Dormem menos e sofrem mais com as insónias. Também pode ser mais difícil tratar a apneia do sono que, já agora, pode ser prevenida se em bebé tiver sido amamentado pela mãe. Mas nem tudo é mau — há doenças que de facto afetam mais o sexo masculino, assim como a tendência para desregular o ritmo circadiano (período de 24 horas sob o qual se baseia o ciclo biológico). Por outras palavras, se tem dois filhos adolescentes de sexos opostos em casa, é provável que ele se deite (ainda) mais tarde do que ela.
A propósito do Dia Mundial do Sono, que se celebra esta sexta-feira, 16 de março, a MAGG foi falar com três especialistas para perceber como é diferente o sono das mulheres e dos homens. Spoiler alert: é bastante.
As mulheres dormem menos meia hora do que os homens
Os estudos comprovam-no: as mulheres dormem menos do que os homens. Segundo Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono e diretor do Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, há investigações que garantem que elas passam, em média, menos meia hora por dia a dormir do que eles.
As explicações são várias.
— Ciclo menstrual. Há mulheres que durante este período têm dificuldade em adormecer e manter o sono.
— Gravidez. Na primeira fase o sono é agravado pelas alterações hormonais. Nas fases finais, e devido ao movimento do feto, a tendência para urinar mais também perturba a noite.
— Menopausa. As mulheres também dormem menos durante este período, em resultado das alterações hormonais.
— Aspetos de natureza psicológica e social. Regra geral, a mulher tem uma vida mais atarefada do que o homem: trabalha, assegura o cuidado dos filhos, o trabalho em casa.
As mulheres sofrem mais com as insónias
"A insónia predomina nas mulheres e nos idosos em todas as estatísticas que existem no mundo, inclusivamente em Portugal", explica Teresa Paiva, neurologista e especialista em medicina do sono.
Por insónia compreende-se a dificuldade em adormecer, o adormecer e acordar com frequência durante a noite e acordar antes da hora habitual. Existem dois tipos de insónia: a transitória e a crónica. A insónia transitória está associada a um período de maior stresse. Quando se resolve o problema, a insónia desaparece. A insónia crónica arrasta-se ao longo do tempo — dura mais do que três meses, portanto.
"É a regra dos três: 30 minutos para adormecer, três vezes por semana, mais do que três meses. Chama-se a isto insónia crónica", diz Joaquim Moita.
A curto prazo, as insónias causam cansaço e fadiga, sonolência, problemas de memória e raciocínio lento. A longo prazo, podem ser responsáveis por problemas cardiovasculares, hipertensão, doenças metabólicas como a diabetes e enfarte miocárdio.
Pode ser mais difícil tratar a apneia do sono
A apneia do sono caracteriza-se por paragens respiratórias durante o sono. Em termos percentuais são eles quem sofrem mais com esta doença, no entanto o tratamento é mais difícil para elas. Porquê? Porque são mais resistentes à utilização do equipamento médico utilizado nestes casos.
Enquanto a mulher aceita mais facilmente o marido que está com a máscara, o contrário não é verdade."
"As mulheres não aderem tão bem ao tratamento da apneia do sono e a culpa principal está nos homens", explica Joaquim Moita. "As mulheres têm um problema de auto-imagem. Isto é a minha perspetiva, é a perspetiva de alguém que trabalha desde 1990 nesta área e já viu muitos homens e muitas mulheres com Síndrome da apneia do sono. Enquanto a mulher aceita mais facilmente o marido que está com a máscara, o contrário não é verdade."
Na opinião de Teresa Paiva, as mulheres detestam aceitar que ressonam. "Acham que é uma coisa própria dos homens, por isso não admitem ressonar." Além disso, a apneia nas mulheres é acompanhada pela insónia, o que faz com que muitas das vezes o diagnóstico da apneia não seja feito — ou seja feito muito mais tarde do que devia.
As mulheres passam mais tempo no sono profundo
"Essa é uma das explicações para a maior longevidade da mulher. Apesar de terem mais insónias, entre outras coisas, há de certa forma uma protecção que contrabalança as dificuldades", explica Teresa Paiva.
Durante o sono profundo (NREM), há como um verdadeiro "adormecimento" do nosso corpo. Ele não é total, obviamente, mas a atividade do cérebro, a respiração e a frequência cardíaca, por exemplo, ficam mais lentas. Ora isto é particularmente importante para recuperar. Digamos que este é que é verdadeiramente reparador, mais do que os estágios iniciais do sono — que é onde os homens passam mais tempo.
Na adolescência elas podem ter tendência a deitar-se mais cedo do que eles
Na adolescência, os rapazes e as raparigas podem registar diferenças no chamado Síndrome de Atraso de Fase do Sono. Essencialmente, isto traduz-se num ritmo circadiano fora do comum. Voltámos a complicar? Vamos diretos ao assunto: a hormona da melatonina é aquela que nos prepara para dormir.
"O nosso corpo começa a produzi-la ao entardecer, tem um pico a meio da noite e depois começa a descer. Nos adolescentes, por razões fisiológicas, essa produção da melatonina é mais retardada", explica à MAGG Maria Helena Estêvão, médica pediatra com competência em medicina do sono.
Resumindo, não vale a pena mandá-lo dormir às 22 horas — por questões fisiológicas, o mais provável é os adolescentes não conseguirem de todo adormecer. "Muitas vezes eles só têm sono por volta da meia-noite, ou mais, o que corresponde a um desfasamento do que é habitual. Isto é um pouco mais frequente no sexo masculino do que no feminino."
A enurese infantil é mais frequente nos rapazes do que nas raparigas
A enurese infantil, isto é, a perda involuntária de urina, é mais frequente no sexo masculino, explica Maria Helena Estêvão. A maior parte das crianças deixa as fraldas entre os dois e três anos. Quando aos cinco anos ainda continuam a haver "incidentes" noturnos, podemos estar perante uma disfunção.
Segundo estudos portugueses, há uma prevalência de enurese noturna, isto é, perdas de urina durante o sono, entre os 6,1 e os 15,6% em crianças do ensino primário. A perturbação é duas a três vezes mais frequente em rapazes do que em raparigas.
O que é que posso fazer para dormir melhor?
1. Ter um horário regular de sono. O horário de levantar e deitar deve ser o mesmo todos os dias. Já agora, entre sete a nove horas são as horas de sono recomendados para os adultos;
2. Estipular uma rotina na hora de deitar;
3. O quarto deve ser agradável. Desde a ausência de luz até à temperatura amena (entre os 18 e os 20 graus), tudo isso vai ter influência no sono;
4. Desligar os equipamentos eletrónicos uma hora antes de dormir e deixá-los fora do quarto. Tal como a luz natural do sol, as televisões e ecrãs emitem muita luz azul, que atrapalha a libertação de melatonina;
5. Não ter fome ao deitar;
6. Evitar alimentos ou bebidas com estimulantes nas várias horas que antecedem o sono;
7. Não ingerir líquidos excessivos ao deitar ou durante as horas noturnas;
8. Evitar atividades vigorosas nas duas horas que antecedem a hora de deitar.
O tema do Dia Mundial do Sono é “Abrace o sono, cuide dos seus ritmos, desfrute a vida” e por isso a Assocaição Portuguesa do Sono produziu um vídeo para alertar a população para o "relógio circadiano e a importância de atender aos seus ritmos para conseguir um vida saudável". O pequeno filme de sensibilização está a ser divulgado em hospitais, centros de saúde e outros prestadores de cuidados de saúde, nas farmácias e em redes sociais.