, para ser líder na rádio, é preciso ser líder nas manhãs, o horário nobre da rádio. E nós tentámos criar o nosso paradigma. Estávamos a combater contra uma manhã que era absolutamente líder e que estava em cima do modelo homem-mulher, e nós entendemos que havia espaço para fazer isso de outra maneira. Que, além de homem-mulher, podíamos ter um sidekick, que tivesse uma parte de humor e de criatividade, uma rubrica de humor residente e que, depois, à volta, fôssemos tendo uns acrescentos de vez em quando.
A primeira barreira foi 'mas tanta gente a falar na rádio de manhã? As pessoas estão a acordar?'. Foi acreditar que isso era viável, que era uma alternativa competitiva ao modelo instalado, que já vinha do "Despertar" da Olga Cardoso e do António Sala. Decidimos que íamos tentar outra via, e isso é uma matriz da rádio Comercial: nós achamos sempre que, para fazer como os outros, os outros fazem melhor. Criámos o modelo das manhãs com uma equipa nuclear de quatro pessoas e um modelo de regresso a casa com duas pessoas, contrariando o que se fazia na altura. Por sorte, correu bem. Podia não ter corrido (risos)! Uma lição que se tem é o tempo que as coisas levam. Agora é muito fácil falar do sucesso das "Manhãs da Comercial", dos espectáculos ao vivo e tal. Mas lá atrás, quando foi preciso escolher aquelas pessoas, aquele método de trabalho e dar-lhes tempo, não era assim tão óbvio. Uma lição é: isto leva tempo. Na rádio não constróis nada de um dia para o outro, nem sequer de um ano para o outro.
Entre a formação da equipa, com o Pedro, Vasco Palmeirim, Nuno Markl e Vanda Miranda, em 2009, até à liderança, ainda foram uns aninhos.
Por isso é que eu digo: as pessoas só olham para a parte do barulho das luzes. Mas para teres o barulho das luzes a funcionar e ser impressionante, tens que trabalhar muito antes. E foram muitos anos a perder. E nessa fase tens de ter de fazer a equipa acreditar que estavas a fazer bem. Houve uma altura em que dizíamos 'já merecíamos estar à frente há mais tempo'. E nunca mais era.
Essa é a parte mais difícil da liderança, motivar as pessoas quando se está a perder?
Nós perdemos durante muitos anos até conseguimos ser líderes. É difícil, mas acho que apanhei a equipa numa altura da vida muito particular. Estava toda a gente com sangue na guelra. A mensagem que eu passava era: 'não há nada escrito em pedra a dizer que estamos condenados a não ser líderes. Vamos à luta, há coisas em que somos melhores do que eles e isto, com o tempo, vai lá'.
Às vezes é mais difícil manteres essa chama quando és líder há 10 anos. A malta mais nova, sobretudo, tem uma tendência a ser muito blasé perante as coisas. É como as crianças quando recebem presentes no Natal. Estão mais preocupados com o presente seguinte e não dão tanto valor. Às vezes, quando sai o Bareme [estudo de referência para o mercado da rádio, que quantifica e caracteriza a audiência], está toda a gente num grande excitex, 'primeiro!'. E a malta mais antiga, que já cá estava quando éramos terceiros, faz uma festa sempre. Nunca damos por garantido.
O que me assusta às vezes é a malta mais nova, que está cá há menos tempo, não ficar tão entusiasmada. Isso é muito desconcertante. A ideia de não dar isto por garantido também torna mais difícil a liderança em tempos de vitória alargada no tempo. É preciso rejuvenescer a equipa, é preciso ir afinando as mentes das pessoas, fazendo um briefing às pessoas que chegam. 'Olha, ganhaste hoje as audiências, amanhã isto começa do zero'. De dois em dois meses, isto começa do zero. É mais difícil quando as coisas correm mal, quando fazes escolhas que não funcionam. As pessoas só olham para as coisas que funcionam, mas houve muita coisa que fizemos e que não resultou.
Por exemplo?
Quando saiu a Vanda [Miranda] e pusemos a Luísa [Barbosa], aquilo não funcionou como nós queríamos. Andámos um bocado a ver o que é que dava. Felizmente, quando veio a Vera [Fernandes], acertámos. Mas há decisões que são difíceis de tomar. E que tu tomas pensando que é o melhor para a estação e ou não resultam logo, ou levam mais tempo do que pensávamos, ou são simplesmente erradas. E tudo faz parte.
