Todos os anos, é nos meses de março e outubro que alguns países do Mundo atrasam ou adiantam os seus relógios devido ao início dos solstícios de verão e de inverno. Em Portugal, esta regra não é exceção (por enquanto, uma vez que o primeiro-ministro espanhol afirmou que iria apresentar uma proposta em Bruxelas para acabar com estas mudanças), e foi durante a madrugada de domingo, 26 de outubro, que isso efetivamente aconteceu: o País dormiu uma hora a mais do que o normal, e com isto entrou assim oficialmente no horário de inverno.
No entanto, cada vez que isto acontece, há quem se queixe que não dormiu bem, que desregulou os sonos e que até se sente mais irritado por ter esta hora a mais (ou, no verão, a menos). E como é que a diferença de apenas uma hora afeta a nossa qualidade de sono? Na verdade, vai sempre depender de pessoa para pessoa, mas há dois grupos que se sentem sempre mais afetados: os jovens e os idosos.
"Estas são pessoas que têm um registo e o rigor ao horário maior, que têm uma rotina muito mais estabelecida e, normalmente, as que sentem mais a mudança", começou por explicar Carolina de Freitas Nunes, psicóloga e neuropsicóloga, à MAGG.
"Isto acaba por, de alguma forma, gerar algumas alterações, principalmente nas horas de refeição e nas horas de deitar, mas que, normalmente, se recupera entre 2 a 7 dias", acrescentou. As consequências evidentes são muito mais psicológicas que físicas - aqui, podemos categorizar o cansaço físico que se sente por não ter dormido bem, por exemplo -, pelo que a mudança horária acaba por afetar o humor, a energia e, principalmente, a irritabilidade. "No fundo, eu gosto de explicar que é um pouco como um jet lag sem uma viagem", brincou a psicóloga.
Falando especificamente sobre o horário de inverno, Carolina de Freitas Nunes também explicou que o facto de anoitecer mais cedo acaba por influenciar não só o sono mas também outros fatores, uma vez que a exposição solar é uma peça-chave para o bem estar.
"Quando existe a diminuição desta exposição ao sol, há uma redução também da produção de alguns neurotransmissores que são importantes, que é o caso da dopamina e da serotonina, que estão ligados ao bem-estar. Portanto, como consequência, há uma sensação de cansaço, de menor prazer nas rotinas", começou por explicar.
"Outra questão que também podemos referir é o facto de, como o dia está mais curto e há mais escuridão, as pessoas tendem a socializar menos com o exterior. Socializando menos, acabam por ficar mais tristes", acrescentou. Desta forma, é importante perceber que a mudança da hora pode afetar mais do que apenas o relógio, influenciando também o nosso equilíbrio emocional e a forma como nos relacionamos com o ambiente.
Que estratégias podem minimizar os efeitos da mudança da hora?
De acordo com a psicóloga e neuropsicóloga, um dos fatores mais relevantes é tentar apanhar o máximo de horas possíveis ao sol, nomeadamente entre aqueles dois a sete dias de intervalo de adaptação. "O que nós aconselhamos para minimizar o impacto desta diferença, embora seja só uma hora, é, por exemplo, tentar expor-se o máximo possível à luz diária, aos raios ultravioletas, ao sol e à luz", disse, acrescentando que a tentativa de manter todas as tarefas dentro dos horários que já tinham é também muito importante.
"Durante o dia, manter os horários dentro das horas deles. Ou seja, mesmo tendo alterada a hora, manter o jantar, por exemplo, às oito da noite, mesmo que não tenham fome. E o horário de deitar também, não esperar o sono chegar para nos irmos deitar, além do normal como manter a atividade física e evitar o excesso de álcool e cafeína", disse.
Já para quem tem sempre muitas dificuldades em adormecer ou a acordar, a grande estratégia passa por reduzir a estimulação excessiva à noite - algo que tem de ser feito não só nos períodos desta mudança horária como também nos restantes meses.
"Principalmente reduzir as luzes, os telemóveis, mais os ecrãs dos tablets e telemóveis do que propriamente a televisão. Uma vez que as redes sociais, onde as pessoas pesquisam muito à noite, têm ali uma hiperestimulação no cérebro, isso faz com que depois dificilmente adormeçam. A mudança do tom e da cor do ecrã, que fica muito mais brilhante, também afeta diretamente o nosso funcionamento cerebral, e é importante reduzir ao máximo", rematou Carolina de Freitas Nunes.