Ao longo dos últimos diários de bordo falámos de muita ostentação, que vem já desde o tempo em que o acordo de formação dos Emirados Árabes Unidos (EAU) foi assinado, de uma mulher emirati que afirma orgulhosamente a sua independência e fizemos também um apontamento sobre uma forma de manter vivas as tradições beduínas, uma experiência no deserto.
O passado vai sempre continuar presente no Dubai — incluindo a mentalidade ainda conservadora (embora isso já não se aplique aos turistas que podem andar de calções, tops e barriga à mostra, com exceção de entradas em mesquitas) —, mas este povo tem uma característica muito própria que não o faz estagnar: querer sempre fazer mais, maior e melhor.
O Museu do Futuro, inaugurado a 22 de fevereiro de 2022, é exemplo disso, mas ao contrário de outros projetos no Dubai, aqui o foco não é tanto a ostentação (ainda que o edifício seja majestoso), mas sim a sustentabilidade do planeta.
A ideia é remediar anos de danos pesados provocados pelo próprio Homem, e para saber como isso é possível, somos levados numa nave espacial que fica a 600 quilómetros da terra — distanciamento correspondente ao tempo necessário para que as ideias megalómanas desenvolvidas por tecnologistas e artistas de todo o mundo sejam postas em prática.
Museu do Futuro: o espaço que promete a cura do planeta e da alma humana
Aya, em imagem virtual e avatar, foi a nossa guia no Museu do Futuro. Começou por encaminhar-nos para a nave que, uma vez aberta, mostrou como no futuro a luz da lua será convertida por satélites em lasers para dar energia à Terra. Foi para lá que voltámos minutos depois, de volta à realidade (ou parte dela).
Isto porque no piso denominado Heal Institute (Instituto da Cura, em português), o Museu do Futuro promete curar a natureza e resolver problemas como a desflorestação da Amazónia.
Também a fauna pode ser salva e deixar de existir a palavra extinção. Quão bizarro isto soa? Muito, mas é o que o Museu do Futuro prevê acontecer e para isso está a armazenar o código genético de milhares de espécies num chamado cofre de DNA da cura, como é mostrado na secção biblioteca, e está também a ser estudada uma árvore resistente ao fogo, como se vê no observatório.
Apesar de o ser humano ser cruel para o ambiente, a nossa saúde também não vai lá grande coisa. Prevê-se que em 2030 a depressão ultrapasse a obesidade no que diz respeito ao maior fator de risco para a saúde em todo o mundo, segundo o Museu do Futuro.
Nenhum tempo, passado ou futuro, pode ser evitado, mas sim remediado. Por isso, o piso Alwaha (oásis em português) apresenta formas de relaxar e afastar o sentimento de solidão no futuro. Além de enfatizar a importância da meditação — mas essa já tínhamos testado e não é novidade — experimentámos uma terapia focada nas mãos.
Os estímulos são bastante diferentes do que alguma vez sentimos e talvez o único que conseguimos explicar é uma espécie de formigueiro relaxante. Ficaríamos ali o resto da visita, mas o futuro não desacelera e tínhamos de seguir caminho.
No Tomorrow Today (amanhã hoje, em português), outro dos pisos do museu, chegámos talvez ao espaço mais perto da realidade moderna que conhecemos, ainda assim irrealista à primeira impressão.
Não é que o Museu do Futuro mostra que algures nos próximos anos vamos pagar contas através de um chip instalado na mão, regar saladas com um azeite embalado em notpla (diminutivo da expressão "não plástico", em inglês), feito de um material biodegradável, e que o Uber Eats do futuro chamar-se-á Roboat e servirá também para livrar as cidades e zonas históricas de poluição e congestionamento?
Tendo em conta o passado e presente afetado por uma pandemia da COVID-19, o museu deu-nos ainda alguma esperança de que outro vírus não nos leve para dentro de casa semanas a fio. Neste âmbito, apresenta o Poppy, o primeiro sistema do mundo a detetar vírus aéreos infeciosos, como a COVID-19, e no que diz respeito a outras doenças, mostra o Paro, uma foca que, sabe-se lá como, trata doenças de idosos.
Em suma, sobre o Museu do Futuro só há uma contradição: não deixar para amanhã a visita que devemos fazer hoje (ou pelo menos sem demoras).
Segunda partida para o espaço: Time Out Market
Já estamos familiarizados com o conceito do Time Out Market, até porque o primeiro a surgir foi em Lisboa, em 2014. Em abril de 2021 chegou ao Dubai e tornou-se o 7.º mercado da marca onde podemos não ter risotto de lagosta do Rockfish, mas temos um vistoso bao de caranguejo do BB Social e tantas outras coisas que caracterizam a gastronomia do Dubai (que não é mais do que uma mistura de sabores do mundo).