Falando apenas da rádio linear: apesar de serem atualmente líderes, quais são os horários em que precisam de melhorar?
Precisamos de melhorar em todos, apesar de ganharmos nos painéis todos. Até as manhãs, que são líderes há não sei quanto tempo, precisam de melhorar. Nós mudámos muita coisa em setembro. Criámos rubricas novas, eliminámos outras, fomos buscar um grande produtor, o André Penim. Ou seja, não é pelo facto de estares a ganhar que deves pensar 'isto está feito, vamos ao resto'. No horário nobre, que é o maior gerador de ouvintes e receitas, tens de estar ainda mais atento e não cair na esparrela de 'isto está ganho'. Porque é importante também desafiar os protagonistas porque, senão, a tendência é para te instalares. É tentar ganhar com o "Comercial by Night", combatendo uma instituição do País como é o "Oceano Pacífico", e conseguindo. Mas leva tempo.
Fomos mexendo em coisas para rejuvenescer a antena, para darmos uma mensagem para o mercado e para os ouvintes que não estamos à sombra da bananeira, que arriscamos em talento novo, e foi isso que tentámos fazer. Sendo que este refresh vai ainda mais longe: novo logótipo, novos jingles, podcasts que decides transformar em programas de rádio. É muita coisa ao mesmo tempo. Mas foi porque nós sentimos que, mesmo liderando à vontade e há muito tempo, precisámos de agitar as águas. O mercado em que estamos hoje é muito diferente daquele em que era até há relativamente pouco tempo. Na nossa cabeça não há só linear. Isso acabou. Nós somos uma marca de áudio, não somos uma marca só de rádio. E temos de liderar esse novo mercado. Por isso é que pomos os podcasts no ar, por isso é que criámos o "Inacreditável" com a Inês Castel-Branco. Vamos criar mais, queremos estar à frente desse processo. Quem está a apostar nos podcasts de forma muito estruturada são marcas que não vêm da rádio. É o "Observador" e o "Expresso". Não sei se vamos liderar ou não, mas temos de estar na luta e temos de ser uma força interessante.
Quão sustentável é, num mercado tão pequeno como o português e tão saturado de conteúdos, e onde há tão pouco dinheiro disponível dos anunciantes, criar um nicho de negócio só de podcasts?
Acho que é viável se tu tiveres uma marca como a rádio Comercial para os promoveres e tiveres a noção de que este mercado é diferente de tudo o resto. Este mercado tem marcas como a rádio Comercial, mas ao lado tem grandes produtos, comercialmente muito potentes, que são de pessoas individuais, que vão ao mercado e dizem 'tenho aqui isto'. E isso é completamente novo. Ou seja, há protagonistas que não precisam das marcas. Depois, falta fazer a regulação. É um caminho que está a ser feito sem mapa. É preciso monetizar, é preciso haver um ranking, é preciso agrupar de uma forma coerente no ranking o que são podcasts que saem da programação das rádios, o que são podcasts originais, que têm uma periodicidade semanal ou mensal.
Estamos a semear para colher. Estamos a investir sem ter retorno financeiro nos podcasts para um novo mercado que está a ser criado. Porque acreditamos que esse mercado vai ser não a substituição da rádio linear, mas vai ser complementar e ter uma importância cada vez maior.
A RFM continua a promover-se como líder no digital, o que não é verdade. Já é quase uma piada trimestral.
E, mesmo assim, são líderes do digital, mas não são líderes da rádio ouvida no digital. São líderes de cliques no site. Que é uma coisa diferente.
Já conversaram sobre isso, para saber porque é que se promovem como líderes dessa forma?
Isso é uma pergunta que não tem de fazer na Sampaio e Pina, tem de fazer na Buraca [instalações do Grupo Renascença, ao qual pertence a RFM]. Só eles é que podem responder a isso.
Já é uma ongoing joke, quase.
Sim. Acho que isso diminui a credibilidade do próprio meio. Faz mal à rádio. É o que é.
Ainda sobre os podcasts, e falando de tops. Temos uma mistura e tipos de podcasts no top, sendo que são todos de figuras públicas. É possível criar de raiz estrelas de podcasts?
