3 de setembro de 2000. A SIC era líder incontestada da televisão em Portugal. A televisão por cabo, monopólio da então TV Cabo (atual NOS), dava os primeiros passos, com um número muito limitado de canais e ainda mais de clientes. A TVI preparava-se para estrear um polémico formato do qual poucos tinham ouvido falar, mas em torno do qual se discutia e especulava: o "Big Brother".

Apresentado ao público como "a novela da vida real", o formato que viria a ser a coroa de glória da TVI por muitos anos mudaria para sempre não só a forma como vemos televisão, mas também como interagimos e discutimos emoções e comportamentos.

Teresa Guilherme, na altura com 45 anos, foi a eleita para apresentar um dos maiores riscos tomados por um canal generalista em Portugal. Pela mão de José Eduardo Moniz, à época diretor geral da TVI, e depois de a SIC ter rejeitado o formato, o reality-show estreava-se na televisão portuguesa. 14 eleitos conviveram, de 3 de setembro a 31 de dezembro de 2000, num estúdio transformado em casa, numa vila do concelho de Mafra que se tornaria um dos nomes mais repetidos do País, a Venda do Pinheiro.

Zé Maria, Susana, Célia Melo, Telmo Ferreira, Mário Ribeiro, Marta Cardoso, Paulo, Carla, Sónia Veiga, Marco Borges, Maria João, Ricardo A., Ricardo V. e Riquita foram os 14 concorrentes da primeira edição do "Big Brother". Muitos voltaram rapidamente a ser anónimos, mas nomes como Zé Maria, Marta, Marco, Telmo e Célia permanecem na memória coletiva.

E na memória ficaram também as frases emblemáticas como "eles falam falam, mas eu não os vejo a fazer nada" (eternizada depois num sketch dos Gato Fedorento), "são 24 sobre 24" ou ainda a forma como Telmo pronunciou "fait divers".

Amor, violência, choro e discussões pautaram a novela da vida real. Mas o momento em que se confirmou que o "Big Brother" tinha ultrapassado a fronteira do formato televisivo e se tinha tornado um fenómeno social acontece quando Marco Borges pontapeia Sónia. O episódio, que resultou na expulsão de Marco, inaugurava uma nova era na televisão portuguesa, ao ser tema de abertura do noticiário de prime time, o "Jornal Nacional". Nesse mesmo dia, Jorge Sampaio anunciou a recandidatura à presidência da República, mas a atualidade política foi relegada para segundo plano.

Do primeiro "Big Brother", sagrar-se-ia campeão o barranquenho Zé Maria. O tímido alentejano de 27 anos ganhou um prémio de 20 mil contos (atualmente cerca de 100 mil euros), um carro novo e um mediatismo que quase lhe destruiria a vida. Hoje em dia, Zé Maria continua a viver em Barrancos, longe dos holofotes. Luta contra a depressão e está desempregado, como revelou recentemente a "TV 7 Dias".

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Passaram-se exatamente 20 anos. A TVI, novamente em desvantagem em relação à SIC, prepara-se para estrear a sexta edição regular do "Big Brother" (houve três com famosos). "Big Brother - A Revolução" traz de volta ao pequeno ecrã a rainha da reality- tv: Teresa Guilherme regressa à condução do formato, sete anos depois de "Big Brother VIP".

Serão agora 20 os concorrentes, a alegre casinha da Venda do Pinheiro foi substituída pela mansão da Ericeira. Há mais câmaras, o mundo é digital, o público está cada vez mais fragmentado entre a televisão linear e as redes sociais. Além do regresso de Cristina Ferreira, "Big Brother - A Revolução" é a grande aposta de Queluz de Baixo para a rentrée televisiva. Poderá a TVI repetir a façanha de 2000 e reconquistar a liderança? 13 de setembro é já daqui a 10 dias.