Esta quarta-feira, 7 de maio, é o primeiro dia de Conclave. Os cardeais eleitores já se reuniram todos na Capela Sistina, no Vaticano, para dar início às reuniões sobre quem será o próximo Papa, e há um nome na lista que pode vir a surpreender. Falamos de José Tolentino Mendonça, cardeal madeirense de 59 anos que até já foi apontado pelos jornais italianos como um dos favoritos ao lugar de Papa, depois da morte de Francisco a 21 de abril. 

Do esparguete ao borrego, o que comem os cardeais eleitores durante o Conclave?
Do esparguete ao borrego, o que comem os cardeais eleitores durante o Conclave?
Ver artigo

Esta é uma altura em que 135 cardeais se reúnem fechados e sem acesso a qualquer tipo de informação. O objetivo é não serem manipulados a escolher um nome, tendo assim a liberdade de se conhecerem uns aos outros para elegerem, conforme a sua própria opinião, o próximo Sumo Pontífice. O Conclave tanto pode demorar um dia como vários, e normalmente são feitas duas votações de manhã e duas à tarde. Se um dos candidatos tiver dois terços dos votos, o fumo da Capela sairá branco, seguido de um “Habemus Papa”, mas se não existir consenso, o fumo sairá preto e as votações retomam. 

Este ano, serão quatro os cardeais portugueses que vão fazer parte do Conclave: António Marto, Américo Aguiar, Manuel Clemente e Tolentino de Mendonça, este último sendo então o favorito a Papa dos lusófonos. Nascido no Funchal, na Madeira, a 15 de dezembro de 1965, foi logo aos 9 anos que entrou no Seminário do Funchal, iniciando lá os seus estudos em Teologia. "A vocação religiosa esteve presente desde muito cedo, não sei de onde vem, mas sentimos um apelo que é um pouco inexplicável, mas desde cedo o religioso foi uma forma de habitar o mundo”, disse em entrevista ao “Expresso”.

Em 1990 acabou por ser ordenado padre pela Diocese do Funchal, segundo o “Diário de Notícias”, sendo que dois anos depois concluiu o seu mestrado em Ciências Bíblicas. Em 2004, doutorou-se em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, onde inclusive lecionou enquanto vivia em Lisboa, e foi em 2010 que se tornou reitor da Capela do Rato. Ao mesmo tempo, continuava a sua carreira de docente universitário, tendo sido vice-reitor da Católica, e em 2011 seguiu então para Roma, onde ainda se encontra nos dias de hoje. Mas e além disto, quem é José Tolentino Mendonça?

1. É o “Cardeal Poeta” do Vaticano

josé tolentino mendonça
josé tolentino mendonça créditos: Instagram

Ainda dentro da sua faceta católica, José Tolentino Mendonça foi convidado por Bento XIV para ir para Roma, nomeando-o consultor do Conselho Pontifício para a Cultura. Sendo ele poeta, ensaísta, dramaturgo, académico e teólogo, não havia melhor pessoa a escolher, e o cardeal português começa assim o seu percurso em Roma. No entanto, foi em 2018 que viu a sua vida mudar, quando o Papa Francisco o escolheu para pregar os exercícios espirituais para a Cúria Romana. Mais tarde, nomeou-o Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana. 

Uma coisa levou à outra e, entre vários progressos na sua carreira, como tendo passado a morar no Vaticano, José Tolentino Mendonça foi proclamado cardeal pelo Papa Francisco em 2019. “Tu és poesia”, disse-lhe o Papa Francisco, segundo a “Flash!”. Desde esse momento que o cardeal português passou a ser conhecido como o “Cardeal Poeta” no Vaticano, devido à sua paixão pela escrita e poesia

2. Conquistou o Prémio Pessoa em 2023

josé tolentino mendonça
josé tolentino mendonça créditos: Instagram

E por falar em paixão, a verdade é que o amor é tão grande que José Tolentino Mendonça já publicou quase 50 obras (contando com diferentes edições do mesmo livro), a maioria sendo poemas, uma vez que, para ele, “a poesia é a arte de resistir ao seu tempo”, como se lê na sua página na Wook. Livros como “Esperar Contra Toda a Esperança”, “Um Deus Que Dança”, “Estação Central” e “A Estrada Branca” são todos da sua autoria, e já foram vários os prémios que conquistou com as suas obras. 

