A gravidez é uma fase especial da vida da mulher, mas não é uma doença. Aliás, para Mariana Abecasis, esta pode ser mesmo a altura ideal para uma mudança de hábitos.

"Se eu durante três dias der fast food ao meu corpo, ele vai continuar a pedir", diz à MAGG a nutricionista. E, por isso, se a grávida assumir aqueles nove meses como uma janela aberta para os excessos, é certo que o pós-parto vai ser difícil. Se, por outro lado, mantiver uma vida saudável, em menos de um mês a mulher volta ao corpo que tinha antes da gravidez. E Mariana nem precisou de tanto. Depois de Lopo nascer, em junho do ano passado, em três semanas já estava com o peso que tinha antes de engravidar e já publicava fotografias no Instagram com uma barriga lisa.

Não há truques, só foco no objetivo: ser saudável. E na gravidez isso pode implicar suplementação, por exemplo, mas Mariana acredita que, por vezes, pecamos por excesso de zelo. De zelo e de mitos. Uma mulher pode continuar a ser vegan mesmo grávida, sem que isso comprometa a saúde do bebé e não, uma grávida não tem que comer por dois.

Todas estas ideias estão organizadas num guia, a que deu exatamente o nome de "O guia prático da gravidez saudável", um livro editado pela Editora Influência. Lamentamos grávidas, mas agora não há desculpas.

A Mariana recuperou o peso da gravidez em três semanas. Seguiu à risca o que escreveu no livro?
Na verdade nem tive que pôr em prática um plano de recuperação pós-parto. Aumentei pouco peso, cerca de nove quilos, mas peso de qualidade.

O que é peso de qualidade?
Peso relativo à gravidez e não peso em gordura. Foi giro ver que a médica anestesista tentou dar-me a epidural e disse-me que era difícil tal era a parede abdominal. Depois, acabei por ir para uma cesariana de urgência e o médico também se viu aflito para me cortar a barriga pela quantidade de músculo que eu tinha. Visualmente sabia que estava com pouca gordura e depois confirmei com este feedback clínico.

E porque é que temos mulheres a engordar 30 quilos ou mais e outras a engordar apenas nove?
Vai muito da forma como nos cuidamos e, principalmente, da forma como encaramos a gravidez. Se pensarmos neste período como aquele em que, já que sabendo que se engorda, aproveitamos para comer tudo sem restrição, aí o peso vai aumentar drasticamente. Há muito aquela ideia de ouvir o corpo e "Se ele me está a pedir vou dar porque estou grávida". Mas não pode ser assim. Temos que saber contrariar o apetite, até porque, grávida ou não, se eu durante três dias der fast food ao meu corpo, ele vai continuar a pedir.

Mariana Abecasis
Mariana Abecasis

Ainda resiste a ideia de que as grávidas têm que comer por dois?
A mentalidade está a mudar, mas o problema é a pressão externa a que a grávida é sujeita. É uma fase da vida das mulheres na qual, de repente, toda a gente quer dar opinião. Há sempre uma mãe, uma avó, uma tia a dizer: "Mas tu estás grávida, tens que comer, não podes restringir". E de tanto ouvirmos, essa ideia parece que fica enraizada.

As grávidas podem fazer dieta?
Podem, mas depende da conotação que damos à palavra dieta. Se for uma dieta restritiva, detox, dietas loucas, isso não, nem pensar. Não é o momento. Agora, se podem fazer escolhas equilibradas e a isso chamarmos dieta, sim podem. Até porque em casos de grávidas com diabetes gestacional, têm mesmo que seguir um regime especial sem doces e alguns hidratos de carbono.

E as restrições ligadas à segurança alimentar. Justificam-se?
Varia bastante de obstetra para obstetra. Há o que deixa comer sushi, outro que não deixa, por exemplo. Isso quer dizer que algumas recomendações são consensuais, outras não são e a verdade é que as restrições não são as mesmas em todos os países. Não são verdades absolutas. Uma grávida seguida em Inglaterra não lhe é dada uma única recomendação quanto à toxoplasmose. Conheço grávidas portuguesas a viver em Inglaterra que questionam os médicos sobre as saladas e os crus e eles riem-se na cara delas e dizem-lhes que essa história está completamente ultrapassada.

