Parece uma situação irreal e a verdade é que foi mesmo, embora bastante realista. A propósito de um estudo sobre o comportamento dos utilizadores no Horizon Worlds, o metaverso da dona do Facebook, uma investigadora que foi convidada para uma festa privada na plataforma acabou por ver o seu avatar ser violado após os utilizadores pedirem para que desativasse uma ferramenta de segurança que limita a distância máxima de um metro entre os jogadores.

O caso foi integrado no estudo da organização sem fins lucrativos SumOfUs, cujo relatório intitulado “Metaverse: outra fossa de conteúdo tóxico” foi entretanto divulgado e inclui o relato da mulher sobre o que aconteceu na festa.

“Foi levada para um quarto privado onde foi violada por um utilizador que lhe dizia para se virar de costas, de modo a que pudesse fazê-lo por trás, enquanto os outros utilizadores viam pela janela — isto tudo enquanto outro utilizador estava no quarto, assistia e passava uma garrafa de vodka", diz o relatório. Este inclui um vídeo do momento em que é passada a vodka entre utilizadores e ouve-se um deles dizer "vais precisar de mais disto".

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Segundo a organização, "o ato sexual não foi consentido” e o relato da mulher mostra o impacto que teve, apesar de ter acontecido no mundo virtual.

“Aconteceu de forma tão rápida que fiquei num estado de dissociação. Uma parte do meu cérebro pensava ‘o que raio está a acontecer’, outra parte pensava que não era um corpo real, enquanto outra pensava que aquilo era algo importante para a investigação”, descreveu. A investigadora disse ainda que sentiu os seus dispositivos de controlo a vibrar em resposta às sensações que o avatar estava a experimentar online.

O episódio de abuso sexual no Horizon Worlds (criado em dezembro para maiores de 18 anos e apenas nos Estados Unidos e Canadá) não é novo — uma outra mulher já tinha sido vítima de uma “violação em grupo” no mesmo espaço de metaverso — e é o reflexo do comportamento no mundo virtual, tal como era objetivo do estudo da investigadora que relatou o abuso.

“Há um sentido de proteção do próprio agressor, que acredita que isto não terá consequências, que não poderá ser identificado, enquanto a vítima é deixada numa situação de grande vulnerabilidade", refere a especialista nas áreas psicossocial e forense, Madalena Sofia Oliveira, à CNN Portugal.