Entre eles estão o Prémio Cidade de Lisboa de Poesia, em 1998, o prémio italiano para obras ensaísticas Res Magnae, em 2015, o prestigiado Prémio Capri-San Michele, em 2017, o prémio Francisco de Sá de Miranda, em 2022, e, mais recentemente, o Prémio Pessoa, entregue pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em 2023. Este foi um prémio criado para homenagear em vida os portugueses que fizeram relevantes contribuições para o País, atribuído a pessoas com percursos particularmente marcantes.

Aquando da entrega do prémio, José Tolentino Mendonça recebeu também um cheque no valor de 60 mil euros, que indicou desde cedo que seria entregue na totalidade a uma instituição de solidariedade. A sua paixão pela poesia e pela Igreja vai além de qualquer valor monetário, e o cardeal português sempre se prontificou a ajudar o próximo, algo que foi também tido em conta na entrega do prémio. Também na escrita, José Tolentino Mendonça aventurou-se a escrever crónicas para o “Expresso”, com o nome de “Que Coisas São as Nuvens”. 

3. Tolentino é do Sport Lisboa e Benfica (e do Marítimo)

josé tolentino mendonça
josé tolentino mendonça créditos: Instagram / Bruno Carvalho

No entanto, as paixões do cardeal português não se focam apenas na poesia - ao que tudo indica, José Tolentino Mendonça também gosta de futebol, e pode ser que tenha uma surpresa já neste sábado, 10 de maio. Isto porque o cardeal é do Benfica, como já disse em várias entrevistas, e ao que parece costuma arranjar sempre tempo no Vaticano para assistir a alguns jogos. 

Ainda assim, na entrevista ao “Expresso”, disse ainda que não esquece a sua ilha, apoiando também o Marítimo. “Eu acompanho, sou do Marítimo e do Benfica. Quer dizer, eu sou do Benfica e fico triste quando o Benfica ganha ao Marítimo. O clube do coração é o Benfica, sofrer talvez seja excessivo, mas lamento sempre quando o Benfica perde e fico sempre feliz quando o Benfica ganha”, confessou. 

4. Casou Ricardo Araújo Pereira na “Igreja do Tolentino”

josé tolentino mendonça
josé tolentino mendonça créditos: Instagram / Bruno Carvalho

Apesar de o humorista português se considerar uma espécie de ateu, foi José Tolentino Mendonça que o casou com Maria José Areias. Isto aconteceu num “casamento misto”, onde uma pessoa católica acaba por casar com alguém que não acredita na palavra de Deus, e o escolhido para fazer a cerimónia foi o cardeal português. 

“Não é a Igreja do César das Neves [aquela em que me revejo]. É na Igreja do Padre Tolentino”, disse o humorista numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro. Os dois já se conhecem desde os tempos em que José Tolentino Mendonça era professor na Universidade Católica, e desde cedo que Ricardo Araújo Pereira percebeu que o cardeal era um tipo de crente que acreditava também no humor. No entanto, algo que o humorista também referiu foi que José Tolentino Mendonça nunca fez campanha para ser eleito Papa. 

“Lembro-me de que estávamos na Capela Sistina e lá há uma porta para a Sala das Lágrimas, que é chamada assim porque é o sítio para onde o Papa recém-eleito vai vestir-se assim que sabe que é Papa. E o padre Tolentino disse, com aquele tom tranquilo dele: ‘É para ali que vai o ser humano que tem o azar de ser escolhido”, revelou à Comunidade Cultura e Arte, entre risos. Contudo, como no filme “Conclave”, às vezes quem muito deseja, raramente o é. Uma vez que não é algo que o cardeal considera, será esta a hipótese de José Tolentino Mendonça?