Jorge não tem formação em cozinha, mas depois de trabalhar e abrir pastelarias em Carnaxide e Cacela Velha, apostou, há três anos, num espaço de tapas (ou petiscos, como corrigiu o chef) nesta vila de Tavira, no Algarve. Nele trabalham também Tiago, gerente de sala, Shafiq e Ali Baba, empregados de mesa, Ivan, ajudante de cozinha, Vânia e Gardênia, cozinheiras.
Problema: a sazonalidade daquele local, que enche durante três meses e passa os outros oito com pouca clientela. É pelo menos esta a justificação dada pelo proprietário no início do programa "Pesadelo na Cozinha", transmitido este domingo, 5 de dezembro, na TVI.
Com a chegada de Ljubomir Stanisic, percebemos que há questões estruturais muito graves e que, provavelmente, contribuem para um estabelecimento quase sempre vazio. Comida empacotada, peixe velho, comida mal temperada e que vai demasiadas vezes ao microondas.
Foi um programa animado. Reunimos os principais acontecimentos.
O pior do restaurante
É como disse o chef: "Isto é uma cozinha de pacote". Poucos produtos feitos de raiz e muitos industrializados. Desde o sumo de limão, excessivamente utilizado em todos os pratos, ao alho em pó, ervas secas, aos hambúrgueres perfeita e estranhamente redondos — congelados e descongelados no momento, assim como o pão e batatas, saídos diretamente da arca frigorífica.
O melhor do restaurante
A localização: Cacelha Velha é linda de morrer e o restaurante tem uma esplanada num terraço, com uma vista incrível para o mar.
De quem é que gostámos mais
Gardênia é fofa. A cozinheira brasileira é discreta e esteve sempre disposta a aprender. Defendia a equipa e não falava contra ninguém. Segundo o chef, é "a melhor cozinheira" do estabelecimento. "Tenho esperança em ti, por isso concentra-te", pediu-lhe, mais à frente.
Ivan também é super porreiro: aprende rápido, tem mais conhecimentos de cozinha e é interessado.
Podemos considerar que há aqui um empate.
De quem é que gostámos menos
Jorge. O chef simpatizou com o proprietário no início, mas na segunda conversa a dois disse-lhe que tinha uma atitude de "chico esperto"e que o seu conhecimento sobre cozinha era muito reduzido. Não parece estar longe da verdade: acedia às recomendações do chef, mas longe dele defendia-se de forma injustificada — dizia que a maioria dos restaurantes fazia o mesmo que ele, utilizando pacotes, porque são mais "baratos e seguros."
Ljubomir disse que a sua cozinha era "pouco honesta" e com razão, sobretudo se tivermos em consideração os preços que por lá são praticados, uma das maiores críticas deixadas pelos clientes que escreveram nas plataformas de restauração online.
Mais: na formação sobre peixe, Jorge confundiu uma anchova com um bacalhau. E reclamou sobre o tamanho das ostras, em frente ao formador. "O meu cliente não come uma ostra deste tamanho. O cliente reclama."
Em segundo lugar dos menos fixes: o empregado de mesa Jorge, assim também a roçar o chico esperto.
O prato da polémica
É difícil escolher, tendo em conta a quantidade de vezes que vimos produtos serem descongelados no microondas. Mas podemos destacar o polvo: além dos clientes — que fizeram críticas à produção — soma-se a crítica do chef, que falou sobre o seu sabor azedo, devido à utilização excessiva de sumo de limão — ou ácido cítrico. Além deste, podemos destacar o atum com péssimo aspeto vindo de um fornecedor espanhol e que estava longe de estar fresco.
O momento mais WTF
Foi um programa rico em momentos WTF. Elegemos os três melhores.
Primeiro momento mais WTF: Vânia pôs a carne com coentros no robot de cozinha para fazer maionese. Sim, maionese. A querida Gardênia justifica-se pela colega: explica que ela fica nervosa e que não consegue funcionar sob pressão. "Eu atrasada, maluca, não sei o que passa", disse depois.
Segundo momento mais WTF: quando o proprietário diz que uma anchova é um bacalhau — sendo corrigido pelo copeiro Ivan, que reconhece a espécie do animal.
Terceiro momento mais WTF: perceber que ninguém no restaurante prova os pratos antes de estes seguirem para os clientes.
O momento mais violento
O momento mais violento começa assim que o proprietário e cozinheiros começam a pôr em prática os primeiros ensinamentos do chef, seguindo as suas primeiras receitas. Foi tenso: ninguém se estava a organizar, estavam desorientados. A búlgara Vânia foi a que sofreu mais: "Tu és uma pessoa que pode matar um cliente aqui no restaurante", gritou o chef. Ela emociona-se e começa a chorar. "Não vale a pena chorares, eu quero te ensinar", responde Ljubomir.
Além deste, a confusão na gestão da sala no jantar de reabertura. Ninguém estava a perceber nada. Aquilo que disse Tiago, o gerente de sala, traduz bem o que caos que por lá se instalou: "Às vezes levo muito tempo a tentar assimilar as coisas".
O momento mais fofinho
Houve poucos. Talvez a formação de peixe, só porque entrou um enorme e lindo atum. E, depois, alguns elogios que o chef fez a Shafiq (disse que, se houvesse uma guerra, era o soldado escolhido) e Gardênia, a melhor cozinheira. No final, o chef ofereceu facas novas a Ivan. Foi bonito.
O que falha na higiene do restaurante
Pouca coisa. A cozinha estava imaculada, como reparou o chef — que mais tarde reclamou com frigideiras sujas e carbonizadas. Mas há uma questão grave, que vai além das limpezas: o atum com duas semanas que ali era servido, vindo de Espanha.
Quem disse mais palavrões?
Não é novidade: Ljubomir foi o único a dizer palavrões. Disse um total de 54.
As frases mais engraçadas
"Como se diz em bom português, que combinação de merda"
"Sabe a chulé"
"Não vou ser feliz. E eu gostava"
"Parece que pedi uma nave especial F16 para vir aqui à mesa"
"Pelos vistos, o que não passa pela mão do cozinheiro sai vem"
"Isto foi picado com motosserra, para aí."
"Usas limão para c******."
"Parabéns, ganhaste um dia de férias, podemos ir passear para a praia juntos."
"Cagas nesses gajos do pacote. Não és um gajo que me pareça gostar de levar no pacote"
"A tua tábua está mais cagada do que a tua sanita depois de eu cagar!
"Esta se conseguisse já me esfaqueava"
"Pareces um espanta espíritos"
"Papel? Bloco? Onde andas bloco?"
"Jorge, não tenho moedas nenhumas. Convinha tapares o mealheiro [puxar as calças para cima]."