Claro que é e o resto do mundo mostra-o. Daqui a um ano, quando tivermos esta conversa, vai lembrar-se dessa pergunta. Daqui a um ano vamos ter estrelas do podcast que não eram conhecidas antes. Não tenho a mínima dúvida. Mesmo assim, nos últimos anos, o Pedro Teixeira da Mota, com o ask.fm, é alguém que não precisou de um meio tradicional para ser uma estrela dos podcasts.
O que vai criar essas estrelas é a qualidade do conteúdo. Não se pode perpetuar a ideia de que um podcast é uma entrevista. O que o "Inacreditável" veio provar é que se consegue criar conteúdo que não é uma entrevista ou uma rubrica de rádio em podcast. Não podemos por o "Extremamente Desagradável", "O Homem que Mordeu o Cão" e outros que tais no mesmo patamar de outros conteúdos feitos só em podcast, que não tem uma marca por trás, uma personalidade pública já conhecida. São coisas diferentes. Acho que devia haver um ranking para os podcasts que são programas de rádio ou de televisão e, ao lado, os que são criados de origem. Nisso, eu acho que o "Inacreditável" é muito importante porque mostra que há outro caminho. Ainda não tem força comercial. Mas vai ter.
Os anunciantes estão atentos a isso? Querem investir?
Claro que estão! Querem quando tiverem a certeza que aquilo chega ao número de pessoas que se diz que chega.
Mas aí falta uma entidade independente que faça a medição das audiências.
É inevitável. Isso não é um problema só de Portugal, é em todo o lado. E qualquer mercado novo que é criado, aparece primeiro o bem de consumo e depois aparece uma entidade reguladora. E mais depressa do que mais devagar.
"Houve uma altura em que se colocou na minha vida uma escolha. Ou ficava a fazer manhãs na rádio Comercial ou ia fazer daytime para a televisão."
Qual é o balanço de um ano e oito meses na Bauer Media Audio Portugal?
O balanço é muito positivo. Foi o melhor que nos aconteceu. É uma empresa vocacionada para desenvolver a rádio. Não olha para a MCR como um mero ativo financeiro, é um meio para desenvolver. Há uma aposta estrutural nisto. É o negócio deles. Alarga-nos o horizonte, dá-nos mais mundo. Também nos mostra que temos alguma coisa a ensinar a outros mercados, e isso é muito aconchegante para todos. Nós temos um meio de rádio muito desenvolvido, muito sofisticado. Temos muitos produtos diferentes em Portugal. É um meio muito concorrencial e muito bem feito.
Não estamos a falhar num maior protecionismo às rádios locais, que estão a desaparecer ou a serem agregadas em grupos.
Há rádios a mais para o tamanho do País. Depois, houve uma aposta feita ao contrário. Houve muitas rádios locais que foram usadas para caciques locais para propaganda da sua bandeira política. Agora, as rádios locais que apostaram em ser rádio de companhia e de proximidade, essas continuam a existir e há mercado para elas. Não há mercado para 300 estações de rádio. Isso é impossível.
Sobre os 6 meses como diretor na TVI: "Acreditei no projeto, nas intenções, mas demorei muito pouco tempo a desencantar-me"
Ainda sou do tempo em que o Pedro apresentava o "Top +", na RTP1. A televisão nunca o seduziu o suficiente para se manter regularmente lá?
Eu estou todas as semanas na televisão [no programa "O Futebol é o Momento", na Sport TV +]. Mas houve uma altura em que se colocou na minha vida uma escolha. E eu escolhi esta via. Achava que tinha mais jeito para isto do que para o lado de lá. E porque também achava que isto me ia realizar e me ia divertir mais do que o lado de lá. Na altura, ou ficava a fazer manhãs na rádio Comercial ou ia fazer daytime para a televisão. Ainda hoje [20 de setembro] esteve aí o Goucha e eu disse-lhe 'eu admiro-te, porque é preciso um estofo para, ano após ano, fazer daytime na televisão!'. E não era uma coisa que me seduzisse! Dir-me-á que também é preciso estofo para acordar às cinco da manhã durante 30 anos. Mas é para fazer uma coisa que eu gosto. Eu gosto mesmo disto. Fazer daytime na televisão não era uma coisa que eu adorasse. Eu gosto de fazer televisão, mas é um toca e foge. Vou lá, estou lá um bocadinho. Aqui é que é a minha base.
O Pedro foi diretor de executivo de programas da TVI entre fevereiro e julho de 2020. Olhando para trás, questiona-se porque é que foi um período tão curto?
