Mónica emociona-se quando fala da passagem do chef Ljubomir. As mudanças foram, mais do que tudo, na forma como encara a vida: "Ele disse-me para me valorizar mais, gostar mais de mim. Deixei de o ver como um chef. Para mim é um amigo, para os meus filhos é o tio."
Foi em Vila Real, e mais precisamente no restaurante "O Lavinas", que o programa "Pesadelo na Cozinha" gravou o último episódio da segunda temporada. Localizado numa zona habitacional, o restaurante vive sobretudo de diárias. E este foi um dos principais motivos que levou Elói, marido de Mónica e também proprietário do espaço, a contactar o chef. "Queríamos lavar a imagem", conta.
As fotografias que vimos na internet antes da visita remetem para um conceito de restaurante ligado ao fado, com espetáculos ao vivo, mas esta era uma medida da anterior gerência. O casal só está a alugar o espaço há um ano e meio e aqui a música não tem lugar.
Chegamos ao restaurante por volta das 14h10. Já não era cedo, mas esperávamos encontrar clientes em final de almoço. Mas não. Depois de o táxi nos deixar à porta, pedimos-lhe que aguarde uns segundos para verificar que o espaço se encontrava mesmo aberto – os vidros com película preta não permitiam ver para dentro e as duas portas pareciam fechadas.
Cá fora uma montra de frangos no espeto indicava que o espaço estava afinal a receber clientes. Aproximámo-nos do vidro e espreitámos. Lá dentro, os funcionários e o casal almoçavam. Depois de alguns segundos, Mónica abriu a porta e entrámos.
Foi a proprietária quem tratou do atendimento e não se fez acompanhar de carta. No momento só havia jardineira e frango assado. Optámos pelo segundo. O espaço mal parecia renovado: as louças modernas e a pintura nas paredes contrastavam com as toalhas mais antigas. Na mesa de almoço os funcionários liam revistas e falavam sobre a passagem do chef e a publicidade na TVI. Elói levantou-se, foi buscar um dos frangos do espeto e levou-o para a cozinha. Sete minutos depois, Mónica traz uma tábua composta por frango, arroz e batatas fritas.
O frango surpreendeu com um travo a laranja e uma textura especialmente húmida. As batatas e o arroz falam por si, nada de surpreendente. Chamamos Mónica e pedimos-lhe para conversar. Apesar de um trato sempre muito cordial, não queria expor-se uma vez mais: "Olhe, prometi a mim mesma que não falava mais. Disseram coisas más nas outras entrevistas que dei. Exageram."
A relação com o chef foi de respeito, ouvia e calava, conta. "O que é que eu ia fazer?". As críticas foram sobretudo a Mónica. "Disse-me que eu não sabia cozinhar. Eu não tenho nenhum curso, e só cozinho desde que estou aqui, mas os meus clientes gostam do que eu faço", afirma. Ainda assim, fez tudo o que lhe mandavam e colabora. Não deu aso a confrontos e a discussões, mesmo quando a vontade era de desistir.
Sobre a comida e o primeiro impacto no restaurante, sabe pouco. Estava preocupada em responder aos pedidos de todos os clientes que estavam naquele dia e, mesmo quando estavam lado a lado na cozinha, não conseguia ouvir. "Ele fala muito para o microfone e para a câmara, mas nós não ouvimos metade, fala muito baixo. Até estamos curiosos para ver o que vai passar no programa."
Passamos para as alterações. "O que fez afinal aqui?", perguntámos. E foi sobretudo o que vemos: uma pintura em tons de azuis, uma arca congeladora decorada, louças e umas toalhas que não estão aplicadas. "São de pano e para diárias não dá. São muito finas, mas se chega um e suja, a seguir já não dá para substituir. Uso só ao domingo". Na cozinha, o Lavinas só tem um novo forno, para fazer tartes e bolos. A ementa mantém-se, ainda que o Ljubomir tenha tentado implementar novos pratos.
"Ele sugeriu uma bochecha de vitela estufada. Não estou habituada a fazer isso, mas sei que a bochecha de porco já não é barata, imagino de vitela. Eu faço a diária a 6,50€ com pão e bebida, com esses pratos não dá para manter." Vão passar a servir alguns dos pratos aos domingos, quando começarem a abrir nesse dia.
Mas a maior diferença não se vê, nem é fácil de exprimir. Mónica fala connosco sozinha, Elói estava ocupado com outras coisas e não quis falar, mas ia passando pela mesa. Com 29 anos, a proprietária tinha mais do que a renovação de um restaurante por resolver. As lágrimas foram-se segurando enquanto conta que perdeu parte de si com o restaurante. Passa ali os dias. "Disse-me que eu tinha de olhar mais para mim, cuidar mais de mim. Eu metia-me de lado. Só via isto".
"O chef foi um apoio, conversou comigo e disse-me que estava aqui para o que eu precisasse. Fez com que o meu marido ajudasse mais." O sucesso do restaurante está por descobrir, mas a cozinheira acredita que depende sobretudo do programa de domingo. "Só o tempo dirá".
Na memória, tem gravada a frase que a fez mudar de atitude e perceber a importância do cuidado consigo: "Uma pessoa para estar bem aqui, tem de estar bem lá fora". E esta frase de Ljubomir nunca será esquecida.