Já alguma vez desejou esquecer um desgosto amoroso ou uma situação traumática? E um momento embaraçoso ou uma memória menos boa? A ciência descobriu que existe uma maneira de aliviar a dor de memórias negativas. Não é muito aconselhável, mas pode fazê-lo — de acordo com um artigo da revista "The Cut", é possível reduzir a dor e a mágoa de uma rejeição, quer amorosa, quer social. Como? Através de simples analgésicos.

A conclusão é de vários estudos que foram publicados nos últimos anos. Uma investigação realizada por cientistas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, em 2011, consistiu em dar analgésicos e um placebo (um produto farmacêutico com microcristais de celulose) a voluntários que sofreram rejeições sociais, durante três semanas.

A experiência realizou-se duas vezes, com dois grupos diferentes de participantes. As conclusões foram as mesmas em ambos casos: sem saberem se estavam a tomar analgésicos ou um placebo, os voluntários que tomaram este primeiro sentiram melhorias face às suas rejeições.

Outra maneira de fazer esquecer memórias dolorosas é através de propranolol, um medicamento que ajuda a baixar a pressão sanguínea. Num estudo publicado pela "Discover Magazine", em 2009, uma mulher que sofria de stresse pós-traumático conseguiu esquecer a dor que sentia sempre que se lembrava de um grave acidente de viação. A situação traumática aconteceu em 2002 e a participação num estudo inovador até então no ano seguinte.

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"Ela tomou uma dose baixa de uma de propranolol. Depois ouviu uma recriação gravada do seu acidente de carro. Ela já tinha revivido aquele dia mil vezes. A diferença é que, desta vez, o medicamento rompeu o elo entre a sua memória factual e sua memória emocional", pode ler-se no artigo. Desta forma, a paciente conseguia lembrar-se do acidente, mas não se sentia traumatizada.

Mas apagar memórias não é aconselhável. De acordo com o estudo "Beyond Therapy: Biotechnology and the Pursuit of Happiness", citado pelo site "How We Get to Next", existem três motivos para não recorrer a estes métodos.

  1. Arrisca-se a fazer com que atos vergonhosos pareçam menos vergonhosos, ou atos terríveis menos terríveis, do que eles na realidade são;
  2. Ter memórias verdadeiras não é simplesmente uma questão pessoal, também faz parte da sociedade em que vivemos;
  3. A memória é intrigante e fundamental para quem somos como indivíduos e como sociedade. É muito difícil de definir.

Nesse mesmo site é relatada uma situação em que um rapaz decidiu tomar comprimidos, de forma alternada, para apagar a memória do fim do seu relacionamento amoroso. Conseguiu e voltou a namorar, mas quando quis recordar a sua relação anterior, não conseguiu e teve que pedir ajuda dos amigos e vasculhar fotografias antigas — tal como em "O Despertar da Mente".