Eu quis ir experimentar. Também tive azar porque entrei a 1 de fevereiro, em março confinámos e saí a 1 de julho. Na verdade eu fui poucas vezes à TVI. Os meses que fui percebi muito rapidamente que aquilo é uma máquina que não pode ser em part time. Aquilo pede dedicação total. Para mexeres na programação de uma estação de televisão tens de ter autonomia. Eu não tinha, de todo. Naquele quadro de pandemia, de ninguém na estação, de programas feitos sem nenhum dinheiro, foi o possível. Para mim foi bom aprender e aprender que só volto a meter-me numa dessas se tiver autonomia, apoio de uma administração e uma equipa escolhida por mim. Mas não estou a pensar em voltar... minha rica rádio.
Mas na altura, porque é que aceitou?
Porque nunca me tinham posto esse desafio à frente. Acreditei no projeto, nas intenções, mas demorei muito pouco tempo a desencantar-me.
O regresso à televisão na Sport Tv +, com a mesma equipa do "Mais Futebol", foi uma alegria para si?
Foi uma alegria enorme. Mais do que parceiros de programa, somos amigos. É um clã. Achávamos e achamos que há espaço na televisão para poder tratar o futebol com sentido de humor, com uma certa leveza, sem perder a seriedade e a credibilidade. E quando a CNN disse "não queremos mais"... mas agora tem um programa chamado "Mais Futebol"...nós achámos que deixar cair esse projeto... Porque isto não são quatro tipos aos gritos a falar sobre futebol.
Achámos que esse projeto era de valor. E a Sport TV também achou. A ideia de que eu falo por mim, o Nuno [Gomes] fala por ele, o Pedro [Barbosa] fala por ele e a Cláudia [Lopes] fala por ela é quase bizarra porque toda a gente está habituada a gritaria atualmente. E nós só nos representamos a nós próprios. Essa proposta é de valor, é diferenciadora, as audiências felizmente são boas. Foi muito bom também poder experimentar fazer aquilo noutro sítio. O que encontrámos na Sport TV foi uma equipa incrível, que nos recebeu com vontade, que gostam que lá estejamos, que têm orgulho em ter o programa lá.
Os programas mais divertidos sobre futebol atualmente estão precisamente em canais com menor audiência, como a Sport TV e o Canal 11. Mesmo o esforço que houve por parte da SIC e da TVI, em 2020, para acabar com os formatos de maior tensão no comentário, caiu um bocado em saco roto, porque a dinâmica voltou.
O próprio futebol português também não ajuda, temos de ser justos. Eu acho que, no futuro, só haverá espaço para isto. Se queres manter o negócio do futebol vivo e atrativo, tens de o tratar bem. Essa lição terá de ser aprendida primeiro pelo futebol e chegará depois às televisões. O Canal 11 faz um trabalho excelente e acho que a Sport TV também o faz, nomeadamente no "O Futebol é o Momento", mas é preciso formar novos adeptos que não estejam viciados no formato da gritaria e da ofensa e do processo de intenções. Nunca nada é cristalino. É altura do futebol, para ser levado a sério, não se levar tanto a sério.
O fim do "Mais Futebol" foi apenas fruto das circunstâncias? Porque foi na altura da transição da TVI24 para a CNN Portugal.
Há bocado disse-lhe para ir à Buraca fazer perguntas, agora digo-lhe para ir a Queluz de Baixo (risos). Não sei porque é que foi. Percebo isso, foi na altura em que a CNN foi buscar o Rui Santos, achou que a via era essa, e se calhar essa via não habita com grande naturalidade com o "Mais Futebol". Mas não sei.
"Se queres manter o negócio do futebol vivo e atrativo, tens de o tratar bem. Essa lição terá de ser aprendida primeiro pelo futebol e chegará depois às televisões."
"Ela [Rita Rugeroni] já tinha uma carreira na rádio antes de ser casada comigo."
A Rita Rugeroni que, além de animadora da Comercial, é sua mulher, voltou recentemente à rádio. Como é que se faz essa gestão para que não haja suspeitas de nepotismo?
A Rita é sobretudo vítima disso. Ela estava a fazer rádio há mais de 20 anos, abriu o negócio dela. Era impossível conciliar, ela tirou uma licença sem vencimento e esteve este tempo todo fora daqui, sem ganhar um tostão, dedicada ao negócio dela. Chegámos à conclusão que ela tinha saudades, e que a rádio Comercial também tinha saudades dela. O que é possível fazer aqui? Ela volta, vai para já fazer fins de semana, e acumular com a Favorite People. Onde é que há nepotismo nisto?
