A frase é antiga, mas nunca vai perder a validade: contra factos não há argumentos. A nutrição é uma ciência e são necessárias evidências para comprovar o poder que os alimentos têm no corpo. A moda do fitness e da alimentação saudável trouxe um maior cuidado com a saúde, mas também está na origem de muitos mitos e de muitas verdades instituídas que se vem a perceber que não são assim tão verdadeiras.
Os alimentos termogénicos são aqueles que aumentam a temperatura corporal. São conhecidos por acelerar o metabolismo, porque forçam o organismo a gastar energia para repor os valores normais. Mas serão todos os alimentos apontados realmente capazes disto? Vitor Hugo Teixeira é professor na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, e diz à MAGG que “o número de candidatos a serem considerados termogénicos ainda é relativamente grande”. No entanto, “a evidência diz-nos que há muito poucos que, de facto, funcionam.”
O gengibre, por exemplo, é referido várias vezes como um dos alimentos que aceleram o metabolismo. A verdade disto é duvidosa, porque a qualidade da prova científica é muito fraca: “Pode até haver um estudo que diz que o gengibre aumenta o gasto energético. Mas há muitos mais que dizem que não.”
Concentre-se nestes: catequina, cafeína e capsaicina, presentes no chá verde, café ou pimenta cayenne, por exemplo. Está provado que nestas opções os compostos e as quantidades são realmente capazes de fazer o organismo queimar mais calorias.
De acordo com o investigador, “o chá verde é particularmente interessante”, pela combinação de dois destes compostos: a catequina e a cafeína. Com três chávenas por dia, pode “aumentar-se a oxidação de gordura e o gasto energético, numa quantidade que, apesar de pequena, é segura, por não aumentar a pressão arterial ou cardíaca.”
“Pode até haver um estudo que diz que o gengibre aumenta o gasto energético. Mas há muitos mais que dizem que não.”
Mas, calma. Não lhe deposite toda a confiança. É que, mesmo assim, o aumento do metabolismo é relativamente curto: “Na melhor das hipóteses, faz gastar entre 70 a 100 calorias.” Além disso, o impacto é superior nos asiáticos do que em caucasianos. Em causa está a velocidade da metabolização das enzimas, que varia de pessoa para pessoa e de etnia para etnia.
A cafeína presente no café ou guaraná de erva-mate tem este efeito, “mas em menor magnitude”, por estar isolada, sem as catequinas do chá verde. A pimenta cayenne tem a capsaicina que, apesar do efeito “termogénico e saciante”, por ser ingerida em menor quantidade, “poderá não ser suficiente para aumentar o metabolismo.”
Os efeitos destes compostos só atuam no momento. Ou seja, não é por consumi-los de forma recorrente que o metabolismo basal (que corresponde à energia que o corpo gasta para manter as suas funções vitais) vai acelerar. Como diz o investigador, “quando não estão presentes, não têm efeito.”
Aposte no chá verde. Beba café (sem açúcar). Tempere com pimenta cayenne. Mas não cometa excessos. O seu efeito não é milagroso e nunca vai anular as consequências de más escolhas alimentares. Porque a fórmula para a perda de peso é sempre a mesma: ingerir menos calorias do que aquelas que se gastam.