A verdade é que a comida não precisa de ser de fine dining (e está longe de ser assim) para criar água na boca. Bastou chegarem os garkic knots do Pitfire para ficarmos a desejar mais e mais. Mas tínhamos de ter espaço para os corn fritters do Slab Cocina, para o spinach phyllo pie do 21grams, e para o chipotle paneer tikka do Masti, “possivelmente o melhor frango panado que vão provar”, garante Nazila Shafi, marketing manager do Time Out Market Dubai.
Já para não falar dos ceviches pani puri também do Masti, disponíveis nas versões de abacate ou atum, que são assim algo de ir ao espaço em velocidade sónica. A mesma rapidez seria útil para fugir da confusão criada no prato na primeira experiência com este ceviche servido dentro de uma esfera crocante que serve de copo a um molho fresco e verde, que acaba por cair por todos os lados. Mas só no primeiro teste. E como é impossível não repetir o ceviche pani puri, a prática treina-se. Quando dentro da boca (e todo de uma vez), a bola parte-se e explodem os sabores. Segue-se silêncio para apreciar (e também por ter a boca cheia).
Após esta fase, aterraram na nossa mesa os gelados da Scoopi e a nave chegou finalmente ao destino, momento simbolizado no hidrogénio colocado por cima do gelado de pipoca que o deixou a fumegar. Também surpreendente é o gelado de rosa e chilli, uma combinação a provar quando seguir as nossas dicas no Dubai.
Pela descrição, percebe-se que há cozinhas do mundo, porque esse é o conceito do Time Out Market e também da gastronomia do Dubai, com várias influências, em particular indiana. E para que representatividade não falte, no mercado do Dubai existe um espaço português, Lana Lusa, com ofertas desde o bacalhau à Brás (mais de 20€) ao pastel de nata (cerca de 3,30€).
Todos os dias da semana há música no rooftop e no palco. Dentro do Time Out Market há uma nova oferta cultural e local a cada quinta-feira. Qualquer um dos momentos pode ser acompanhado com uma bebida de um dos três recentes bares que servem cocktails, com e sem álcool.
Em breve vão abrir novos espaços da Time Out Market em Praga, República Checa, no The Pipeline, em Londres, Reino Unido e no Porto, em Portugal.
De volta à terra, mas perto do céu
Ao sair do Time Out Market Dubai, fomos direitinhos para o ginásio: o The Dubai Mall. O icónico centro comercial do Dubai, com uma galeria dedicada a lojas de luxo como Prada e Vercace, um oceanário visitável chamado Dubai Aquarium & Underwater Zoo, o Five Guys para os fanáticos do conceito americano e McDonald's para os curiosos, dado que aqui encontra-se um McArabia Chicken (menos de 5€) e uma torta de creme de tâmaras de chocolate (cerca de 1,80€) como em mais nenhum lugar.
Não comprámos nada, mas quem o faz neste centro comercial chega a andar quilómetros para conseguir aquilo de que precisa. Outro motivo para ir ao The Dubai Mall é aceder ao emblemático Burj Khalifa, que integra o Armani Hotel, que deixámos para o último dia.
De fora é o edifício mais difícil de fotografar porque os seus 163 andares, começados a construir em 2004 e terminados em 2009 (sim, só seis anos), quase não o permitem. De dentro, facilita-nos a vida ao permitir levar para casa uma recordação da paisagem do Dubai, que nunca será igual. No alto do 125.º andar a que os turistas podem aceder, observámos que estão a ser construídos novos arranha céus e na maior parte dos que já existem estão a ser acrescentados mais andares, sinal da constante insatisfação de quem constrói no Dubai.
Do Burj Khalifa vimos o Edge Walk — onde de imediato desejámos voltar para cumprir a missão do último dia — e a The Dubai Fountain, entre o Souk Al Bahar (onde fica o Time Out Market) o Dubai Mall.
Foi para lá que seguimos para ver o espetáculo da fonte que acontece todos os dias entre as 19h e as 22h, a cada 30 minutos. A melhor hora para assistir nesta atura do ano é às 19h30, de modo a apanhar as luzes serenas do anoitecer enquanto a água da fonte dança ao som da música clássica. Vimos o espetáculo em cima da ponte e novamente na esplanada do restaurante Abd El Wahab, também dentro do Souk Al Bahar. Foi servida comida farta, incluindo baba ghanoush, húmus, pão árabe, salsicha de cordeiro e muhallaabieh, um pudim de leite árabe, com um forte e diferente sabor a água de rosas.
Basicamente, despedimo-nos cheios de comida, cheios da beleza do espetáculo na The Dubai Fountain, com o grande Burj kalifa como pano de fundo, e cheios de uma viagem em que aprendemos muito sobre os EAU e sobre o planeta em si porque, segundo o Museu do Futuro, há esperança.
*A MAGG viajou a convite do Turismo do Dubai.