Foi a 19 de dezembro de 2022 que Mike Krumholz, 21 anos, um assistente de um jardim de infância, decidiu fazer uma sesta depois de almoço, para descansar de uma manhã atribulada. Não tinha onde colocar as lentes de contacto, e por estar a contar dormir apenas durante meia-hora, optou por não as tirar. Quando acordou, percebeu de imediato que algo não estava bem. Mas não fazia ideia do que iria passar nos meses seguintes.

O rapaz, que vive na Florida, Estados Unidos, e usa lentes desde os 14, acordou ao fim de 40 minutos de sesta e sentiu os olhos "muito irritados" e uma sensação estranha nas lentes, que pareciam "estar a flutuar nos olhos". Retirou as lentes mas pareceu-lhe tudo bem. Apesar da irritação, voltou a colocá-las e seguiu com a sua vida.

Mike perdeu a visão de um olho
O olho ficou neste estado

No dia seguinte, acordou, voltou a colocar as lentes e sentiu novamente uma grande irritação nos olhos. "Ia jogar basebol mas tive logo de tirar as lentes. Disse logo aos meus pais que tínhamos de ir ao oftalmologista porque algo não estava bem".

Isto foi a 20 de dezembro, e até ao dia de Natal, Mike continuou a usar diariamente as lentes de contacto, mesmo com a sensação de irritação no olho, sobretudo o direito. Durante um mês, o jovem foi seguido por sete médicos diferentes, que lhe iam dando diagnósticos muito distintos, o que não ajudou a que o problema se resolvesse. Um dos médicos disse-lhe que ele teria contraído o vírus do herpes simplex tipo 1. Andou a tomar antibióticos durante 10 dias, e foram-lhe receitados esteróides, que acabaram por agravar ainda mais o problema, já que aceleraram a taxa de propagação do parasita, que na altura ainda não tinha sido descoberto.

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"Eu só piorava e piorava cada vez mais todos os dias". Foi só a 21 de janeiro que chegou o diagnóstico certo, quando o oftalmologista informou Mike de que tinha sido contaminado com o parasita acanthamoeba keratitis, que costuma instalar-se em lentes de contacto e que come a carne do olho.

O jovem foi então submetido a sessões de terapia fotodinâmica e uma cirurgia de retalho conjuntival, para tentar combater o parasita. Mas já era demasiado tarde. Mike perdeu mesmo a visão do olho direito. E o pior é mesmo o facto de o parasita ter obrigado a uma mudança total da vida de Mike. Foi obrigado a deixar de trabalhar, vive fechado num quarto escuro e todas as luzes médias são impossíveis de tolerar, até mesmo a dos ecrãs de televisão ou do telemóvel. Tem de usar óculos de sol a todo o momento e só está bem em casa "com as persinanas corridas e as luzes apagadas", conforme disse ao "Daily Star". "É muito estranho não poder ver pessoas. Não quero que as pessoas se sintam mal por mim, mas ao mesmo tempo quero viver como um jovem de 21 anos que está na faculdade", acrescentou. Sobre o que sente, diz que vive com "uma dor constante", mas que o pior foi mesmo nas duas primeiras semanas. "Não há nenhuma dor como aquela. E queria muito estar a exagerar".

O parasita acanthamoeba keratitis é encontrado numa média de 33 pares de lentes de contacto por cada 1 milhão de utilizadores, de acordo com as estatísticas do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.