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Mas acha que cá esse cuidado é exagerado?
Cá temos um acompanhamento clínico muito bom durante a gravidez, mas pode pecar por excesso de zelo. É importante ter cuidado, mas este acompanhamento tão próximo pode trazer informação alarmista e que pode ser levada ao extremo. Isso leva a medos, medos esses que podem condicionar a alimentação no mau sentido. As mulheres deixam de comer legumes e fruta, por exemplo, numa altura em que esses deviam ser os seus aliados.

E de que forma podem consumir esses produtos de forma segura?
Cozinhar mais em casa, assim sei que foi lavado e cozinhado de forma segura. Quando se come fora de casa, nada como pedir carne ou peixe grelhados com legumes cozidos em vez de salada um restaurante. Mesmo que não haja na carta, nada como pedir. Eu fiz isso imensas vezes e é surpreendente a forma prestável com que somos atendidas.

Como é que se prepara um corpo para a gravidez?
Eu acredito que se tivermos uma alimentação e um estilo de vida saudáveis, estamos prontas para receber um bebé. Mas se bebe muito café, fuma, consome bebidas alcoólicas com regularidade, come fast food, talvez a possível gravidez seja uma excelente altura para começar a pensar em mudar esses hábitos.

Geralmente, a única suplementação que se recomenda que comece até antes da concepção é o ácido fólico. Mas há mulheres que descobrem que estão grávidas sem essa preparação e não há problema nenhum. Começam a tomar a partir daí.

Já que fala em suplementação, todas as grávidas têm que ser suplementadas?
Em relação ao ácido fólico, é a única tida como obrigatória. Recentemente, os médicos também começaram a sugerir o iodo e, em muitos casos, as mulheres precisam de uma suplementação de ferro.

E no caso de mães vegan?
Nesse caso, acho que a suplementação é necessária. Nomeadamente a vitamina B12, que é fundamental, e pode ser necessária uma suplementação proteica.

Ao contrário do que se pensa muitas vezes, as mães vegan conseguem ter uma gravidez saudável?
Sim, até porque o veganismo é uma forma de estar na vida e não é possível pôr uma mulher vegan a comer carne. É contra natura. Seria o mesmo que pedir a uma muçulmana para comer carne de porco.

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No livro fala muito sobre a comida como aliada durante a gravidez. Isso acontece até no caso dos enjoos, nos quais nem sequer apetece comer?
Os enjoos de uma gravidez não são os mesmos de uma gastroenterite, situação durante a qual não conseguimos comer e, se forçarmos, acabamos a vomitar. No caso dos enjoos de uma grávida, quanto mais tempo se estiver sem comer, mais se acentua esta sensação de náusea e vómito. Nesses casos mais vale comer uma mini dose de hora em hora. Parece que não mas ajuda a parar o enjoo.

Mas há alimentos que controlam os enjoos?
Normalmente alimentos gelados costumam funcionar. O truque é beber leite do frigorífico, guardar a fruta no frigorífico e comer gelados mesmo. O gengibre e as amêndoas com casca também ajudam.

No pós-parto, a comida também é uma aliada?
Não há um alimento que ajude na produção do leite, por exemplo. Mais uma vez, o que funciona é mesmo uma alimentação equilibrada.O que eu sugiro nesses primeiros dias, que podem ser muito confusos, é não ter tentações em casa e ter comida de reserva para as refeições. Sopa sempre feita, fruta e snacks para quando a fome ataca.

Quanto tempo depois do parto deve a mulher preocupar-se em recuperar o corpo que tinha antes de engravidar?
Se houver essa vontade e esse cuidado, o pós-parto começa assim que a mulher sai da maternidade. Não de uma forma obsessiva ou a pensar que se vai fazer uma dieta super restritiva. É sim pensar em não fazer disparates, em comer saudável e em fazer umas caminhadas por exemplo, isto antes de ter a autorização médica para voltar a fazer exercício físico. Se a progressão na gravidez for a correta e no pós-parto evitar os disparates, em menos de um mês a mulher está como estava.

Como foi o seu pós-parto?
Ao fim de dez dias tive o ok para começar a fazer caminhadas. A nível de alimentação, quando se tem uma base saudável, é para essa base que voltamos. Tinha mais apetite e, por isso, começava sempre a refeição com sopa. Nessa altura, a sopa em si não dava como refeição como agora acontece. Tinha a casa preparada com snacks saudáveis e sem tentações. Foi fácil.