Não estou a dizer que há. Essa parte da licença sem vencimento, por exemplo, não sabia.
Ela não esteve a ganhar um ordenado não estando a trabalhar. Houve outras pessoas que também tiraram e não se fala disso. Ela é vítima disso. Tudo o que aconteça com ela é porque é casada comigo. Ela já tinha uma carreira na rádio antes de ser casada comigo. Acho que ela é uma grande profissional, é uma locutora espectacular, acho que trabalha muito bem, os ouvintes adoram-na e sim, é um ativo importante para a rádio Comercial. Acho que, muitas vezes, é vítima por ser minha mulher. Mas ela é muito madura e percebe que há sempre gente que vai ver coisas onde elas não existem, que vai ser injusta, que vai ser maldosa. Infelizmente isso faz parte e, nas redes sociais então... é o que é.
Como é que vocês gerem isso? A Rita tem uma presença mais forte nas redes sociais e o Pedro acaba também por ter. Vocês fazem-no com muita naturalidade, mas haverá sempre pessoas maldosas e comentários horríveis.
Temos de perceber que dia é que essas pessoas estão a ter, que vida é que têm, e ter a mesma distância que tens com alguém que vai no trânsito, abre a janela e te chama um nome. O que temos de ter em relação às redes sociais é o mesmo distanciamento. Isto, às vezes, é quase impossível de fazer porque as pessoas são muito duras. Quando passa para a ofensa é muito simples: bloqueias a pessoa e ela não vai mais comentar nada.
Algum dos seus filhos vai seguir as suas pisadas?
Espero que não! Para já, não. A mais velha formou-se em Nutrição, o outro a seguir está a meio do curso de Direito e os mais novos estão longe dessas opções. Não vejo ali essa queda. Eles são muitas vezes uma lição para nós, sobretudo os mais velhos, quando percebemos que não têm a rádio na vida deles. Eles estão noutra e isso também é um processo de aprendizagem.
E ouvem podcasts?
Ouvem imensos podcasts, Youtube e Tiktok. O mais velho ouve muita coisa de política, a mais velha ouve coisas sobre nutrição, wellness, mindfulness, wellness, e é muito giro como eles encontram o seu próprio caminho, os seus próprios gostos. Mesmo em termos musicais gostam de coisas muito diferentes. Eu gosto disso, que eles pensem pela sua própria cabeça, que escolham as suas coisas, sem serem influenciados. Ele já dizem 'outro Xmas in the Night? Já vimos cinco!". "Mas é muito giro para o pai, venham lá ver!". Vibraram imenso quando começámos, mas hoje em dia têm essa distância.
O Gilmário Vemba está num hiato? Vai voltar?
Está num hiato, por causa do "5 Para a Meia-Noite" e tem 57 mil espectáculos em Portugal e Angola. O nosso trato é que, quando ele tiver uma ideia gira para nós fazermos e tempo para a fazer, sentamo-nos e conversamos. O "Responder à Letra" acabou. Ele não conseguia garantir todos os dias. Perguntem a alguém que faça uma rubrica diária, sem ser o Markl, esse super herói, como é que se aguenta tanto tempo, sobretudo se tiveres muito trabalho fora da radio, Era "TaskMaster", era a digressão dele, é a Altice Arena no fim do ano, o "5 Para a Meia-Noite". É quando ele tiver tempo.
E, um dia, o Ricardo Araújo Pereira voltar às manhãs?
Estou sempre a pedir-lhe isso. E ele está sempre a dizer 'quando eu tiver 15 ou 30 feitas, eu vou'. Ele tem umas notas, umas mixórdias. 'mas não queres fazer uma vez por semana, só?'. Ele diz sempre que não.
E agora tem o podcast dele.
Tem o podcast, tem o "Expresso", tem a "Visão", tem a SIC, tem a "Folha de S. Paulo". E ter uma ideia de humor todos os dias é muito difícil. Eu via como é que ele andava, mesmo fisicamente, esgotado. Percebo quer tenha de ser em doses muito controladas mas eu tenho esperança que voltemos a ter "Mixórdia de Temáticas" um dia destes . Não perco a esperança.